Pior da crise nos EUA está por vir; próximo presidente pode perder metade do mandato envolto em tensão social
O QUE PODE ser pior que o final do governo de George Bush?
Colapso financeiro, desemprego crescente, renda cadente, desigualdade social rampante, mentiras políticas, violação de direitos civis, desprestígio internacional, guerras irresolutas, enorme aumento da dívida pública, escárnio público da figura presidencial e o mais baixo e mais duradouro nível de impopularidade do presidente desde que tais pesquisas começaram a ser feitas, faz mais ou menos 70 anos. A lista de reveses poderia ocupar a coluna.
Governantes e administradores que herdam a terra arrasada talvez gostem de se encorajar com a idéia de que "do chão, não se passa", embora outro clichê reze que, abaixo da terra, há o inferno. A inépcia de George Bush parece de fato quase incomparável, mas também é extraordinário o nível a que baixaram as expectativas em relação a seu governo. O próximo presidente, porém, vai assumir o governo com uma conta alta de promessas e enormes restos a pagar em termos de problemas econômicos e sociais.
O confuso e bananeiro sistema de votação americano impede especulações sobre o partido vitorioso, nem a dimensão de seu sucesso. Mas se pode especular razoavelmente que, no caso da eleição de Barack Obama, tanto as esperanças como as cobranças de seus opositores serão bem maiores do que no caso de vitória de John McCain.
Nem se trata aqui das promessas de "refundação" do pacto americano, que transpareceu tantas vezes nos discursos de Obama, os quais, na oratória, na entonação e nos temas soavam algo proféticos. Também não se trata dos planos de reforma da saúde, nem do aumento de oportunidades educacionais, nem dos projetos de reformar a produção e o consumo de energia nos EUA.
O grosso da deterioração da economia dita "real" ainda está para vir, em 2009. O desemprego começa a crescer bem depois do início de recessões, e costuma durar um pouco além. Mas, desta vez, não se trata apenas de uma contração cíclica "comum". Os americanos perdem casas, poupanças de uma vida. Parece se encerrar o ciclo de duas décadas de endividamento pessoal e nacional. Muitos americanos perderão empregos; outros terão de liquidar dívidas e recompor a duras penas o patrimônio, a poupança da aposentadoria e a da educação dos filhos.
A economia americana é extraordinária e até excessivamente flexível. Os EUA têm os melhores centros de pesquisa e universidades, recrutam os melhores cérebros do planeta e ainda dispõem das maiores e mais inovadoras empresas. Mas tais condições são promissoras quando se pensa no médio prazo (um termo presidencial inteiro). No curto prazo, as condições econômicas e políticas serão duras. As demandas serão grandes, e a tensão será ainda maior num período de polarização social, pois é forte a ira popular ou populista contra "ricos" e "gatos gordos de Wall Street". No caso de um governo Obama, tal tensão pode ser maior.
A crise financeira ainda não terminou -a finança ainda sofrerá o rebote da crise na economia real. O humor social vai piorar. Até as condições de financiamento externo da economia americana tendem a piorar. Para Barack Obama ou John McCain, o melhor já passou.
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
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