Nos próximos meses teremos uma idéia mais clara dos efeitos da redução do crédito sobre a atividade econômica
O MOMENTO mais grave da crise financeira que tomou conta do mundo pode ter sido alcançado na primeira quinzena deste mês. Os mercados chegaram à beira de um colapso em todos os seus segmentos, na medida em que ocorria uma verdadeira corrida pela compra da moeda norte-americana. Naqueles dias turbulentos e irracionais, a crise passou a adicionar um componente novo via mercados de câmbio e da dívida soberana nas economias emergentes como o Brasil.
O mercado, que vivia as tensões decorrentes da queda das Bolsas mundiais e da paralisia dos mercados de crédito no Primeiro Mundo, sofreu um novo abalo com a queda das cotações das moedas em relação ao dólar. A crise de liquidez nos mercados financeiros ganhou novas cores devido à grande movimentação de recursos em direção ao mercado de títulos públicos americano. Nós, no Brasil, sentimos esse movimento de forma clara, e o medo da inflação voltou a rondar nosso inconsciente.
Alguns países chegaram, inclusive, a aumentar os juros internos na vã tentativa de estabilizar a taxa de câmbio. Felizmente, a maioria dos bancos centrais no mundo emergente manteve a calma, trancou os dentes e deixou a questão da inflação para ser enfrentada depois. Até porque, a contração interna de crédito por conta da grande insegurança nos mercados seria suficiente para reduzir a demanda interna e evitar a espiral de preços. Rapidamente os líderes da grande cruzada internacional contra a depressão econômica identificaram esse novo front e tomaram medidas agressivas para enfrentar o novo desafio. O FMI (Fundo Monetário Internacional) criou linhas de financiamento emergencial para as nações mais ameaçadas, e o Fed (o banco central dos Estados Unidos) estendeu para alguns países suas operações de "swap" de dólar. São medidas corretas e eficientes para enfrentar esse novo foco de turbulência em um mundo já abalado por uma crise financeira de proporções gigantescas.
O Brasil recebeu o apoio de US$ 30 bilhões em um momento em que o Banco Central conduzia de forma agressiva suas operações para acalmar um mercado à beira de um ataque de nervos. Quando escrevo esta coluna, são claros os sinais de que a taxa de câmbio do real contra o dólar pode estar se estabilizando na faixa de R$ 2 e alguns centavos. Esse nível me parece adequado para enfrentar a queda das cotações de nossos principais produtos de exportação sem causar danos definitivos ao controle da inflação. Certamente, a inflação vai ficar acima do centro da meta em 2009, sem, entretanto, superar o intervalo de segurança. O Copom (Comitê de Política Monetária) foi perfeito ao decidir manter em 13,75% ao ano a taxa Selic em sua reunião desta semana e, principalmente, ao evitar declarações agressivas no sentido de poder voltar a subir os juros em futuro próximo. O mercado tem um grande respeito por nossa autoridade monetária e o Banco Central não precisa desse tipo de reforço, que apenas revela insegurança. Nos próximos meses teremos uma idéia mais clara dos efeitos da redução do crédito bancário sobre a atividade econômica. Até lá, vai haver um choque entre índices de inflação mais elevados e números bem mais modestos sobre consumo e investimento.
Será preciso sangue-frio e convicções sólidas para enfrentar esse período. Certamente não faltarão falcões a pedir o aumento dos juros e a pregar dias terríveis no campo da inflação. Mas a cautela do Copom me parece a melhor posição para enfrentar os próximos meses.
sábado, 1 de novembro de 2008
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