terça-feira, 30 de setembro de 2008

CRISE AMERICANA E BRASIL

Crise pode afetar projetos de infra-estrutura e exportações, diz especialista

29/09 - 18:39 - Paula Leite, repórter Último Segundo

A crise nos mercados internacionais, que levou a Bovespa a fechar em queda de mais de 9% nesta segunda-feira e o dólar a subir 6%, pode afetar o financiamento externo, o que pode ter impacto em grandes projetos de infra-estrutura, e as exportações brasileiras, que podem sofrer com uma menor demanda por parte dos Estados Unidos. A opinião é do professor André Biancareli, do Instituto de Economia da Unicamp.

Para o especialista, o efeito no Brasil da crise que começou nos Estados Unidos tem sido brando. "Em outros momentos uma crise dessas proporções teria levado o dólar a níveis ainda maiores", diz Biancareli. "O Brasil está menos vulnerável do que na segunda metade dos anos 90, por exemplo", diz ele.

O economista afirma, porém, que a aversão ao risco dos investidores internacionais, que devem cada vez mais procurar investir em ativos mais seguros, como os em dólar, euro e iene, deve fazer com que haja menos financiamento externo ao Brasil nos próximos meses ou até anos. Com isso, diz Biancareli, pode haver problemas para financiar grandes projetos de infra-estrutura.

Exportações

O economista diz que outro setor que deve sentir o peso da crise internacional é o de exportação, já que os Estados Unidos vinham sendo o grande consumidor mundial, financiando a "gastança" com déficits em conta corrente. Com a crise, o País deve reduzir sua demanda de produtos internacionais e o comércio internacional em geral deve sofrer, diz o professor, o que acabará por atingir o Brasil.

"Isso pode ter impacto na economia em geral, já que as exportações têm sido um dos importantes motores do crescimento do PIB", diz Biancareli.

Crédito

Para Biancareli, a aversão ao risco dos mercados deve encarecer o crédito em geral, mesmo no Brasil, apesar de os bancos locais não estarem expostos às perdas do chamado subprime. "O crescimento neste ano já está dado, vai ser alto, mas no ano que vem deve ser um pouco menor", diz ele.

Marcelo Gonella, professor da Universidade Anhembi Morumbi, também acredita em uma desaceleração "natural" na economia mundial e no Brasil. Para ele, o que aconteceu hoje nos mercados brasileiros foi um pânico sistêmico, causado pela falta de confiança dos investidores no governo Bush.

Para Gonella, deve haver menor liquidez no mercado mundial nos próximos meses, mas os mercados devem se tranquilizar após as eleições nos Estados Unidos. "O governo Bush está sem credibilidade junto ao Congresso, aos eleitores e principalmente junto ao mercado. Com a definição do próximo presidente, em novembro, não deve haver tanto pânico", diz ele.

Empresas brasileiras

Gonella acredita que, além das quedas nas Bolsas mundias por conta da não-aprovação do pacote de ajuda nos EUA, a Bolsa brasileira caiu também por conta das notícias de que empresas brasileiras perderam com a exposição a derivativos. A Sadia, por exemplo, disse na semana passada que perdeu R$ 760 milhões devido a apostas em instrumentos financeiros complexos.

"Isso não tem porque acontecer, as empresas não deveriam ter 'brincado' com esses derivativos", diz o especialista.

Nenhum comentário: