terça-feira, 23 de setembro de 2008

E' DURO SER BELA AOS 40


Excelente entrevista da Triatleta Fernanda Keller para Revista Veja confira:


A triatleta fala do árduo caminho em busca do corpo perfeito e sobre como a boa forma ajuda no combate às angústias próprias da idade.

Cristina Charão

Oscar Cabral

"O marco de 40 anos produz efeitos variados nas mulheres. No meu caso, acho que estou mais calma e que desenvolvi uma certa autocrítica"
Não é de hoje que a triatleta Fernanda Keller atrai olhares de cobiça masculina e inveja feminina. A novidade é que a bela esportista está prestes a se tornar uma quarentona, mas apenas na documentação. Aos 39 anos, Fernanda consegue manter um corpo que algumas garotas com metade de sua idade apenas sonham ter. Foi árduo o caminho para a conquista do corpo perfeito. Fernanda malha há mais de vinte anos, dedica várias horas do dia a isso e é rigorosa com a alimentação. Nesta entrevista, a atleta, que já chegou seis vezes em terceiro lugar no Ironman do Havaí, uma das provas mais desgastantes do planeta, conta que não existe milagre nessa área. Além de boa carga genética, para ter um corpo bonito é preciso enorme determinação. A um ano de atingir uma idade que aflige a maioria das mulheres, Fernanda diz que a boa forma física ajuda a enfrentar as angústias próprias do envelhecimento. Casada com um ex-modelo e sem filhos, Fernanda Keller falou a VEJA em seu escritório no Rio de Janeiro.

Veja – Daqui a um ano você completa 40 anos. Quais são as mudanças que estão ocorrendo com seu corpo?
Fernanda – Fisicamente, não identifico alterações importantes. Para falar a verdade, não acredito ter experimentado nenhuma mudança perceptível. Eu me sinto igual a quando tinha 30 anos.

Veja – Você tem celulite?
Fernanda – O esporte que eu faço é muito aeróbico. Estou o tempo todo queimando gordura. Não sobra muito tecido adiposo no corpo. Eu tenho mais ou menos 9% de gordura corporal, o que é muito pouco. Uma mulher que não pratica esporte tem mais que o dobro disso. Mas acho que, se pegar meu bumbum e apertar, talvez apareça um pouquinho. Por mais que eu corra, meu bumbum não some. Não tem jeito. Então, se eu esmagar meu bumbum, devo encontrar alguma coisa. Mas, olhando normalmente, com a roupa, com o short, não tenho. Mas se tiver uma, duas ou três celulites não tem problema. Não faz diferença nenhuma em minha vida. Não vou arrancar os cabelos por causa disso.

Veja – Você tem paranóia com isso? Fica se olhando no espelho o tempo todo?
Fernanda – Tenho paranóia com o peso. Tenho balança no banheiro e sempre me peso. Como toda mulher, tenho mania de controlar o peso, até para ver se bobeei no fim de semana. E também porque, se eu engordar, vou ter meu desempenho físico prejudicado.

Veja – Você tem poucas rugas para uma mulher de 39 anos. Já aplicou Botox?
Fernanda – Nunca apliquei. Mas por que você perguntou isso? Acha que estou precisando de Botox?

Veja – Não, você está bem.
Fernanda – Vou colocar Botox no dia em que eu for à dermatologista e ela sugerir a aplicação. Por enquanto, passo no rosto alguns preparados que a médica recomenda.

Veja – Você pinta os cabelos?
Fernanda – Não preciso. Não tenho cabelos brancos. Quando aparecem dois ou três fios brancos, vou correndo arrancar.

Veja – Se fisicamente você ainda não sentiu o passar dos anos, quais são as mudanças no campo emocional? Toda mulher tem seus temores nessa fase da vida.
Fernanda – O marco de 40 anos produz efeitos variados nas mulheres. Há aquelas que optam por mentir sobre a idade. Tirando a si próprias, não sei a quem querem enganar. Há outras que ficam um pouco deprimidas, achando que deixaram para trás o melhor da vida. Para complicar, percebem que o que já passou não foi tão bom quanto poderia ter sido. No meu caso, penso que o marco dos 40 anos, que estou para quebrar em breve, fez com que eu ficasse mais calma e desenvolvesse uma certa autocrítica.

Veja – Mais calma?
Fernanda – Não me sinto mais pressionada a sair a toda hora, a ir para a balada, a me desgastar à toa, a ter pressa para tudo. Acho que ter 40 anos é levar a vida mais na boa, sem muitos sobressaltos. Quando você tem 20 anos, fica dando cabeçada, comete muitos erros.

Veja – O que você chama de erro?
Fernanda – Talvez a palavra seja exagerada, mas é que, quando eu tinha 20 anos, queria ir a vinte festas. Hoje só vou a uma. E à melhor. Quando você tem 20 anos, treina feito um maluco, faz uma distância que não precisa fazer. Hoje eu faço o que é necessário. Acho que ter 40 anos é como ser uma águia, que fica voando e pega apenas a presa certa, sem precisar de muito esforço para fisgá-la. Posso dizer que estou na melhor fase de minha fase. Tenho uma carreira vitoriosa, um casamento feliz.

Veja – E a autocrítica?
Fernanda – Chamei de autocrítica, mas talvez seja mais adequado dizer que tomo cuidados adicionais que não tomava antes. Por exemplo: outro dia entrei numa loja para comprar um short. Era um modelo bem curtinho. Na parte de trás, ele tinha forma de saia. Quem me visse de costas ia pensar que eu estava usando uma minissaia minúscula. Mas era um short. As vendedoras da loja me elogiaram, disseram que poucas clientes tinham corpo para usar uma roupa daquela. Eu até pensei em comprar o shortinho. Mas aí lembrei que não tinha mais 20 anos. Seria um mico uma mulher de minha idade usar o shortinho. Desisti de comprar.

Veja – Essas provas no Havaí são um desfile de corpos bonitos e sarados. Ocorre muita paquera entre os atletas?
Fernanda – Claro que rola. Antes das provas os atletas são mais reservados, porque estão concentrados na disputa. Depois é outra história. Cansei de ver atleta bêbado, pulando em cima da mesa do bar, fazendo coreografias. Tem gente que depois vai para a praia de roupa e tudo. Aí pode acontecer de tudo. Não gosto dessas coisas rápidas. Tem sempre um mala que fica em cima, faz elogios, vem com aquela conversinha furada. Nunca caí nessa.

Veja – Seu escritório tem um quadro enorme com uma foto em que você aparece sem calcinha e vestindo apenas uma camiseta branca. Você tem orgulho em exibir um corpo tão sarado?
Fernanda – Claro que tenho orgulho do meu corpo. Adoro me olhar no espelho e me sentir bonita. Adoro quando as pessoas me elogiam. Tudo isso faz bem para a auto-estima da gente. Mas não me visto para chamar a atenção, para me exibir. Uso shortinhos e minissaias porque me sinto confortável com essas roupas. Além do mais, sou casada. E muito bem casada. Não quero me exibir para ninguém. Quanto à foto sem calcinha, a história não é bem assim. Fiz a fotografia para um anúncio publicitário. Eu estava de biquíni, mas a empresa resolveu tirar a parte de baixo com um programa de computador. Eu disse que tudo bem. O resultado final foi muito bonito. E nem precisei ficar pelada para isso.

Veja – É verdade que foi você quem mudou os maiôs usados pelas competidoras do Ironman do Havaí?
Fernanda – É verdade. Há uns dezesseis anos, apareci para competir com um maiô bem menor que o das concorrentes estrangeiras. Não era fio dental, mas ele tinha muito menos pano que o maiô das americanas e das européias. Claro, os homens e as mulheres gostaram. Os homens porque viam mais o corpo da mulher e as mulheres porque perceberam que podiam ser mais femininas. Os maiôs que as estrangeiras usavam eram horríveis. Pareciam um coador de café. Sabe quando sobra um monte de pano no bumbum? Eram assim. Você podia ser a mulher mais bem-feita de corpo do mundo que aquele traje lhe transformava num trapo. Eu não usaria aquilo de jeito nenhum. Meu maiô era feminino, bonito de ver no corpo da mulher. Depois que apareci com um maiô menor, a maioria das competidoras passou a usar um modelo parecido com o meu.

Veja – A sensualidade é um atrativo a mais no esporte?
Fernanda – Acho que até pode ser um atrativo, mas não é essa a razão que leva uma mulher a praticar determinado esporte. É, digamos, conseqüência. Essa discussão acaba se misturando com um julgamento que a platéia masculina faz das atletas ao eleger suas musas. Percebendo a atração que exercem, elas muitas vezes acabam se vestindo com roupas mais generosas. Pegue o caso da Anna Kournikova, no tênis. Ela sempre está muito bem arrumada na quadra, está sempre bonita, com roupas mais charmosas que as das outras atletas.

Veja – Nesse campo, as brasileiras, com seus uniformes miúdos no vôlei e no basquete, são imbatíveis?
Fernanda – As brasileiras são mais soltas, mais alegres, e isso se reflete na forma de se vestir. Não faz sentido uma atleta brasileira usar uma roupa idêntica à de atletas de um país europeu gelado. Nós somos mais espontâneas por natureza. Até no Brasil é possível observar isso. No Rio de Janeiro, que é a cidade do calor humano, da alegria, da praia, as pessoas se vestem de maneira mais despojada. Em São Paulo, que só tem escritório, é muito diferente. Até para tomar um sorvete em São Paulo você tem de botar um vestido comprido.

Veja – Você tem inveja de alguma mulher?
Fernanda – Inveja é uma palavra muito feia. Existem algumas mulheres que eu considero bonitas, como a Fernanda Tavares, a Malu Mader e a Luiza Brunet.

Veja – Qual a atividade física recomendada a quem quer entrar em forma no menor tempo possível?
Fernanda – A atividade que apresenta os melhores resultados, de forma mais rápida e consistente, é corrida. Correr emagrece o corpo por inteiro e ajuda a tonificar os músculos. Mas não é uma coisa mágica. Ficar com um corpo malhado exige muito suor e dedicação. Não é de uma hora para a outra que a pessoa vai ficar com o corpo que sonha. É por isso que muitas mulheres desistem. Elas entram em uma academia, treinam dois meses e, não satisfeitas com o resultado, desistem. Preferem fazer uma plástica, uma lipo. O problema é que, se você fizer uma lipo e der mole depois, volta rapidamente a ter o corpo que tinha antes da cirurgia.

Veja – Qual é a parte do corpo mais difícil de perder, que reage mais demoradamente aos treinamentos?
Fernanda – Infelizmente, para nós, mulheres, a parte mais difícil de perder é o bumbum, região do corpo que concentra maior quantidade de gordura. Ainda mais para as mulheres brasileiras, que são privilegiadas nesse quesito. Tem de malhar muito, correr, nadar, pedalar, fazer musculação, alimentar-se adequadamente.

Veja – Você é do tipo xiita com a alimentação?
Fernanda – Não sou xiita em relação à comida, porque senão ficaria doente. Como muito salada, legumes, verduras e grelhados.

Veja – Você é xiita, sim. Acabou de dizer que só encara comida light.
Fernanda – Não é assim. Eu como massa, sorvete, chocolate. Não faz parte da minha dieta de atleta, mas eu posso comer de tudo. Se sair para comer pizza e estiver com fome, chego a comer até três pedaços. Mas não faço isso com regularidade. Eu apenas evito exageros. Não sou aquela chata radical que não põe nada na boca. Mas não dá para negar que um dos segredos para ter um corpo bonito é se alimentar de forma equilibrada, comer mais verduras e menos gorduras, praticar um esporte.

Veja – Uma mulher que trabalha o dia inteiro, cuida de filhos, tem de resolver problemas da casa nem sempre consegue arranjar tempo para praticar esporte. O que fazer para resolver esse dilema?
Fernanda – É necessária uma dose de sacrifício. Não tem milagre. Um corpo bonito não cai do céu. As pessoas precisam replanejar a vida, encontrar um tempo para praticar esporte. Por que não acordar mais cedo para nadar, ir a uma academia ou caminhar? Por que não comer menos porcaria? É preciso ter determinação. Sei que é difícil, mas as mudanças serão muito positivas. Quem malha de manhã chega ao trabalho mais disposto. Tem mais força para enfrentar o dia.

Veja – De que você não gosta em um homem?
Fernanda – Eu não gosto de homens machistas e possessivos. Também não me imaginaria atraída pelos mais baixos. Não é necessário que tenha 2 metros, mas precisa ser grande. Meu marido, por exemplo, tem 1,87 metro de altura. Só que ninguém está autorizado a achar que eu ligo muito para aparência.

Veja – Como não? Você é casada com um ex-modelo...
Fernanda – Deixa eu me explicar melhor. Claro que a primeira coisa em que qualquer pessoa repara é a aparência. Que mulher não admira um homem bonito? Um amigo me apresentou o Sérgio, meu atual marido. O cara era o maior gato. Não vou olhar? Claro que vou. Depois nós nos conhecemos, e descobri que ele era uma pessoa incrível. Aí, sim, me apaixonei. O que eu quis dizer é que não vou ficar com alguém só por causa da aparência.

Veja – Cite três homens que você considera bonitos.
Fernanda – O Sérgio, o Sérgio e o Sérgio.

Veja – Ele não vale. Algum esportista, talvez?
Fernanda – Não sei dizer. Esportista é tão feio no Brasil.

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