O historiador Niall Ferguson, da Universidade de Harvard, que prepara para o mês que vem o lançamento de seu livro “The ascent of Money: a Financial History of the World” (“A ascensão do dinheiro: uma história financeira do mundo”), fez em seu blog uma análise das conseqüências geopolíticas da crise e concluiu que se deve hesitar sempre ao decretar o declínio e queda dos Estados Unidos: “A América já passou antes por crises financeiras desastrosas — não apenas a Grande Depressão, mas também a Grande Estagflação dos anos 1970 — e emergiu com sua posição geopolítica fortalecida.
Essas crises, por piores que tenham sido em casa, sempre tiveram os piores efeitos nos rivais da América”.
Ele lembra que até o momento os piores resultados de mercados de ações têm sido da China e da Rússia, “números que não são boas propagandas para os modelos de economia mais controlados pelo governo adotados por Pequim e Moscou”. Mas Ferguson admite que os Estados Unidos crescerão menos a partir de agora, e provavelmente a China se tornará a maior economia do mundo antes de 2027, prazo previsto pela Goldman Sachs em seu estudo sobre as economias emergentes dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China).
O historiador prevê também que, a exemplo do que aconteceu com a libra inglesa, o dólar poderá perder a propriedade de ser a única moeda de referência mundial. Também o sociólogo e historiador brasileiro Hélio Jaguaribe acha que “a emergência, da China como grande potência já está definida e se realizará com celeridade, na segunda década deste século, já deverá transcorrer sendo a China uma segunda potência mundial.
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
Compra de terras por estrangeiros e soberania - Revista Veja
Nos últimos quatro anos, o investimento externo no mercado imobiliário brasileiro cresceu 347%. Segundo um levantamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), há 4 milhões de hectares de terras na mão de estrangeiros (5,5 milhões, se forem consideradas as propriedades sem registro no órgão). O que, na calculadora, representa apenas 0,47% da área total do país, aos olhos de uma parcela do governo petista, é uma verdadeira invasão do território nacional.
A lei que rege a participação estrangeira em propriedades rurais é de 1971 e foi feita no espírito protecionista do regime militar. A regra, válida até hoje, estabelece que cidadãos de outros países podem ser donos de, no máximo, 5 000 hectares de terras. Dependendo do tamanho do município onde se encontra a propriedade, o limite pode ser ainda menor. Para empresas, a área não pode exceder 10 000 hectares.
Em algumas regiões, o agronegócio explodiu graças a essa nova figura jurídica. No oeste baiano, por exemplo, 20% da área agrícola é cultivada por grupos estrangeiros. "O interesse no exterior por terras brasileiras cresceu ainda mais com o recente aumento do preço dos alimentos", diz o especialista em direito agrário Márcio Mattos, de São Paulo.
Mas não é no oeste da Bahia, ou em outras regiões agrícolas, que reside a preocupação dos que vêem no avanço dos proprietários estrangeiros de terra uma ameaça à soberania nacional. A Amazônia é que é o problema. Volta e meia circulam boatos de que nações ricas têm planos de internacionalizar a Amazônia.
-como garantir que o estado brasileiro possa exercer sua soberania se os estrangeiros forem donos de grandes extensões do território? Soberania, numa definição ligeira, é a autoridade exclusiva que uma entidade política (o rei ou o estado republicano) tem sobre determinado território. A soberania pode ser interna, quando exerce o controle sobre o que ocorre dentro de suas fronteiras, ou externa, quando se refere à relação igualitária com outras entidades soberanas (ou seja, outros estados).
A soberania é um conceito tão maleável e relativo que, recentemente, dois países a usaram como justificativa para posições completamente opostas. Em agosto deste ano, o Exército da Geórgia, no Cáucaso, atacou milícias separatistas dentro do seu território, em uma tentativa legítima de recuperar a soberania perdida. Em resposta, a Rússia invadiu o país, com o argumento de que exercia o seu direito – soberano – de proteger os cidadãos russos que residem na Ossétia do Sul, a região separatista em questão.Ou seja, o estado russo teria o direito de usar a força para defender seu povo, onde quer que ele esteja. "Por essa lógica, o Exército brasileiro poderia entrar no Paraguai para proteger os brasiguaios, cujas fazendas estão sendo queimadas e saqueadas por sem-terra daquele país", diz o historiador Marco Antonio Villa, de São Paulo.
o fato é que a propriedade privada, esteja ou não na mão de estrangeiros, não é uma ameaça à soberania de um país – desde que o estado seja capaz de fiscalizar e controlar o seu uso. Na Amazônia, onde não se consegue coibir o tráfico de drogas nem obrigar os brasileiros natos a cumprir as leis ambientais, o que existe é um caso de omissão total no exercício da soberania por parte do estado.
Para mascarar a realidade, usa-se o fantasma, eivado de ideologia, da "ameaça estrangeira". "É mais fácil evocar a defesa da soberania, um termo com apelo popular que costuma ser associado ao sentimento de patriotismo, do que reconhecer a incompetência estatal para controlar o que acontece dentro do seu território", diz o paulista Fernando do Couto Henriques Júnior, doutor em direito internacional pela Universidade de São Paulo com uma tese sobre soberania.
A lei que rege a participação estrangeira em propriedades rurais é de 1971 e foi feita no espírito protecionista do regime militar. A regra, válida até hoje, estabelece que cidadãos de outros países podem ser donos de, no máximo, 5 000 hectares de terras. Dependendo do tamanho do município onde se encontra a propriedade, o limite pode ser ainda menor. Para empresas, a área não pode exceder 10 000 hectares.
Em algumas regiões, o agronegócio explodiu graças a essa nova figura jurídica. No oeste baiano, por exemplo, 20% da área agrícola é cultivada por grupos estrangeiros. "O interesse no exterior por terras brasileiras cresceu ainda mais com o recente aumento do preço dos alimentos", diz o especialista em direito agrário Márcio Mattos, de São Paulo.
Mas não é no oeste da Bahia, ou em outras regiões agrícolas, que reside a preocupação dos que vêem no avanço dos proprietários estrangeiros de terra uma ameaça à soberania nacional. A Amazônia é que é o problema. Volta e meia circulam boatos de que nações ricas têm planos de internacionalizar a Amazônia.
-como garantir que o estado brasileiro possa exercer sua soberania se os estrangeiros forem donos de grandes extensões do território? Soberania, numa definição ligeira, é a autoridade exclusiva que uma entidade política (o rei ou o estado republicano) tem sobre determinado território. A soberania pode ser interna, quando exerce o controle sobre o que ocorre dentro de suas fronteiras, ou externa, quando se refere à relação igualitária com outras entidades soberanas (ou seja, outros estados).
A soberania é um conceito tão maleável e relativo que, recentemente, dois países a usaram como justificativa para posições completamente opostas. Em agosto deste ano, o Exército da Geórgia, no Cáucaso, atacou milícias separatistas dentro do seu território, em uma tentativa legítima de recuperar a soberania perdida. Em resposta, a Rússia invadiu o país, com o argumento de que exercia o seu direito – soberano – de proteger os cidadãos russos que residem na Ossétia do Sul, a região separatista em questão.Ou seja, o estado russo teria o direito de usar a força para defender seu povo, onde quer que ele esteja. "Por essa lógica, o Exército brasileiro poderia entrar no Paraguai para proteger os brasiguaios, cujas fazendas estão sendo queimadas e saqueadas por sem-terra daquele país", diz o historiador Marco Antonio Villa, de São Paulo.
o fato é que a propriedade privada, esteja ou não na mão de estrangeiros, não é uma ameaça à soberania de um país – desde que o estado seja capaz de fiscalizar e controlar o seu uso. Na Amazônia, onde não se consegue coibir o tráfico de drogas nem obrigar os brasileiros natos a cumprir as leis ambientais, o que existe é um caso de omissão total no exercício da soberania por parte do estado.
Para mascarar a realidade, usa-se o fantasma, eivado de ideologia, da "ameaça estrangeira". "É mais fácil evocar a defesa da soberania, um termo com apelo popular que costuma ser associado ao sentimento de patriotismo, do que reconhecer a incompetência estatal para controlar o que acontece dentro do seu território", diz o paulista Fernando do Couto Henriques Júnior, doutor em direito internacional pela Universidade de São Paulo com uma tese sobre soberania.
Trecho Entrevista do francês Luc Ferry
O francês Luc Ferry, de 57 anos, é um caso raro de filósofo que transforma seus livros em best-sellers. Sua obra Aprender a Viver, lançada em 2006, vendeu 700 000 exemplares, 40 000 deles no Brasil. Seu segredo é combinar formação acadêmica sólida com um texto leve e bem-humorado. Ferry se alinha com o chamado humanismo secular.
- Há um descontentamento generalizado no mundo moderno. A sociedade se interessa mais pelos meios em si do que pelos fins. Um olhar sobre o Iluminismo ajuda a compreender esse novo mundo. As mentes mais brilhantes do século XVIII buscavam nas ciências e nas artes emancipar a humanidade do obscurantismo da Idade Média. Tudo era feito com o objetivo de, no fim, alcançar a liberdade e a felicidade. Hoje, o movimento das sociedades não se inspira em ideais superiores em termos de civilização. A sociedade se movimenta no sentido de estabelecer a concorrência acirrada entre todos os indivíduos, sem objetivos finais claros. A história não se move pela aspiração a um mundo melhor, mas pela ação mecânica da competição. O êxito pessoal é o que importa. Precisamos ter poder, dinheiro, um carro novo, uma mulher nova, os filhos mais bonitos, tudo para conseguir o reconhecimento alheio e nos sentir superiores aos outros. Como dizia o filósofo romano Sêneca, enquanto esperamos viver, a vida passa rapidamente.
- Desde sempre o ser humano vive seus conflitos e tenta gerenciá-los da forma que pode. Hoje, vivemos na era do hiperconsumo. O que nos dá a sensação de progredir, de ser felizes, pelo menos momentanea-mente, é comprar, comprar e comprar. Claro que isso não basta. A lógica contemporânea aumenta a insatisfação e nos incute medos cotidianos e recorrentes.
- Nós, ocidentais, temos medo de tudo. Da velocidade, do sexo, do álcool, do tabaco, da carne vermelha, de frango, da Europa, do efeito estufa, da globalização, das notas escolares das crianças, e por aí vai.O medo é uma das paixões dominantes das sociedades democráticas. Ele não existia dessa forma no Iluminismo. Quando eu era criança, era feio ter medo. Superá-lo era um dos marcos da chegada à idade adulta. Hoje, ter medo não implica culpa. É através do medo que os movimentos ecológicos radicais, por exemplo, se impõem.
-Qualquer ameaça, como o terrorismo, o aquecimento global ou a gripe aviária, desperta uma neurose global. A angústia que essa histeria causa individualmente é mais prejudicial do que a ameaça a que ela se contrapõe.
- "A sociedade atual não se inspira em ideais superiores em termos de civilização, como no Iluminismo. O que nos dá a sensação de progredir é comprar, comprar, comprar. Essa lógica apenas aumenta nossa insatisfação"
- Há um descontentamento generalizado no mundo moderno. A sociedade se interessa mais pelos meios em si do que pelos fins. Um olhar sobre o Iluminismo ajuda a compreender esse novo mundo. As mentes mais brilhantes do século XVIII buscavam nas ciências e nas artes emancipar a humanidade do obscurantismo da Idade Média. Tudo era feito com o objetivo de, no fim, alcançar a liberdade e a felicidade. Hoje, o movimento das sociedades não se inspira em ideais superiores em termos de civilização. A sociedade se movimenta no sentido de estabelecer a concorrência acirrada entre todos os indivíduos, sem objetivos finais claros. A história não se move pela aspiração a um mundo melhor, mas pela ação mecânica da competição. O êxito pessoal é o que importa. Precisamos ter poder, dinheiro, um carro novo, uma mulher nova, os filhos mais bonitos, tudo para conseguir o reconhecimento alheio e nos sentir superiores aos outros. Como dizia o filósofo romano Sêneca, enquanto esperamos viver, a vida passa rapidamente.
- Desde sempre o ser humano vive seus conflitos e tenta gerenciá-los da forma que pode. Hoje, vivemos na era do hiperconsumo. O que nos dá a sensação de progredir, de ser felizes, pelo menos momentanea-mente, é comprar, comprar e comprar. Claro que isso não basta. A lógica contemporânea aumenta a insatisfação e nos incute medos cotidianos e recorrentes.
- Nós, ocidentais, temos medo de tudo. Da velocidade, do sexo, do álcool, do tabaco, da carne vermelha, de frango, da Europa, do efeito estufa, da globalização, das notas escolares das crianças, e por aí vai.O medo é uma das paixões dominantes das sociedades democráticas. Ele não existia dessa forma no Iluminismo. Quando eu era criança, era feio ter medo. Superá-lo era um dos marcos da chegada à idade adulta. Hoje, ter medo não implica culpa. É através do medo que os movimentos ecológicos radicais, por exemplo, se impõem.
-Qualquer ameaça, como o terrorismo, o aquecimento global ou a gripe aviária, desperta uma neurose global. A angústia que essa histeria causa individualmente é mais prejudicial do que a ameaça a que ela se contrapõe.
- "A sociedade atual não se inspira em ideais superiores em termos de civilização, como no Iluminismo. O que nos dá a sensação de progredir é comprar, comprar, comprar. Essa lógica apenas aumenta nossa insatisfação"
terça-feira, 21 de outubro de 2008
ATLETAS X CALORIAS
Atletas 'queimam mais calorias' mesmo em repouso
Da BBC Brasil
Atletas que têm um bom preparo físico queimam mais calorias do que quem não faz exercícios regularmente mesmo quando estão descansando, segundo um estudo publicado pela revista acadêmica Proceedings of the National Academy of Sciences.
Isso porque, segundo pesquisadores da Yale University, em Connecticut, nos Estados Unidos, quem passa por treinamento intensivo de resistência têm um metabolismo muscular mais acelerado do que as pessoas que não têm um bom preparo físico mesmo quando não estão se exercitando.
Os pesquisadores compararam os níveis de oxidação e de síntese de ATP (trifosfato de adenosina, molécula responsável por armazenar energia nas células) nos músculos da panturrilha de corredores de longa distância e de pessoas sedentárias durante períodos em que os dois grupos estavam de repouso.
Embora a oxidação tenha se mostrado em média 54% maior nos atletas, as taxas de síntese de ATP durante o descanso eram parecidas nos dois grupos.
A oxidação é o processo pelo qual as mitocôndrias, cuja principal função é a geração de energia por meio das moléculas de ATP, consomem material que será transformado em energia - processo também conhecido como a queima de calorias.
O resultado é que, apesar de não produzirem mais energia nos momentos de descanso, os atletas queimam mais calorias. Segundo os pesquisadores, o estudo indica que os músculos dos atletas convertem constantemente mais energia em calor do que os de indivíduos sedentários.
O experimento contou com a participação de oito voluntários que não fazem exercícios físicos regularmente e de sete atletas. A comparação foi feita levando em conta a idade, o peso e a altura dos participantes.
Os resultados também sugerem que exercícios têm ainda mais benefícios contra o diabetes do que se pensava anteriormente. O treinamento aeróbico intenso é capaz de reverter a resistência à insulina, um fator importante para o desenvolvimento de diabetes.
Segundo os pesquisadores, a nova pesquisa indica que a dissociação da oxidação e da produção de ATP pode representar uma outra forma pela qual o exercício aumenta a sensibilidade à insulina e a queima de calorias em excesso.
BBC Brasil
Da BBC Brasil
Atletas que têm um bom preparo físico queimam mais calorias do que quem não faz exercícios regularmente mesmo quando estão descansando, segundo um estudo publicado pela revista acadêmica Proceedings of the National Academy of Sciences.
Isso porque, segundo pesquisadores da Yale University, em Connecticut, nos Estados Unidos, quem passa por treinamento intensivo de resistência têm um metabolismo muscular mais acelerado do que as pessoas que não têm um bom preparo físico mesmo quando não estão se exercitando.
Os pesquisadores compararam os níveis de oxidação e de síntese de ATP (trifosfato de adenosina, molécula responsável por armazenar energia nas células) nos músculos da panturrilha de corredores de longa distância e de pessoas sedentárias durante períodos em que os dois grupos estavam de repouso.
Embora a oxidação tenha se mostrado em média 54% maior nos atletas, as taxas de síntese de ATP durante o descanso eram parecidas nos dois grupos.
A oxidação é o processo pelo qual as mitocôndrias, cuja principal função é a geração de energia por meio das moléculas de ATP, consomem material que será transformado em energia - processo também conhecido como a queima de calorias.
O resultado é que, apesar de não produzirem mais energia nos momentos de descanso, os atletas queimam mais calorias. Segundo os pesquisadores, o estudo indica que os músculos dos atletas convertem constantemente mais energia em calor do que os de indivíduos sedentários.
O experimento contou com a participação de oito voluntários que não fazem exercícios físicos regularmente e de sete atletas. A comparação foi feita levando em conta a idade, o peso e a altura dos participantes.
Os resultados também sugerem que exercícios têm ainda mais benefícios contra o diabetes do que se pensava anteriormente. O treinamento aeróbico intenso é capaz de reverter a resistência à insulina, um fator importante para o desenvolvimento de diabetes.
Segundo os pesquisadores, a nova pesquisa indica que a dissociação da oxidação e da produção de ATP pode representar uma outra forma pela qual o exercício aumenta a sensibilidade à insulina e a queima de calorias em excesso.
BBC Brasil
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Jacu Coffee, o nosso Kopi Luwak
Como é que começou esta história do jacu coffee?
A fazenda é cercada por várias matas, mata virgem e o jacu começou a migrar para comer o café e ia começar a dar prejuízo. Aí a gente chegou a pedir autorização para com eses jacus. Daí veio a notícia do café da Sumatra. Dái a a gente pegou o café de jacu fez um teste deu certo.
Henrique Sloper de Araújo, formado nos Estados Unidos em comércio exterior é o dono da fazenda Camocim.
“Qual a diferença do jacu coffee para o café da Sumatra?”, pergunta o repórter.
“A diferença básica é o processo do animal. O Sumatra ele faz uma digestão mais lenta, é um mamífero. O jacu ele faz a digestão muito mais rápido”, explica o dono.
E quanto que custa o jacu coffee? “Ele não tem preço. A gente faz o que a gente pode em uma no, é uma coisa que a natureza nos dá, a gente não tem certeza da quantidade que vamos produzir e a gente oferece aos nosso clientes e daí faz um preço de acorodo com a procura deles”, conta.
Já em São Paulo, levamos o café jacu ao centro de preparação de café do Sindicato da Cafeicultura de São Paulo. Quem vai prová-lo é a doutora Eliana Almeida, engenheira de alimentos e juradas de concursos de café.
Levamos o café jacu junto com o café da região do Espírito Santo, ambos apenas numerados, sem que a doutora Eliana soubesse qual era um qual era o outro.
Ela começou cheirando o café torrado, sentiou as outras fases até armar a mesa. Testou cada um mais de uma vez.
“Eu gostei deste café, achei que ele está com baixa adstringência, bom corpo, achei que ele é um café bem equilibrado, não tem nada nele que ressalte. Número 1. Eu daria uma nota maior para o número 2. É raro você comprar um café com esta complexidade, com esta leveza e este café número dois, parece um licor. O gosto que fica depois é mais leve. Eu daria uns 90 para o número 3 e 80 para o número 1”, afirma Eliana.
O número dois é justo o café jacu.
O café jacu, que é raro e caro, vai quase todo para a Europa e os Estados Unidos.
“No tempo dos faraós e dos imperadores” - Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa
Há os que pedem para o Lula se calar. Pois eu, não. Imaginem perder essa maravilha: Lula, reunido com o presidente de Moçambique, indignado ao saber que a ajuda de R$10 milhões de dólares que prometera cinco anos atrás ao país africano ainda não chegara lá, reagiu à explicação de seu chanceler, de que a culpa era da burocracia. E saiu-se com esta, dirigindo-se ao chefe do estado moçambicano:
“No tempo em que você tinha os faraós e os imperadores, isso não acontecia”. Todos os brasileiros da imensa equipe do presidente sorriram e olharam para os moçambicanos com ar de quem diz “ele não é uma simpatia?”. Dificilmente um amigo que promete essa pequena fortuna não vai ser encarado como simpático, mesmo que Moçambique tenha que reescrever sua história e colocar lá uns faraós. Com certeza estão até agora se perguntando onde foi que o Lula pescou um faraó em Moçambique...
“No tempo em que você tinha os faraós e os imperadores, isso não acontecia”. Todos os brasileiros da imensa equipe do presidente sorriram e olharam para os moçambicanos com ar de quem diz “ele não é uma simpatia?”. Dificilmente um amigo que promete essa pequena fortuna não vai ser encarado como simpático, mesmo que Moçambique tenha que reescrever sua história e colocar lá uns faraós. Com certeza estão até agora se perguntando onde foi que o Lula pescou um faraó em Moçambique...
Cafe' das " FEZES" do Lwak e' o mais caro do mundo
“É raro e tem algo diferente. Com o processamento que ocorre dentro do animal, e depois que você prepara, ele fica com um aroma intenso, que lembra aroma de café, caracteristicamente de café. É doce e lembra muito um chocolate amargo, um chocolate prazeroso”, afirmou.
Segundo Leite, o luwak come os grãos de cafés, que passam por um processo natural de fermentação no aparelho digestivo do animal. Isso, segundo ele, proporciona ao produto o sabor achocolatado. "Mas a primeira coisa que se destaca no produto é que ele raro", diz.
Segundo a revista "Galileu", não existem registros precisos sobre a história do Kopi Luwak, mas acredita-se que a origem data de cerca de 200 anos atrás, quando os colonizadores holandeses iniciaram plantações de café nas ilhas de Java, Sumatra e Sulawesi, onde hoje é a Indonésia.
O Kopi Luwak é fabricado à base de grãos recolhidos das fezes de um animal da Indonésia, o luwak. São produzidos somente 230 quilos por ano. O quilo custa cerca de R$ 1.500.
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
Doces permitidos
Delicias a base de frutas podem ser consumidas sem culpa em pequenas quantidades, assim como o chocolate amargo
Por Fátima Martin
Aquela vontade de comer uma barra de chocolate, de cereal ou uma porção de compota de frutas após do almoço faz a boca salivar só de imaginar a primeira mordida. Esse desejo aguça também a consciência, que geralmente fala mais alto: Será que devo? Afinal, é só um docinho?
Independentemente do tamanho da porção, aquele pedacinho de doce, que parece inofensivo ao organismo, pode comprometer a sua dieta se for ingerido em horário indevido, além de estimular, e muito, a vontade de comer.
Para a nutróloga Tamara Mazaracki, membro da Abran - Associação Brasileira de Nutrologia e especialista em medicina ortomolecular, o doce é permitido também para atletas, mas deve ser consumido em pequenas porções. “Para os corredores que não precisam perder peso e malham pesado todos os dias, é permitido o consumo de doces até quatro vezes por semana. Já nos dias em que não tiver que treinar, o doce, como uma barra de chocolate ou uma fatia de goiabada, por exemplo, deve ser substituído pelo iogurte ou fruta”, disse Tamara.
Os doces à base de frutas são os mais indicados pelos benefícios das frutas e absorção no organismo. “Goiabada, bananada, compotas em geral, como de figo, e cocada podem ser consumidos em porções de 30 g a 40 g. Como a maioria das frutas possui uma fibra chamada pectina, que atua na redução do colesterol e evita picos de insulina no corpo, elas são bem mais saudáveis do que outros tipos de doces. Mas lembre-se de não exagerar”, recomendou Tamara.
As frutas mais indicadas para praticantes de corrida, segundo a nutricionista Jane Corona, formada pela École Le Cordon Bleu, em Paris, na França, são frutas que tenham potássio, pois dão bastante energia. “Consumir sucos de banana, laranja, abacaxi, abacate e açaí e, de preferência, bater as frutas sempre com duas amêndoas e castanhas, pois são ricas em minerais”, sugere.
O melhor momento para comer doces e evitar peso na consciência é após a atividade física. “Antes do treinamento ou de uma prova é ideal consumir carboidratos de absorção lenta, ou seja, integrais, como aveia, uma fatia de pão, para que o corpo tenha tempo de absorver o alimento lentamente. Após a prova, os músculos precisam de mais energia, por isso, esse é o melhor momento de consumir doces, como saches de gel de carboidrato, sucos de frutas mais pesados, como de banana, por exemplo, pois o organismo não terá tempo de absorver o açúcar, que se transformará em glicogênio para suprir as necessidades do corpo, como a do fígado”, explicou a nutróloga Tamara.
Para saciar a vontade de comer doce sem exagerar no consumo de açúcar, o ideal é compor o doce com outro alimento, como o tradicional “Romeu e Julieta”, uma fatia de goiabada com outra de queijo.
Doces guardados a quatro chaves
Os bolos e tortas são preparados com margarina ou gordura vegetal, que são ricos em gordura trans, extremamente danosa ao organismo, pois pode causar o aumento da produção de radicais livres, além de aumentar o colesterol ruim e trazer doenças degenerativas e problemas cardiovasculares. “Por causa do desgaste do corpo do atleta, o corpo pede mais doces. Existe uma necessidade maior em carboidrato em geral para repor o glicogênio. Porém, ele deve evitar esses tipos de doces a base de massa, que deve ser consumido no máximo a cada dez dias”, afirmou Tamara.
Os doces campeões que você deve manter distância ainda são os aqueles feitos à base de leite integral e gordura saturada, como o doce de leite e brigadeiro, que devem ser consumidor no máximo a cada 15 dias.
Chocolate: pode ou não pode?
Ao contrário dos chocolates ao leite, o meio-amargo e amargo são permitidos, pois possuem entre 60% a 70% de cacau e são ricos em compostos fenólicos, responsáveis em inibem os radicais livres, produzidos durante a corrida.
Acima do peso
Os atletas que estão um pouco acima do peso devem evitar ao máximo a ingestão de doces, sejam à base de frutas ou de leite. ”O único momento que pode ser liberado o doce é logo após o exercício físico, porém em menor quantidade. Um doce de bananinha individual, um copo de suco de frutas ou 20 gramas de chocolate, ou seja, dois tabletes da barra grande de chocolate. Caso contrário, o corredor nunca vai conseguir perder os quilos extras. O ideal mesmo é a pessoa evitar os doces em geral até chegar à massa corporal adequada. Até lá, poderá consumir frutas com iogurte desnatado ou queijo”, conclui Tamara.
Atletas com taxa metabólica muito alta, que têm atividade intensa durante a semana inteira, ao reduzirem a atividade também devem diminuir consideravelmente o consumo de alimentos para não engordarem de uma hora para a outra.
A especialista em Nutrologia e chef de cozinha, Jane Corona, sugere cinco sobremesas mais leves para compor o cardápio da semana:
:: Mousse de manga
Rendimento: 2 porções
Ingredientes
1 manga
2 castanhas-do-pará
½ xícara (de chá) de água
Modo de preparo
Bata no liquidificador a manga com a castanha e a água. Coloque na geladeira para pegar consistência.
:: Mousse de Mamão
Rendimento: 2 porções
Ingredientes
¼ de mamão grande
2 castanhas-do-pará
1 colher (de chá) de groselha
Modo de preparo
Bata no liquidificador o mamão com a groselha e as castanhas. Coloque na geladeira para ficar consistente.
:: Merengue de Clara
Rendimento: 2 porções
Ingredientes
2 claras
1 colher (de sopa) de açúcar
4 gotas de limão
2 bananas
Modo de preparo
Bata na batedeira as duas claras e adicione aos poucos o açúcar até dar a consistência de suspiro. Inclua as gotas de limão. Corte as bananas em rodelas e coloque-as para tostar no forno até ficarem coradas. Faça camadas de bananas e suspiros.
:: Gelatina light
Rendimento: 4 porções
Ingredientes
4 copos de suco de laranja ou de outra fruta
1 pacote de gelatina branca sem sabor
Modo de preparo
Aqueça ligeiramente o suco de fruta e misture com a gelatina. Coloque em quatro recipientes e leve à geladeira.
Dica de nutrição: todo corredor precisa saber
1 – Nunca faça atividade física em jejum. Assim, o corpo estará queimando músculos e acumulando gorduras na tentativa de preservar o seu organismo.
2 – Antes da atividade física, escolha alimentos que dêem energia, como os carboidratos encontrados em pães, biscoitos, bolos, barras de cereais, frutas in natura, frutas secas, géis de carboidrato etc. Sugestões de combinações:
• barra de cereais e suco de frutas;
• pão com geléia de frutas;
• bolo sem recheio e água de coco;
• uva passa e biscoitos;
• banana com aveia.
3 – Consuma proteínas com baixo teor de gordura em todas as refeições. Leite e iogurtes desnatados ou light, queijo fresco, ricota e peito de peru são boas opções para o café da manhã e lanches, enquanto ovos e as carnes magras, como patinho, filé mignon, alcatra, lagarto, frango sem pele e peixes, podem ser consumidos nas principais refeições. As proteínas são essenciais para a manutenção dos tecidos e recuperação das fibras musculares.
4 – Varie ao máximo o consumo de frutas, verduras e legumes. Elas são fontes de vitaminas e sais minerais, presentes no processo metabólico. Quanto mais colorida for a salada, mais saudável ela será. Consuma também pelo menos uma fruta cítrica por dia como: laranja, acerola, goiaba, caju e morango. Ela dará a quantidade mínima de vitamina C que o seu corpo precisa no dia.
5 – Hidrate-se bem durante todo o dia e não apenas na hora de treinar. Em exercícios com mais de uma hora de duração ou em ambientes muito secos e quentes, consuma também bebidas esportivas para repor os eletrólitos perdidos no suor.
6 – Fracione bem a suas refeições e coma de três em três horas. Com isso, o metabolismo pode acelerar em até 20% e a fome diminui nas próximas refeições. Faça pequenos lanches entre o café da manhã e o almoço e entre o almoço e o jantar. Se a atividade física for realizada no final da tarde ou à noite, faça um lanche rico em carboidratos pelo menos 2 horas antes.
7 – Aumente o consumo de fibras na dieta. Elas dão sensação de saciedade, são ricas em minerais e ajudam no trânsito intestinal. Entre os alimentos com grande concentração de fibras estão arroz integral, barra de cereais, feijão, lentilha, ervilha, folhas e frutas com casca e bagaço.
8 – Evite excesso de carboidratos à noite. São alimentos muito energéticos e no período da noite não temos muito gasto calórico, pois o metabolismo está mais lento. Isso faz com que esses alimentos sejam transformados em gordura e estocados nas regiões onde menos se deseja: abdômen, glúteos e culotes.
9 – Diminua o consumo de bebidas alcoólicas. Elas são altamente energéticas e fornecem sete calorias para cada grama de álcool. Além disso, fazem cair o rendimento na atividade física e provocam a desidratação. Consuma somente nos finais de semana e com moderação.
10 – Consuma pelo menos três porções de frutas in natura por dia e de preferência de maneira variada. Você pode ainda combiná-las com uma porção de frutas oleaginosas, como castanhas, nozes e amêndoas. Elas são poderosas fontes de antioxidantes e de gorduras saudáveis (mono e poliinsaturadas). Mas não exagere, pois são altamente calóricas. Use a medida de 3 castanhas ou 2 nozes por porção.
Fonte: Sylvia Gracie, nutricionista formada pelo Centro Universitário São Camilo, em São Paulo.
2 – Antes da atividade física, escolha alimentos que dêem energia, como os carboidratos encontrados em pães, biscoitos, bolos, barras de cereais, frutas in natura, frutas secas, géis de carboidrato etc. Sugestões de combinações:
• barra de cereais e suco de frutas;
• pão com geléia de frutas;
• bolo sem recheio e água de coco;
• uva passa e biscoitos;
• banana com aveia.
3 – Consuma proteínas com baixo teor de gordura em todas as refeições. Leite e iogurtes desnatados ou light, queijo fresco, ricota e peito de peru são boas opções para o café da manhã e lanches, enquanto ovos e as carnes magras, como patinho, filé mignon, alcatra, lagarto, frango sem pele e peixes, podem ser consumidos nas principais refeições. As proteínas são essenciais para a manutenção dos tecidos e recuperação das fibras musculares.
4 – Varie ao máximo o consumo de frutas, verduras e legumes. Elas são fontes de vitaminas e sais minerais, presentes no processo metabólico. Quanto mais colorida for a salada, mais saudável ela será. Consuma também pelo menos uma fruta cítrica por dia como: laranja, acerola, goiaba, caju e morango. Ela dará a quantidade mínima de vitamina C que o seu corpo precisa no dia.
5 – Hidrate-se bem durante todo o dia e não apenas na hora de treinar. Em exercícios com mais de uma hora de duração ou em ambientes muito secos e quentes, consuma também bebidas esportivas para repor os eletrólitos perdidos no suor.
6 – Fracione bem a suas refeições e coma de três em três horas. Com isso, o metabolismo pode acelerar em até 20% e a fome diminui nas próximas refeições. Faça pequenos lanches entre o café da manhã e o almoço e entre o almoço e o jantar. Se a atividade física for realizada no final da tarde ou à noite, faça um lanche rico em carboidratos pelo menos 2 horas antes.
7 – Aumente o consumo de fibras na dieta. Elas dão sensação de saciedade, são ricas em minerais e ajudam no trânsito intestinal. Entre os alimentos com grande concentração de fibras estão arroz integral, barra de cereais, feijão, lentilha, ervilha, folhas e frutas com casca e bagaço.
8 – Evite excesso de carboidratos à noite. São alimentos muito energéticos e no período da noite não temos muito gasto calórico, pois o metabolismo está mais lento. Isso faz com que esses alimentos sejam transformados em gordura e estocados nas regiões onde menos se deseja: abdômen, glúteos e culotes.
9 – Diminua o consumo de bebidas alcoólicas. Elas são altamente energéticas e fornecem sete calorias para cada grama de álcool. Além disso, fazem cair o rendimento na atividade física e provocam a desidratação. Consuma somente nos finais de semana e com moderação.
10 – Consuma pelo menos três porções de frutas in natura por dia e de preferência de maneira variada. Você pode ainda combiná-las com uma porção de frutas oleaginosas, como castanhas, nozes e amêndoas. Elas são poderosas fontes de antioxidantes e de gorduras saudáveis (mono e poliinsaturadas). Mas não exagere, pois são altamente calóricas. Use a medida de 3 castanhas ou 2 nozes por porção.
Fonte: Sylvia Gracie, nutricionista formada pelo Centro Universitário São Camilo, em São Paulo.
As ameaças que pairam sobre as empresas - Miriam Leitao
Está faltando dinheiro para muita gente e crédito, que é o oxigênio da economia. As empresas brasileiras estão enfrentando vários problemas: prejuízos na operação com o dólar no mercado futuro; falta de capacidade de financiar suas exportações; cancelamento de investimentos; suspensão de negócios; e até brigas comerciais pela redução de preços já registrados em contrato.
A loja de varejo Renner anunciou oficialmente que não vai mais comprar a Leader Magazine. A Duratex disse que adiou por seis meses os investimentos. A Inbev adiou o lançamento de ações que ela faria para comprar uma cervejaria nos Estados Unidos.
A Arcelor Mittal, que tem várias siderúrgicas no Brasil, avisou que está revendo os investimentos. A Arcelor é a maior cliente da Vale e está querendo reduzir o preço do minério estabelecido no contrato.
O presidente da Única, que reúne as usinas de cana-de-açúcar, acha que pode haver cancelamento de projetos. A empresa de Eike Batista cancelou o investimento num porto. A Votorantim também está engavetando a idéia de disputar um terminal no Rio de Janeiro. As construtoras cancelaram projetos. Dentro da cadeia produtiva, as decisões estão sendo tomadas diariamente. Isso porque a crise chegou aqui de forma abrupta, por meio do câmbio.
As grandes empresas financiavam seu capital de giro com as operações de venda antecipada de exportação. Era assim: o exportador ia ao banco com o contrato do que iria daqui a três ou seis meses, recebia os dólares antes e vendia. Com este dinheiro, ele se financiava e aplicava no mercado tendo grandes lucros. Agora, o banco não consegue mais a linha de crédito lá fora e, por isso, não faz a operação de antecipação do câmbio com a empresa.
O fluxo secou de uma hora para outra. Essas linhas de crédito caíram 80%. Além disso, as empresas têm medo da desaceleração da economia. As ações do governo não têm conseguido mudar essa situação.
Dinheirama não evita medo da recessão
Restaurar a confiança é mais difícil que injetar bilhões de dólares na economia. O problema é que injetam o dinheiro por meio dos bancos, e os bancos não passam adiante.
O presidente George Bush deveria desistir de fazer pronunciamentos dizendo que a crise vai ser vencida. A cada vez que ele fala, a Bolsa cai. Ontem Dow Jones estava subindo e caiu.
Quando o secretário do Tesouro, Henry Paulson, falou, foi para anunciar que está distribuindo bilhões aos bancos. Citibank, Bank of America, JP Morgan Chase e Wells Fargo vão receber US$ 25 bilhões cada um. Goldman Sachs, onde trabalhava Paulson, e Morgan Stanley receberão US$ 10 bilhões cada um.
Os cheques menores estão sendo distribuídos pelos bancos em compra de ações preferenciais, que não têm direito a voto. Assim, o governo americano finge que não é exatamente uma estatização.
Na Europa, o governo terá diretores dentro dos bancos. É difícil saber o que é pior: o governo entrando só com o dinheiro do contribuinte e não mandando nada ou o governo administrando bancos.
Essa dinheirama é para evitar o pânico, mas não evita o segundo maior medo: o da recessão. Ontem, várias empresas anunciaram prejuízos ou cancelamento de projetos nos Estados Unidos.
O economista que previu esta crise, Nouriel Roubini, disse que a recessão americana será a maior em 40 anos e vai durar de 18 a 24 meses. O desemprego subirá para 9%.
A origem da crise, a queda dos preços dos imóveis, vai continuar. Os preços vão cair mais 15%, calcula o economista. Nouriel Roubini acha também que o rombo no mercado financeiro terá um custo de US$ 3 trilhões.
A loja de varejo Renner anunciou oficialmente que não vai mais comprar a Leader Magazine. A Duratex disse que adiou por seis meses os investimentos. A Inbev adiou o lançamento de ações que ela faria para comprar uma cervejaria nos Estados Unidos.
A Arcelor Mittal, que tem várias siderúrgicas no Brasil, avisou que está revendo os investimentos. A Arcelor é a maior cliente da Vale e está querendo reduzir o preço do minério estabelecido no contrato.
O presidente da Única, que reúne as usinas de cana-de-açúcar, acha que pode haver cancelamento de projetos. A empresa de Eike Batista cancelou o investimento num porto. A Votorantim também está engavetando a idéia de disputar um terminal no Rio de Janeiro. As construtoras cancelaram projetos. Dentro da cadeia produtiva, as decisões estão sendo tomadas diariamente. Isso porque a crise chegou aqui de forma abrupta, por meio do câmbio.
As grandes empresas financiavam seu capital de giro com as operações de venda antecipada de exportação. Era assim: o exportador ia ao banco com o contrato do que iria daqui a três ou seis meses, recebia os dólares antes e vendia. Com este dinheiro, ele se financiava e aplicava no mercado tendo grandes lucros. Agora, o banco não consegue mais a linha de crédito lá fora e, por isso, não faz a operação de antecipação do câmbio com a empresa.
O fluxo secou de uma hora para outra. Essas linhas de crédito caíram 80%. Além disso, as empresas têm medo da desaceleração da economia. As ações do governo não têm conseguido mudar essa situação.
Dinheirama não evita medo da recessão
Restaurar a confiança é mais difícil que injetar bilhões de dólares na economia. O problema é que injetam o dinheiro por meio dos bancos, e os bancos não passam adiante.
O presidente George Bush deveria desistir de fazer pronunciamentos dizendo que a crise vai ser vencida. A cada vez que ele fala, a Bolsa cai. Ontem Dow Jones estava subindo e caiu.
Quando o secretário do Tesouro, Henry Paulson, falou, foi para anunciar que está distribuindo bilhões aos bancos. Citibank, Bank of America, JP Morgan Chase e Wells Fargo vão receber US$ 25 bilhões cada um. Goldman Sachs, onde trabalhava Paulson, e Morgan Stanley receberão US$ 10 bilhões cada um.
Os cheques menores estão sendo distribuídos pelos bancos em compra de ações preferenciais, que não têm direito a voto. Assim, o governo americano finge que não é exatamente uma estatização.
Na Europa, o governo terá diretores dentro dos bancos. É difícil saber o que é pior: o governo entrando só com o dinheiro do contribuinte e não mandando nada ou o governo administrando bancos.
Essa dinheirama é para evitar o pânico, mas não evita o segundo maior medo: o da recessão. Ontem, várias empresas anunciaram prejuízos ou cancelamento de projetos nos Estados Unidos.
O economista que previu esta crise, Nouriel Roubini, disse que a recessão americana será a maior em 40 anos e vai durar de 18 a 24 meses. O desemprego subirá para 9%.
A origem da crise, a queda dos preços dos imóveis, vai continuar. Os preços vão cair mais 15%, calcula o economista. Nouriel Roubini acha também que o rombo no mercado financeiro terá um custo de US$ 3 trilhões.
terça-feira, 14 de outubro de 2008
Euforia dá lugar à realidade - Miriam Leitao
Passada a euforia inicial com o pacote europeu, os investidores agora se dão conta de que o mundo precisará de um bom tempo para superar a crise econômica. Com a montanha de dinheiro que será gasto para sanar o sistema financeiro, o equilíbrio fiscal das principais economias do mundo ficará ameaçado.
Soma-se a isso a recessão que aos poucos vai ficando cada vez mais evidente. Dos Estados Unidos, vieram notícias ruins sobre a Microsoft, Pepsi e Intel. Todas as três companhias devem registrar ganhos menores este ano, com a perspectiva de menos vendas.
Com isso, as bolsas agora à tarde já operam mais para o negativo. O Ibovespa depois de subir mais de 7% pela manhã, chegou a cair 1,45%, e às 16h20m operava perto da estabilidade, com alta de 0,01%. O Dow Jones caía 1,97%; enquanto a S&P recuava 1,85%; e a Nasdaq, 4,01%.
Pelo menos, há uma coisa boa: as quedas não são tão fortes como as da semana passada. Sinal de que a crise aos poucos está perdendo o caráter emocional.
- A emergência já foi feita, agora precisamos ver quais serão as medidas para o médio e longo prazo - explicou o economista Alvaro Bandeira, da Ágora Corretora.
Soma-se a isso a recessão que aos poucos vai ficando cada vez mais evidente. Dos Estados Unidos, vieram notícias ruins sobre a Microsoft, Pepsi e Intel. Todas as três companhias devem registrar ganhos menores este ano, com a perspectiva de menos vendas.
Com isso, as bolsas agora à tarde já operam mais para o negativo. O Ibovespa depois de subir mais de 7% pela manhã, chegou a cair 1,45%, e às 16h20m operava perto da estabilidade, com alta de 0,01%. O Dow Jones caía 1,97%; enquanto a S&P recuava 1,85%; e a Nasdaq, 4,01%.
Pelo menos, há uma coisa boa: as quedas não são tão fortes como as da semana passada. Sinal de que a crise aos poucos está perdendo o caráter emocional.
- A emergência já foi feita, agora precisamos ver quais serão as medidas para o médio e longo prazo - explicou o economista Alvaro Bandeira, da Ágora Corretora.
A crise está redefinindo nossos líderes
Gideon Rachman
Se a alta do mercado de segunda-feira realmente sinalizar uma virada na crise financeira mundial, o mundo saudará um salvador improvável. Dê um passo à frente Gordon Brown, o soturno primeiro-ministro do Reino Unido.
Até o estouro da crise, a imagem de Brown era de uma figura tragicômica: um homem que queria desesperadamente ser primeiro-ministro, mas que tinha provado ser irremediavelmente inadequado para o cargo.
Mas o plano de resgate de Brown foi adotado não apenas no Reino Unido, mas por todo o mundo. Na última sexta-feira, Paul Krugman, o novo prêmio Nobel de economia, elogiou o governo britânico por "exibir o tipo de pensamento claro que anda tão escasso na América". Ele escreveu: "Os Estados Unidos e a Europa devem apenas dizer: 'Sim, primeiro-ministro'. O plano britânico não é perfeito, mas... ele oferece de longe o melhor modelo disponível para um amplo esforço de resgate".
O encontro de cúpula europeu de emergência em Paris, no fim de semana, viu os 15 membros da zona do euro adotarem os planos de resgate a bancos que pareciam notavelmente com a iniciativa britânica. As autoridades britânicas, para as quais freqüentemente era dito que em uma grande crise econômica eles seriam irremediavelmente atropelados pela zona do euro, estão desfrutando de seu momento de desagravo.
As crises definem os políticos. A sorte contrastante de Brown e do presidente George W. Bush ilustra isso. Em tempos normais, Brown freqüentemente parece indeciso, soturno e robótico. Em tempos normais, Bush parece animado, decisivo e um sujeito normal. Mas, em uma crise, os modos de ambos se transformam -um para melhor e o outro para pior. Brown repentinamente parece calmo, determinado e no controle. Bush tem a tendência infeliz de parecer em pânico e fora de sua competência.
A atual crise financeira parece na verdade ter animado Brown. Quando um celular tocou em maio ao seu discurso no final da semana passada, o primeiro-ministro fez uma rara piada espontânea, especulando sobre se seria a notícia de outro banco entrando em colapso. Este tipo de piada pode soar como sendo de muito mau gosto. Mas de alguma forma funcionou. Brown se tornou humorista. E, além disso, sua platéia tinha confiança de que ele tinha controla da situação.
A presidência de Bush também pode ser definida por sua reação a crises - mas de um modo ruim. Imediatamente após os ataques terroristas em Nova York e Washington, ele desapareceu, apesar de que sob orientação do serviço secreto. Ele posteriormente se recuperou e fez alguns bons discursos. Mas o péssimo desempenho de Bush durante o furacão Katrina consolidou sua reputação de incompetência. "Brownie, você está fazendo um ótimo trabalho" - o comentário que ele dirigiu ao chefe da resposta do governo federal ao desastre - parecia ser o comentário definidor de seu mandato.
Mas agora ele tem um forte concorrente. O suposto comentário do presidente de que "esta porcaria pode afundar" foi a única coisa memorável que ele disse durante toda a crise financeira. Infelizmente, isso o fez soar como um texano na ponte do Titanic. Compare com o que disse Roosevelt: "A única coisa que devemos temer é o próprio medo".
Apesar de Brown ter se saído bem e Bush ter se saído mal, eles não são os únicos políticos atuando na crise financeira mundial. Logo, quais são os veredictos preliminares para os demais políticos?
Peer Steinbrück, o ministro das finanças alemão, conquistou o prêmio especial de bobo por seu triunfalismo prematuro. Ao sugerir no mês passado que "a crise se originou nos Estados Unidos e atingirá principalmente os Estados Unidos" ele tentou o destino. Angela Merkel, a chanceler alemã, também não se cobriu de glória. Ao apelar por uma resposta européia e então anunciar medidas alemãs unilaterais, isso fez com que parecesse inconsistente - para dizer de um modo educado.
Em comparação, Nicolas Sarkozy se saiu bem. "Tranqüilizador" não é uma palavra que geralmente se aplica ao hiperativo presidente francês. Mas Sarkozy pareceu enérgico e determinado. Como a França ocupa atualmente a presidência da União Européia, ele teve a tarefa de pesadelo de tentar elaborar uma resposta conjunta européia. No evento, o encontro de cúpula da noite de domingo, em Paris, foi uma ocasião muito mais bem-sucedida do que muitos encontros da UE para se discutir crises. Ao evitar uma farsa e apresentar uma frente unida ao mundo, Sarkozy salvou a UE de um maior embaraço.
Nos Estados Unidos, parece claro que a crise foi melhor para Barack Obama do que para John McCain. Provavelmente é verdade que uma campanha voltada à economia provavelmente favoreceria o candidato democrata em vez do republicano. Mas os dois candidatos também reagiram de forma diferente sob fogo. Nenhum deles ofereceu uma opinião particularmente notável sobre as origens ou a gestão da crise financeira. Mas o comportamento deles foi muito diferente. Os principais lemas para um líder em uma crise financeira são calma, consistência e controle -e Obama contou com os três. Em comparação, as reações iniciais de McCain foram frenéticas e contraditórias.
É claro, todos esses veredictos são altamente provisórios. A política é injusta: sair-se mal em uma crise pode liquidar um político, mas sair-se bem não é garantia de sucesso. No início da crise, era Hank Paulson, o secretário do Tesouro americano, quem era saudado como homem do momento. Agora é a vez de Brown. Se ocorrerem novas surpresas desagradáveis no sistema financeiro mundial, ele também poderá ser atropelado pelos eventos. Brown travou uma boa guerra. Mas mesmo assim ele ainda pode parar no lado perdedor.
14/10/2008
Gideon Rachman
Se a alta do mercado de segunda-feira realmente sinalizar uma virada na crise financeira mundial, o mundo saudará um salvador improvável. Dê um passo à frente Gordon Brown, o soturno primeiro-ministro do Reino Unido.
Até o estouro da crise, a imagem de Brown era de uma figura tragicômica: um homem que queria desesperadamente ser primeiro-ministro, mas que tinha provado ser irremediavelmente inadequado para o cargo.
Mas o plano de resgate de Brown foi adotado não apenas no Reino Unido, mas por todo o mundo. Na última sexta-feira, Paul Krugman, o novo prêmio Nobel de economia, elogiou o governo britânico por "exibir o tipo de pensamento claro que anda tão escasso na América". Ele escreveu: "Os Estados Unidos e a Europa devem apenas dizer: 'Sim, primeiro-ministro'. O plano britânico não é perfeito, mas... ele oferece de longe o melhor modelo disponível para um amplo esforço de resgate".
O encontro de cúpula europeu de emergência em Paris, no fim de semana, viu os 15 membros da zona do euro adotarem os planos de resgate a bancos que pareciam notavelmente com a iniciativa britânica. As autoridades britânicas, para as quais freqüentemente era dito que em uma grande crise econômica eles seriam irremediavelmente atropelados pela zona do euro, estão desfrutando de seu momento de desagravo.
As crises definem os políticos. A sorte contrastante de Brown e do presidente George W. Bush ilustra isso. Em tempos normais, Brown freqüentemente parece indeciso, soturno e robótico. Em tempos normais, Bush parece animado, decisivo e um sujeito normal. Mas, em uma crise, os modos de ambos se transformam -um para melhor e o outro para pior. Brown repentinamente parece calmo, determinado e no controle. Bush tem a tendência infeliz de parecer em pânico e fora de sua competência.
A atual crise financeira parece na verdade ter animado Brown. Quando um celular tocou em maio ao seu discurso no final da semana passada, o primeiro-ministro fez uma rara piada espontânea, especulando sobre se seria a notícia de outro banco entrando em colapso. Este tipo de piada pode soar como sendo de muito mau gosto. Mas de alguma forma funcionou. Brown se tornou humorista. E, além disso, sua platéia tinha confiança de que ele tinha controla da situação.
A presidência de Bush também pode ser definida por sua reação a crises - mas de um modo ruim. Imediatamente após os ataques terroristas em Nova York e Washington, ele desapareceu, apesar de que sob orientação do serviço secreto. Ele posteriormente se recuperou e fez alguns bons discursos. Mas o péssimo desempenho de Bush durante o furacão Katrina consolidou sua reputação de incompetência. "Brownie, você está fazendo um ótimo trabalho" - o comentário que ele dirigiu ao chefe da resposta do governo federal ao desastre - parecia ser o comentário definidor de seu mandato.
Mas agora ele tem um forte concorrente. O suposto comentário do presidente de que "esta porcaria pode afundar" foi a única coisa memorável que ele disse durante toda a crise financeira. Infelizmente, isso o fez soar como um texano na ponte do Titanic. Compare com o que disse Roosevelt: "A única coisa que devemos temer é o próprio medo".
Apesar de Brown ter se saído bem e Bush ter se saído mal, eles não são os únicos políticos atuando na crise financeira mundial. Logo, quais são os veredictos preliminares para os demais políticos?
Peer Steinbrück, o ministro das finanças alemão, conquistou o prêmio especial de bobo por seu triunfalismo prematuro. Ao sugerir no mês passado que "a crise se originou nos Estados Unidos e atingirá principalmente os Estados Unidos" ele tentou o destino. Angela Merkel, a chanceler alemã, também não se cobriu de glória. Ao apelar por uma resposta européia e então anunciar medidas alemãs unilaterais, isso fez com que parecesse inconsistente - para dizer de um modo educado.
Em comparação, Nicolas Sarkozy se saiu bem. "Tranqüilizador" não é uma palavra que geralmente se aplica ao hiperativo presidente francês. Mas Sarkozy pareceu enérgico e determinado. Como a França ocupa atualmente a presidência da União Européia, ele teve a tarefa de pesadelo de tentar elaborar uma resposta conjunta européia. No evento, o encontro de cúpula da noite de domingo, em Paris, foi uma ocasião muito mais bem-sucedida do que muitos encontros da UE para se discutir crises. Ao evitar uma farsa e apresentar uma frente unida ao mundo, Sarkozy salvou a UE de um maior embaraço.
Nos Estados Unidos, parece claro que a crise foi melhor para Barack Obama do que para John McCain. Provavelmente é verdade que uma campanha voltada à economia provavelmente favoreceria o candidato democrata em vez do republicano. Mas os dois candidatos também reagiram de forma diferente sob fogo. Nenhum deles ofereceu uma opinião particularmente notável sobre as origens ou a gestão da crise financeira. Mas o comportamento deles foi muito diferente. Os principais lemas para um líder em uma crise financeira são calma, consistência e controle -e Obama contou com os três. Em comparação, as reações iniciais de McCain foram frenéticas e contraditórias.
É claro, todos esses veredictos são altamente provisórios. A política é injusta: sair-se mal em uma crise pode liquidar um político, mas sair-se bem não é garantia de sucesso. No início da crise, era Hank Paulson, o secretário do Tesouro americano, quem era saudado como homem do momento. Agora é a vez de Brown. Se ocorrerem novas surpresas desagradáveis no sistema financeiro mundial, ele também poderá ser atropelado pelos eventos. Brown travou uma boa guerra. Mas mesmo assim ele ainda pode parar no lado perdedor.
Fonte: Financial Times
Se a alta do mercado de segunda-feira realmente sinalizar uma virada na crise financeira mundial, o mundo saudará um salvador improvável. Dê um passo à frente Gordon Brown, o soturno primeiro-ministro do Reino Unido.
Até o estouro da crise, a imagem de Brown era de uma figura tragicômica: um homem que queria desesperadamente ser primeiro-ministro, mas que tinha provado ser irremediavelmente inadequado para o cargo.
Mas o plano de resgate de Brown foi adotado não apenas no Reino Unido, mas por todo o mundo. Na última sexta-feira, Paul Krugman, o novo prêmio Nobel de economia, elogiou o governo britânico por "exibir o tipo de pensamento claro que anda tão escasso na América". Ele escreveu: "Os Estados Unidos e a Europa devem apenas dizer: 'Sim, primeiro-ministro'. O plano britânico não é perfeito, mas... ele oferece de longe o melhor modelo disponível para um amplo esforço de resgate".
O encontro de cúpula europeu de emergência em Paris, no fim de semana, viu os 15 membros da zona do euro adotarem os planos de resgate a bancos que pareciam notavelmente com a iniciativa britânica. As autoridades britânicas, para as quais freqüentemente era dito que em uma grande crise econômica eles seriam irremediavelmente atropelados pela zona do euro, estão desfrutando de seu momento de desagravo.
As crises definem os políticos. A sorte contrastante de Brown e do presidente George W. Bush ilustra isso. Em tempos normais, Brown freqüentemente parece indeciso, soturno e robótico. Em tempos normais, Bush parece animado, decisivo e um sujeito normal. Mas, em uma crise, os modos de ambos se transformam -um para melhor e o outro para pior. Brown repentinamente parece calmo, determinado e no controle. Bush tem a tendência infeliz de parecer em pânico e fora de sua competência.
A atual crise financeira parece na verdade ter animado Brown. Quando um celular tocou em maio ao seu discurso no final da semana passada, o primeiro-ministro fez uma rara piada espontânea, especulando sobre se seria a notícia de outro banco entrando em colapso. Este tipo de piada pode soar como sendo de muito mau gosto. Mas de alguma forma funcionou. Brown se tornou humorista. E, além disso, sua platéia tinha confiança de que ele tinha controla da situação.
A presidência de Bush também pode ser definida por sua reação a crises - mas de um modo ruim. Imediatamente após os ataques terroristas em Nova York e Washington, ele desapareceu, apesar de que sob orientação do serviço secreto. Ele posteriormente se recuperou e fez alguns bons discursos. Mas o péssimo desempenho de Bush durante o furacão Katrina consolidou sua reputação de incompetência. "Brownie, você está fazendo um ótimo trabalho" - o comentário que ele dirigiu ao chefe da resposta do governo federal ao desastre - parecia ser o comentário definidor de seu mandato.
Mas agora ele tem um forte concorrente. O suposto comentário do presidente de que "esta porcaria pode afundar" foi a única coisa memorável que ele disse durante toda a crise financeira. Infelizmente, isso o fez soar como um texano na ponte do Titanic. Compare com o que disse Roosevelt: "A única coisa que devemos temer é o próprio medo".
Apesar de Brown ter se saído bem e Bush ter se saído mal, eles não são os únicos políticos atuando na crise financeira mundial. Logo, quais são os veredictos preliminares para os demais políticos?
Peer Steinbrück, o ministro das finanças alemão, conquistou o prêmio especial de bobo por seu triunfalismo prematuro. Ao sugerir no mês passado que "a crise se originou nos Estados Unidos e atingirá principalmente os Estados Unidos" ele tentou o destino. Angela Merkel, a chanceler alemã, também não se cobriu de glória. Ao apelar por uma resposta européia e então anunciar medidas alemãs unilaterais, isso fez com que parecesse inconsistente - para dizer de um modo educado.
Em comparação, Nicolas Sarkozy se saiu bem. "Tranqüilizador" não é uma palavra que geralmente se aplica ao hiperativo presidente francês. Mas Sarkozy pareceu enérgico e determinado. Como a França ocupa atualmente a presidência da União Européia, ele teve a tarefa de pesadelo de tentar elaborar uma resposta conjunta européia. No evento, o encontro de cúpula da noite de domingo, em Paris, foi uma ocasião muito mais bem-sucedida do que muitos encontros da UE para se discutir crises. Ao evitar uma farsa e apresentar uma frente unida ao mundo, Sarkozy salvou a UE de um maior embaraço.
Nos Estados Unidos, parece claro que a crise foi melhor para Barack Obama do que para John McCain. Provavelmente é verdade que uma campanha voltada à economia provavelmente favoreceria o candidato democrata em vez do republicano. Mas os dois candidatos também reagiram de forma diferente sob fogo. Nenhum deles ofereceu uma opinião particularmente notável sobre as origens ou a gestão da crise financeira. Mas o comportamento deles foi muito diferente. Os principais lemas para um líder em uma crise financeira são calma, consistência e controle -e Obama contou com os três. Em comparação, as reações iniciais de McCain foram frenéticas e contraditórias.
É claro, todos esses veredictos são altamente provisórios. A política é injusta: sair-se mal em uma crise pode liquidar um político, mas sair-se bem não é garantia de sucesso. No início da crise, era Hank Paulson, o secretário do Tesouro americano, quem era saudado como homem do momento. Agora é a vez de Brown. Se ocorrerem novas surpresas desagradáveis no sistema financeiro mundial, ele também poderá ser atropelado pelos eventos. Brown travou uma boa guerra. Mas mesmo assim ele ainda pode parar no lado perdedor.
14/10/2008
Gideon Rachman
Se a alta do mercado de segunda-feira realmente sinalizar uma virada na crise financeira mundial, o mundo saudará um salvador improvável. Dê um passo à frente Gordon Brown, o soturno primeiro-ministro do Reino Unido.
Até o estouro da crise, a imagem de Brown era de uma figura tragicômica: um homem que queria desesperadamente ser primeiro-ministro, mas que tinha provado ser irremediavelmente inadequado para o cargo.
Mas o plano de resgate de Brown foi adotado não apenas no Reino Unido, mas por todo o mundo. Na última sexta-feira, Paul Krugman, o novo prêmio Nobel de economia, elogiou o governo britânico por "exibir o tipo de pensamento claro que anda tão escasso na América". Ele escreveu: "Os Estados Unidos e a Europa devem apenas dizer: 'Sim, primeiro-ministro'. O plano britânico não é perfeito, mas... ele oferece de longe o melhor modelo disponível para um amplo esforço de resgate".
O encontro de cúpula europeu de emergência em Paris, no fim de semana, viu os 15 membros da zona do euro adotarem os planos de resgate a bancos que pareciam notavelmente com a iniciativa britânica. As autoridades britânicas, para as quais freqüentemente era dito que em uma grande crise econômica eles seriam irremediavelmente atropelados pela zona do euro, estão desfrutando de seu momento de desagravo.
As crises definem os políticos. A sorte contrastante de Brown e do presidente George W. Bush ilustra isso. Em tempos normais, Brown freqüentemente parece indeciso, soturno e robótico. Em tempos normais, Bush parece animado, decisivo e um sujeito normal. Mas, em uma crise, os modos de ambos se transformam -um para melhor e o outro para pior. Brown repentinamente parece calmo, determinado e no controle. Bush tem a tendência infeliz de parecer em pânico e fora de sua competência.
A atual crise financeira parece na verdade ter animado Brown. Quando um celular tocou em maio ao seu discurso no final da semana passada, o primeiro-ministro fez uma rara piada espontânea, especulando sobre se seria a notícia de outro banco entrando em colapso. Este tipo de piada pode soar como sendo de muito mau gosto. Mas de alguma forma funcionou. Brown se tornou humorista. E, além disso, sua platéia tinha confiança de que ele tinha controla da situação.
A presidência de Bush também pode ser definida por sua reação a crises - mas de um modo ruim. Imediatamente após os ataques terroristas em Nova York e Washington, ele desapareceu, apesar de que sob orientação do serviço secreto. Ele posteriormente se recuperou e fez alguns bons discursos. Mas o péssimo desempenho de Bush durante o furacão Katrina consolidou sua reputação de incompetência. "Brownie, você está fazendo um ótimo trabalho" - o comentário que ele dirigiu ao chefe da resposta do governo federal ao desastre - parecia ser o comentário definidor de seu mandato.
Mas agora ele tem um forte concorrente. O suposto comentário do presidente de que "esta porcaria pode afundar" foi a única coisa memorável que ele disse durante toda a crise financeira. Infelizmente, isso o fez soar como um texano na ponte do Titanic. Compare com o que disse Roosevelt: "A única coisa que devemos temer é o próprio medo".
Apesar de Brown ter se saído bem e Bush ter se saído mal, eles não são os únicos políticos atuando na crise financeira mundial. Logo, quais são os veredictos preliminares para os demais políticos?
Peer Steinbrück, o ministro das finanças alemão, conquistou o prêmio especial de bobo por seu triunfalismo prematuro. Ao sugerir no mês passado que "a crise se originou nos Estados Unidos e atingirá principalmente os Estados Unidos" ele tentou o destino. Angela Merkel, a chanceler alemã, também não se cobriu de glória. Ao apelar por uma resposta européia e então anunciar medidas alemãs unilaterais, isso fez com que parecesse inconsistente - para dizer de um modo educado.
Em comparação, Nicolas Sarkozy se saiu bem. "Tranqüilizador" não é uma palavra que geralmente se aplica ao hiperativo presidente francês. Mas Sarkozy pareceu enérgico e determinado. Como a França ocupa atualmente a presidência da União Européia, ele teve a tarefa de pesadelo de tentar elaborar uma resposta conjunta européia. No evento, o encontro de cúpula da noite de domingo, em Paris, foi uma ocasião muito mais bem-sucedida do que muitos encontros da UE para se discutir crises. Ao evitar uma farsa e apresentar uma frente unida ao mundo, Sarkozy salvou a UE de um maior embaraço.
Nos Estados Unidos, parece claro que a crise foi melhor para Barack Obama do que para John McCain. Provavelmente é verdade que uma campanha voltada à economia provavelmente favoreceria o candidato democrata em vez do republicano. Mas os dois candidatos também reagiram de forma diferente sob fogo. Nenhum deles ofereceu uma opinião particularmente notável sobre as origens ou a gestão da crise financeira. Mas o comportamento deles foi muito diferente. Os principais lemas para um líder em uma crise financeira são calma, consistência e controle -e Obama contou com os três. Em comparação, as reações iniciais de McCain foram frenéticas e contraditórias.
É claro, todos esses veredictos são altamente provisórios. A política é injusta: sair-se mal em uma crise pode liquidar um político, mas sair-se bem não é garantia de sucesso. No início da crise, era Hank Paulson, o secretário do Tesouro americano, quem era saudado como homem do momento. Agora é a vez de Brown. Se ocorrerem novas surpresas desagradáveis no sistema financeiro mundial, ele também poderá ser atropelado pelos eventos. Brown travou uma boa guerra. Mas mesmo assim ele ainda pode parar no lado perdedor.
Fonte: Financial Times
Anos turbulentos pela frente - Pedro S. Malan
Madrugada de sexta-feira, 10 de outubro. Escrevo da China, onde me encontro para reunião de conselho internacional de que participo. Acabo de ver o fechamento da Bolsa de Nova York na quinta-feira e escrevo enquanto aguardo a abertura das bolsas da Ásia. "Possa você viver em tempos desafiadores" é uma conhecida expressão chinesa, que nunca foi tão apropriada como na dramática crise ora em andamento, cujas conseqüências estarão conosco por muitos anos à frente.
Virou clichê, mas não menos verdadeiro por isto: crises desta magnitude acontecem em intervalos que se contam em muitas décadas. Não tenho dúvidas de que esta - como todas as anteriores - será superada em algum momento, ainda que a um custo extremamente elevado, tanto econômico como social. Como tampouco tenho dúvidas de que haverá outra crise - diferente - em algum momento futuro. Afinal, é o que nos ensina a história, sempre surpreendente, dos últimos 250 anos. E, tão importante quanto, é o que nos ensina a imutável natureza humana, que, como é sabido, é movida por uma contínua interação das forças da ambição, do medo, da ignorância e da necessidade de auto-estima e reconhecimento que carrega consigo todo ser humano.
Os mercados, e em particular os mercados financeiros, sempre foram, são e serão afetados pela interação dos elementos acima com as incertezas, os riscos e oportunidades que o futuro invariavelmente contém. Esses processos podem por vezes levar tanto a manifestações de "exuberância irracional" e de "ganância infecciosa", para usar duas expressões de Greenspan, como a "medos irracionais" e "pânicos infecciosos" como estamos vivendo, em progressiva gestação, há mais de um ano e experimentando, com especial virulência, no último mês e, muito particularmente, nestes últimos dias. Está evidente agora que a paralisia de crédito é a expressão de uma crise global de confiança que extrapolou de muito o mercado interbancário e começou a afetar o chamado setor real e as perspectivas de crescimento.
Vale lembrar que um ano atrás, no dia 9 de outubro de 2007, apesar de a crise estar clara desde agosto, a Bolsa de Nova York chegou ao nível mais alto de sua história, estimulada pela decisão do banco central norte-americano de dar início, em setembro, à trajetória declinante de sua taxa básica de juros, então em 5,25%. As bolsas reagiram com entusiasmo. Afinal, em outubro de 1987 quando a bolsa nova-iorquina teve a maior queda porcentual de sua história (até hoje) num único dia e o pânico tomou conta dos mercados, o Fed reduziu os juros três vezes em seis semanas e a situação se normalizou. Em setembro de 1998, quando a crise da moratória russa e a falência de um grande hedge fund levaram a outro começo de pânico, o Fed reduziu os juros por três vezes em sete semanas e o pânico se foi. A minirrecessão de 2001, agravada pelo ataque às torres gêmeas, em 11 de setembro, levou a outro surto de pânico, também contido por três reduções de taxa de juros em sete semanas, redução que continuou até o 1% de junho de 2003. Talvez muitos tenham imaginado que, em último caso, esta seria sempre a opção salvadora, amplamente testada, para crises de confiança e liquidez. O que explicaria a complacência que se instaurou nos mercados: o Fed estaria sempre atento. E, afinal de contas, o mundo estava experimentando o mais forte, o mais longo e o mais amplamente disseminado ciclo de expansão da história moderna.
Pois bem, na crise atual, não apenas os juros norte-americanos foram reduzidos de 5,25% para 1,5%, mas vários outros bancos centrais, em ação concertada, fizeram o mesmo nas últimas semanas. Um enorme arsenal de medidas vêm sendo tomadas por vários países desenvolvidos. Bancos centrais passaram de emprestadores de última instância a incorporar transitoriamente funções de compradores de última instância, de "market makers" e de "match makers" de última instância. Tesouros passaram a ter autorização legal para capitalizar bancos privados, comprar ativos de suas carteiras e oferecer garantias totais a depositantes e aplicadores. Bancos centrais e Tesouros passaram a estender um volume crescente de recursos a um número crescente de instituições bancárias e não bancárias, aceitando garantias de maior risco do que as que normalmente exigiriam.
A prioridade absoluta é afastar o pânico, fazer com que voltem a funcionar o sistema de pagamentos e o mercado interbancário - e presidir um processo ordenado de venda de ativos, capitalização e consolidação do sistema bancário que passará, inevitavelmente, por um schumpeteriano processo de "destruição criadora". E os bancos que restarem serão submetidos a uma supervisão e uma regulação mais eficazes que no passado.
Tomará tempo. Será duro. Afinal, as medidas excepcionais fazem sentido, mas vieram tarde para evitar que o pânico se instalasse. Os discursos do presidente Bush - como, de resto, de qualquer presidente isoladamente -, a esta altura, não terão maior efeito sobre os mercados. Só a efetiva implementação do programa de emergência aprovado pelo Congresso americano, um relativo sucesso do programa da retirada dos ativos tóxicos dos balanços dos bancos e um grau de cooperação internacional nunca antes alcançado dentre os principais Tesouros e bancos centrais dos países desenvolvidos.
E o Brasil? Bem o País só teria a ganhar se, além de contar, como conta, com um Banco Central atento e agindo, fosse capaz de deixar de lado discursos de palanque, bravatas e bazófias e mostrar que entende a gravidade do momento e que, portanto, entre outras coisas, não só vai revisar imediatamente o Orçamento de 2009, como as metas fiscais indicativas para o próximo triênio.
Os países relativamente menos afetados pela crise serão os mais capazes de mostrar com atos, e não discursos, sua capacidade de resposta à crise, retendo assim a confiança possível do resto do mundo.
Pedro S. Malan, economista, foi ministro da Fazenda no governo FHC E-mail: malan@estadao.com.br
Virou clichê, mas não menos verdadeiro por isto: crises desta magnitude acontecem em intervalos que se contam em muitas décadas. Não tenho dúvidas de que esta - como todas as anteriores - será superada em algum momento, ainda que a um custo extremamente elevado, tanto econômico como social. Como tampouco tenho dúvidas de que haverá outra crise - diferente - em algum momento futuro. Afinal, é o que nos ensina a história, sempre surpreendente, dos últimos 250 anos. E, tão importante quanto, é o que nos ensina a imutável natureza humana, que, como é sabido, é movida por uma contínua interação das forças da ambição, do medo, da ignorância e da necessidade de auto-estima e reconhecimento que carrega consigo todo ser humano.
Os mercados, e em particular os mercados financeiros, sempre foram, são e serão afetados pela interação dos elementos acima com as incertezas, os riscos e oportunidades que o futuro invariavelmente contém. Esses processos podem por vezes levar tanto a manifestações de "exuberância irracional" e de "ganância infecciosa", para usar duas expressões de Greenspan, como a "medos irracionais" e "pânicos infecciosos" como estamos vivendo, em progressiva gestação, há mais de um ano e experimentando, com especial virulência, no último mês e, muito particularmente, nestes últimos dias. Está evidente agora que a paralisia de crédito é a expressão de uma crise global de confiança que extrapolou de muito o mercado interbancário e começou a afetar o chamado setor real e as perspectivas de crescimento.
Vale lembrar que um ano atrás, no dia 9 de outubro de 2007, apesar de a crise estar clara desde agosto, a Bolsa de Nova York chegou ao nível mais alto de sua história, estimulada pela decisão do banco central norte-americano de dar início, em setembro, à trajetória declinante de sua taxa básica de juros, então em 5,25%. As bolsas reagiram com entusiasmo. Afinal, em outubro de 1987 quando a bolsa nova-iorquina teve a maior queda porcentual de sua história (até hoje) num único dia e o pânico tomou conta dos mercados, o Fed reduziu os juros três vezes em seis semanas e a situação se normalizou. Em setembro de 1998, quando a crise da moratória russa e a falência de um grande hedge fund levaram a outro começo de pânico, o Fed reduziu os juros por três vezes em sete semanas e o pânico se foi. A minirrecessão de 2001, agravada pelo ataque às torres gêmeas, em 11 de setembro, levou a outro surto de pânico, também contido por três reduções de taxa de juros em sete semanas, redução que continuou até o 1% de junho de 2003. Talvez muitos tenham imaginado que, em último caso, esta seria sempre a opção salvadora, amplamente testada, para crises de confiança e liquidez. O que explicaria a complacência que se instaurou nos mercados: o Fed estaria sempre atento. E, afinal de contas, o mundo estava experimentando o mais forte, o mais longo e o mais amplamente disseminado ciclo de expansão da história moderna.
Pois bem, na crise atual, não apenas os juros norte-americanos foram reduzidos de 5,25% para 1,5%, mas vários outros bancos centrais, em ação concertada, fizeram o mesmo nas últimas semanas. Um enorme arsenal de medidas vêm sendo tomadas por vários países desenvolvidos. Bancos centrais passaram de emprestadores de última instância a incorporar transitoriamente funções de compradores de última instância, de "market makers" e de "match makers" de última instância. Tesouros passaram a ter autorização legal para capitalizar bancos privados, comprar ativos de suas carteiras e oferecer garantias totais a depositantes e aplicadores. Bancos centrais e Tesouros passaram a estender um volume crescente de recursos a um número crescente de instituições bancárias e não bancárias, aceitando garantias de maior risco do que as que normalmente exigiriam.
A prioridade absoluta é afastar o pânico, fazer com que voltem a funcionar o sistema de pagamentos e o mercado interbancário - e presidir um processo ordenado de venda de ativos, capitalização e consolidação do sistema bancário que passará, inevitavelmente, por um schumpeteriano processo de "destruição criadora". E os bancos que restarem serão submetidos a uma supervisão e uma regulação mais eficazes que no passado.
Tomará tempo. Será duro. Afinal, as medidas excepcionais fazem sentido, mas vieram tarde para evitar que o pânico se instalasse. Os discursos do presidente Bush - como, de resto, de qualquer presidente isoladamente -, a esta altura, não terão maior efeito sobre os mercados. Só a efetiva implementação do programa de emergência aprovado pelo Congresso americano, um relativo sucesso do programa da retirada dos ativos tóxicos dos balanços dos bancos e um grau de cooperação internacional nunca antes alcançado dentre os principais Tesouros e bancos centrais dos países desenvolvidos.
E o Brasil? Bem o País só teria a ganhar se, além de contar, como conta, com um Banco Central atento e agindo, fosse capaz de deixar de lado discursos de palanque, bravatas e bazófias e mostrar que entende a gravidade do momento e que, portanto, entre outras coisas, não só vai revisar imediatamente o Orçamento de 2009, como as metas fiscais indicativas para o próximo triênio.
Os países relativamente menos afetados pela crise serão os mais capazes de mostrar com atos, e não discursos, sua capacidade de resposta à crise, retendo assim a confiança possível do resto do mundo.
Pedro S. Malan, economista, foi ministro da Fazenda no governo FHC E-mail: malan@estadao.com.br
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
Mundo louco - Miriam Leitão
Nada do que está acontecendo é normal. Os tempos não são normais, são de crise aguda, mas a reação das autoridades econômicas e monetárias do mundo está piorando a crise em si, e deixando uma herança maldita para o futuro. Os Tesouros dos EUA e inglês vão virar banqueiros, comprando ações e até controle acionário de bancos privados. Se não é o fim do capitalismo, eles estão se esforçando!
A Islândia levou muito a sério o próprio nome — Iceland, terra do gelo — e congelou os depósitos de clientes ingleses; isto, depois de ter estatizado os bancos. Países periféricos podem tomar medidas estapafúrdias. O esquisito é a Islândia virar assunto nos mercados internacionais.
Ela não tem saído da primeira página nos últimos tempos. Ou pela reação desesperada do seu governo, dizendo que estava à beira da “falência nacional”, ou pelo empréstimo bilionário tomado junto à Rússia, ou pela estatização dos bancos.
Ontem foi pelo ataque aos ingleses.
As autoridades mundiais parecem baratas tontas, correndo de um lado para o outro, e isso realimenta o pânico. O propalado pacote de US$ 700 bilhões de resgate do secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, é um capítulo à parte em matéria de proposta confusa feita pelas autoridades. Mas o mais importante agora é confirmar — de novo! — a avaliação do economista Nouriel Roubini: “O pacote é um não-evento.” Se tivesse tido o efeito que Paulson disse que teria, o secretário do Tesouro americano não estava ontem propondo fazer nos EUA o mesmo pacote inglês em que o Tesouro vira sócio dos bancos.
A versão americana é mais exagerada: ele quer comprar o controle acionário dos bancos. Se exibir neste plano a mesma perícia, destreza e respeito aos contribuintes que demonstrou no pacote de US$ 700 bilhões, os Estados Unidos terão acelerado a sua marcha rumo ao passado. Remoto.
É normal bancos centrais injetarem liquidez nos mercados em épocas de crise de liquidez, é normal a liberação de compulsório, é normal a queda das taxas de juros. Em época de risco de crise sistêmica começam as anomalias.
E é como anomalia que se entendem os pacotes de saneamento de sistema financeiro, como foi o Proer aqui, o caso das Savings&Loans nos anos 1980 nos Estados Unidos, ou o saneamento dos bancos japoneses.
Mas, nesta crise, o Fed foi além das anomalias esperáveis.
Ben Bernanke saiu de braços dados com o secretário do Tesouro num corpoacorpo no Parlamento para aprovar um plano do Executivo de compra de ativos podres em carteira dos bancos.
Não sobrou nada da antiga independência do banco central americano. Se ainda fosse o plano para acabar com todos os planos, tudo bem. Mas era um plano defeituoso, e foram inúmeros os economistas que apontaram os erros. Bernanke gosta de se definir como um professor de Economia. Como professor, está reprovado, por ter aprovado plano tão ruim.
Agora, o plano B não é mais a faxina de ativos tóxicos; é tomar conta da banca diretamente.
O rombo criado por salvações de bancos já supera US$ 2 trilhões e não se tem idéia de onde vai parar.
Paulson-Bernanke, esses ases do volante, deixaram um banco quebrar. Apenas um.
Salvaram todos os outros.
Mas este um que deixaram quebrar, o Lehman Brothers, está custando muito mais caro que todos os outros, porque detonou a pior crise de confiança já vista em 80 anos.
E é mesmo para desconfiar com o mundo entregue a esses gênios. O presidente Bush, esse lame duck, faz agora pronunciamentos tão diários quanto inúteis. Hoje falará novamente.
A atuação coordenada dos bancos centrais esta semana foi um momento de lucidez neste festival de maluquices.
E vinha surtindo efeito. Até que Paulson destrancou de novo o fantasma do armário, avisando que outros bancos poderiam quebrar. Ontem, o bom humor não atravessou um pregão. A Dow Jones, que chegou a estar positiva, fechou em menos 7,33%: S&P caiu 7,6%. Aqui, a Bovespa mostrou que o mercado não sabe para onde vai. Chegou a estar em alta de 4,8% e fechou em queda de 3,92%.
Agora já está ligado o círculo vicioso: a crise do mercado financeiro está produzindo efeitos na economia real, o que realimenta o pessimismo no mercado financeiro.
A queda de ontem nas bolsas americanas foi em parte pelas más, e previsíveis, notícias do mercado de automóveis americano. Que o PIB americano vai encolher, está dado. Uma economia que era movida a crédito barato e concedido de forma irresponsável, em que as dívidas refinanciadas geravam mais capacidade de consumo, obviamente encolhe quando o castelo de cartas desmonta. O erro foi de novo das autoridades, que não viram que a economia tinha tão insustentáveis fundamentos.
No Brasil, não se viu, ainda, nenhuma medida tresloucada.
Felizmente. O que houve de fora de propósito foi a convicção insensata de que a crise não nos atingiria porque estávamos sólidos, robustos, blindados; que aqui chegaria uma marolinha e outras tolices ditas pelos que nos governam. A demora de agir no câmbio produziu uma maxidesvalorização despropositada, de 50%, que está fazendo as empresas sangrarem. O problema aqui é este.
No mundo, parte da crise é provocada pela imperícia dos que governam os países ricos. É a maluquice dos líderes o pior neste momento de risco.
A Islândia levou muito a sério o próprio nome — Iceland, terra do gelo — e congelou os depósitos de clientes ingleses; isto, depois de ter estatizado os bancos. Países periféricos podem tomar medidas estapafúrdias. O esquisito é a Islândia virar assunto nos mercados internacionais.
Ela não tem saído da primeira página nos últimos tempos. Ou pela reação desesperada do seu governo, dizendo que estava à beira da “falência nacional”, ou pelo empréstimo bilionário tomado junto à Rússia, ou pela estatização dos bancos.
Ontem foi pelo ataque aos ingleses.
As autoridades mundiais parecem baratas tontas, correndo de um lado para o outro, e isso realimenta o pânico. O propalado pacote de US$ 700 bilhões de resgate do secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, é um capítulo à parte em matéria de proposta confusa feita pelas autoridades. Mas o mais importante agora é confirmar — de novo! — a avaliação do economista Nouriel Roubini: “O pacote é um não-evento.” Se tivesse tido o efeito que Paulson disse que teria, o secretário do Tesouro americano não estava ontem propondo fazer nos EUA o mesmo pacote inglês em que o Tesouro vira sócio dos bancos.
A versão americana é mais exagerada: ele quer comprar o controle acionário dos bancos. Se exibir neste plano a mesma perícia, destreza e respeito aos contribuintes que demonstrou no pacote de US$ 700 bilhões, os Estados Unidos terão acelerado a sua marcha rumo ao passado. Remoto.
É normal bancos centrais injetarem liquidez nos mercados em épocas de crise de liquidez, é normal a liberação de compulsório, é normal a queda das taxas de juros. Em época de risco de crise sistêmica começam as anomalias.
E é como anomalia que se entendem os pacotes de saneamento de sistema financeiro, como foi o Proer aqui, o caso das Savings&Loans nos anos 1980 nos Estados Unidos, ou o saneamento dos bancos japoneses.
Mas, nesta crise, o Fed foi além das anomalias esperáveis.
Ben Bernanke saiu de braços dados com o secretário do Tesouro num corpoacorpo no Parlamento para aprovar um plano do Executivo de compra de ativos podres em carteira dos bancos.
Não sobrou nada da antiga independência do banco central americano. Se ainda fosse o plano para acabar com todos os planos, tudo bem. Mas era um plano defeituoso, e foram inúmeros os economistas que apontaram os erros. Bernanke gosta de se definir como um professor de Economia. Como professor, está reprovado, por ter aprovado plano tão ruim.
Agora, o plano B não é mais a faxina de ativos tóxicos; é tomar conta da banca diretamente.
O rombo criado por salvações de bancos já supera US$ 2 trilhões e não se tem idéia de onde vai parar.
Paulson-Bernanke, esses ases do volante, deixaram um banco quebrar. Apenas um.
Salvaram todos os outros.
Mas este um que deixaram quebrar, o Lehman Brothers, está custando muito mais caro que todos os outros, porque detonou a pior crise de confiança já vista em 80 anos.
E é mesmo para desconfiar com o mundo entregue a esses gênios. O presidente Bush, esse lame duck, faz agora pronunciamentos tão diários quanto inúteis. Hoje falará novamente.
A atuação coordenada dos bancos centrais esta semana foi um momento de lucidez neste festival de maluquices.
E vinha surtindo efeito. Até que Paulson destrancou de novo o fantasma do armário, avisando que outros bancos poderiam quebrar. Ontem, o bom humor não atravessou um pregão. A Dow Jones, que chegou a estar positiva, fechou em menos 7,33%: S&P caiu 7,6%. Aqui, a Bovespa mostrou que o mercado não sabe para onde vai. Chegou a estar em alta de 4,8% e fechou em queda de 3,92%.
Agora já está ligado o círculo vicioso: a crise do mercado financeiro está produzindo efeitos na economia real, o que realimenta o pessimismo no mercado financeiro.
A queda de ontem nas bolsas americanas foi em parte pelas más, e previsíveis, notícias do mercado de automóveis americano. Que o PIB americano vai encolher, está dado. Uma economia que era movida a crédito barato e concedido de forma irresponsável, em que as dívidas refinanciadas geravam mais capacidade de consumo, obviamente encolhe quando o castelo de cartas desmonta. O erro foi de novo das autoridades, que não viram que a economia tinha tão insustentáveis fundamentos.
No Brasil, não se viu, ainda, nenhuma medida tresloucada.
Felizmente. O que houve de fora de propósito foi a convicção insensata de que a crise não nos atingiria porque estávamos sólidos, robustos, blindados; que aqui chegaria uma marolinha e outras tolices ditas pelos que nos governam. A demora de agir no câmbio produziu uma maxidesvalorização despropositada, de 50%, que está fazendo as empresas sangrarem. O problema aqui é este.
No mundo, parte da crise é provocada pela imperícia dos que governam os países ricos. É a maluquice dos líderes o pior neste momento de risco.
Economia da Islândia derrete e país teme quebra
Em poucas semanas, o governo da Islândia se reuniu para tratar de uma ameaça ao futuro da ilha: a elevação dos níveis do mar pelo derretimento das calotas polares. Hoje o problema é outro: o derretimento de sua economia. Ontem, o governo anunciou a nacionalização do maior banco do país e fechou a bolsa de valores, provocando a ira dos ingleses, que têm bilhões nos bancos da ilha. Para analistas, o país nórdico se transformou no exemplo mais concreto do que a crise pode fazer com uma das economias mais ricas do mundo, ameaçada até de "falência nacional".
Ontem mesmo, o Reino Unido ainda ameaçou ir à Justiça contra o governo da Islândia, pedindo indenizações de US$ 1,5 bilhão. Mais de cem prefeituras inglesas tinham investimentos em bancos islandeses e agora têm suas contas ameaçadas.
A Islândia também pode se tornar o primeiro país rico a pedir ajuda ao Fundo Monetário Internacional (FMI). "Nunca pensamos que isso aconteceria. A população vive um clima de insegurança", disse ao Estado um dos principais economistas do país, Snjólfur Ólafsson, professor do Instituto de Estudos Econômicos da Universidade de Reykjavik.
A Islândia tem apenas 304 mil habitantes, pouco menos que a população de Jundiaí (SP). Mas conseguiu nos últimos anos tornar-se um centro financeiro e referência mundial em qualidade de vida. Tem um dos índices de desenvolvimento social mais altos do planeta, elevada expectativa de vida, sistema educacional exemplar, 1% de desemprego e um dos maiores PIBs per capita: US$ 40 mil por ano por pessoa, mais de dez vezes superior ao do Brasil. Para os 304 mil habitantes, existem 340 mil celulares no país.
O problema é que grande parte dessa riqueza não estava baseada em sua produção de bacalhau e, sim, em atrair o sistema financeiro para a ilha. Os recursos depositados em bancos na Islândia chegaram a US$ 100 bilhões, ante um PIB de US$ 14 bilhões do país.
Depois de sucessivas crises nos anos 70 e 80, inflação de 100% e características de uma economia latino-americana, a Islândia optou por um modelo de desregulação total da economia. Friedman, Hayek e outros intelectuais do liberalismo não só apontaram o país como exemplo nos anos 90, como faziam freqüentes viagens e o transformaram em um campo de testes.
O governo privatizou empresas, a indústria de pesca, agência de viagens, gráficas, telefônicas e, claro, os bancos. O imposto de renda caiu pela metade e a carga tributária sobre fortunas foi abolida.
Mas, hoje, todos os modelos de desregulação estão sendo colocados no lixo pelo governo, que acaba de nacionalizar seus três maiores bancos. Ontem, foi a vez do Kaupthing, o maior banco do país, que em 26 de setembro declarou que o ano acabaria com "bons lucros". O Landsbanki e Glitnir também já haviam sido nacionalizados.
A bolsa de valores fechou, assim como todas as operações de câmbio, depois de uma desvalorização de mais de 50% da moeda local. As ações somente voltarão a ser negociadas na semana que vem, e o primeiro-ministro, Geir Haarde, já fala em risco de "falência nacional". Segundo ele, o país pagou o preço de estar se arriscando com volumes de dinheiro bem acima do que a economia de fato produz.
Mas o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, reclama que 300 mil clientes britânicos estão sem acesso a seus investimentos. O volume chegaria a quase US$ 1,5 bilhão, e o temor de Londres é de que o governo islandês não tenha como garantir esses depósitos. O resultado é que mais de cem prefeituras no Reino Unido também podem quebrar. Segundo o ministro das Finanças, Alastair Darling, o governo da Islândia reconhece que "não tinha como honrar suas obrigações". Em represália, Londres já congelou as ações dos bancos islandeses no Reino Unido.
"Aprendemos que não é sábio para um pequeno país tentar ter um papel de liderança no sistema financeiro internacional", disse o primeiro-ministro. O país, no melhor estilo de uma economia emergente, está recebendo uma missão do FMI. Além disso, a Rússia já anunciou que está disposta a emprestar 4 bilhões ao país.
Ontem mesmo, o Reino Unido ainda ameaçou ir à Justiça contra o governo da Islândia, pedindo indenizações de US$ 1,5 bilhão. Mais de cem prefeituras inglesas tinham investimentos em bancos islandeses e agora têm suas contas ameaçadas.
A Islândia também pode se tornar o primeiro país rico a pedir ajuda ao Fundo Monetário Internacional (FMI). "Nunca pensamos que isso aconteceria. A população vive um clima de insegurança", disse ao Estado um dos principais economistas do país, Snjólfur Ólafsson, professor do Instituto de Estudos Econômicos da Universidade de Reykjavik.
A Islândia tem apenas 304 mil habitantes, pouco menos que a população de Jundiaí (SP). Mas conseguiu nos últimos anos tornar-se um centro financeiro e referência mundial em qualidade de vida. Tem um dos índices de desenvolvimento social mais altos do planeta, elevada expectativa de vida, sistema educacional exemplar, 1% de desemprego e um dos maiores PIBs per capita: US$ 40 mil por ano por pessoa, mais de dez vezes superior ao do Brasil. Para os 304 mil habitantes, existem 340 mil celulares no país.
O problema é que grande parte dessa riqueza não estava baseada em sua produção de bacalhau e, sim, em atrair o sistema financeiro para a ilha. Os recursos depositados em bancos na Islândia chegaram a US$ 100 bilhões, ante um PIB de US$ 14 bilhões do país.
Depois de sucessivas crises nos anos 70 e 80, inflação de 100% e características de uma economia latino-americana, a Islândia optou por um modelo de desregulação total da economia. Friedman, Hayek e outros intelectuais do liberalismo não só apontaram o país como exemplo nos anos 90, como faziam freqüentes viagens e o transformaram em um campo de testes.
O governo privatizou empresas, a indústria de pesca, agência de viagens, gráficas, telefônicas e, claro, os bancos. O imposto de renda caiu pela metade e a carga tributária sobre fortunas foi abolida.
Mas, hoje, todos os modelos de desregulação estão sendo colocados no lixo pelo governo, que acaba de nacionalizar seus três maiores bancos. Ontem, foi a vez do Kaupthing, o maior banco do país, que em 26 de setembro declarou que o ano acabaria com "bons lucros". O Landsbanki e Glitnir também já haviam sido nacionalizados.
A bolsa de valores fechou, assim como todas as operações de câmbio, depois de uma desvalorização de mais de 50% da moeda local. As ações somente voltarão a ser negociadas na semana que vem, e o primeiro-ministro, Geir Haarde, já fala em risco de "falência nacional". Segundo ele, o país pagou o preço de estar se arriscando com volumes de dinheiro bem acima do que a economia de fato produz.
Mas o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, reclama que 300 mil clientes britânicos estão sem acesso a seus investimentos. O volume chegaria a quase US$ 1,5 bilhão, e o temor de Londres é de que o governo islandês não tenha como garantir esses depósitos. O resultado é que mais de cem prefeituras no Reino Unido também podem quebrar. Segundo o ministro das Finanças, Alastair Darling, o governo da Islândia reconhece que "não tinha como honrar suas obrigações". Em represália, Londres já congelou as ações dos bancos islandeses no Reino Unido.
"Aprendemos que não é sábio para um pequeno país tentar ter um papel de liderança no sistema financeiro internacional", disse o primeiro-ministro. O país, no melhor estilo de uma economia emergente, está recebendo uma missão do FMI. Além disso, a Rússia já anunciou que está disposta a emprestar 4 bilhões ao país.
Mundo está à beira da recessão, diz o FMI
O mundo está à beira de uma recessão e não há solução nacional para uma crise como esta, disse ontem o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn. "Cooperação e coordenação nas ações são o preço do êxito", acrescentou.
A ação mais urgente, segundo ele, é restabelecer a confiança nos mercados financeiros e a medida mais importante para isso deve ser a recapitalização dos bancos. "Não sairemos desta situação sem recapitalizar suficientemente as instituições financeiras", insistiu. (Ler abaixo artigo especial de Strauss-Khan.)
A cooperação, disse o diretor-gerente do FMI, tem de ir muito além do entendimento entre os membros do Grupo dos Sete (G-7), formado pelas maiores potências capitalistas (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá). É preciso, segundo ele, incluir no grupo mais quatro, cinco importantes atores da economia mundial. Mesmo assim, as soluções terão de valer para todos os países, "pois agora a crise envolve todo o mundo".
A ampliação do G-7 (G-8, quando a Rússia participa) é uma reivindicação do Brasil e de outros grandes países emergentes, mas o Strauss-Kahn não entrou nesses detalhes.
Ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais das sete principais potências devem reunir-se hoje no Departamento do Tesouro americano. Essa reunião ocorre tradicionalmente como evento paralelo às assembléias do FMI. Os comunicados desses encontros são, em geral, previsíveis, mas, desta vez, o assunto é a maior crise desde os anos 30.
Já houve nesta semana uma grande ação coordenada, na quarta-feira, quando bancos centrais das economias mais desenvolvidas cortaram 0,5 ponto porcentual dos juros básicos. A iniciativa, embora considerada positiva, foi insuficiente para mudar o humor nos mercados. As bolsas continuaram a fechar em queda nos últimos dois dias. Ontem, o Índice Dow Jones da Bolsa de Nova York despencou 7,3%, levando o Ibovespa novamente para baixo.
A discussão no G-7 deverá envolver propostas de ações mais ambiciosas, como os amplos programas de auxílio a instituições financeiras já aprovados nos Estados Unidos e no Reino Unido. O diretor-gerente do FMI, normalmente convidado para esses encontros do G-7, deverá insistir nas idéias de recapitalização, recolhimento de ativos podres (já autorizado pelo Congresso americano) e garantias para os depositantes.
Haverá pressão, provavelmente, sobre a maioria dos membros da União Européia e sobre o Japão. Dentre os europeus, só o governo do Reino Unido tem acompanhado mais ou menos de perto a ação mais ampla desenvolvida pelas autoridades americanas.
Ontem, Strauss-Kahn cobrou cooperação principalmente dos governos da Europa, insistindo num ponto já tocado por outros dirigentes do FMI. Mas ele demonstra ambicionar um papel mais amplo para o FMI. Esta crise, insistiu, não será resolvida só com os instrumentos monetários e fiscais. Os governos terão de usar também instrumentos financeiros. O Fundo, segundo ele, é a única instituição internacional capaz de trabalhar com os vínculos entre os setores financeiro e real.
No sábado, o espetáculo será mais amplo, com a reunião extraordinária, marcada para as 18 horas, do Grupo dos 20 (G-20), formado por grandes economias desenvolvidas e emergentes. A convocação do encontro foi sugerida pelo secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, presidente do grupo neste ano.
Além dos membros do G-7, o G-20 inclui Brasil, África do Sul, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, China, Índia, Indonésia, México, Rússia, Coréia do Sul e Turquia. A União Européia também é representada como bloco.
Os ministros do Brasil e de outros emergentes poderão reclamar da crise causada pelas instituições financeiras do mundo rico e cobrar ações corretivas, mas a turbulência internacional afeta seus países de forma diferenciada. Apresentam graus diferentes de vulnerabilidade nas contas externas e diferentes níveis de inflação e de solidez nas contas públicas.
Para o Brasil, comentou Strauss-Kahn, a crise terá como principal conseqüência a redução do crescimento, de 5,2% em 2008 para 3,5% em 2009, segundo a estimativa contida no Panorama Econômico Mundial divulgado no dia anterior.
Nenhum país está imune à crise, repetiu o diretor-gerente do FMI, "mas o Brasil tem fundamentos fortes, a política econômica foi administrada corretamente nos últimos anos, um monte de reservas foi acumulado e a economia do País está em boa forma".
Bem mais complicada que a dos emergentes é a situação dos países pobres, em geral importadores de alimentos e, em muitos casos, também de petróleo. É a "outra crise", segundo a expressão de Strauss-Kahn.
O presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, tratou principalmente da situação desses países, na entrevista concedida também ontem na sede do FMI. Em julho, numa reunião do G-8, lembrou Zoellick, ele mencionou o duplo impacto sofrido pelos países em desenvolvimento - a alta de preços do petróleo e da comida.
"Agora, o golpe é triplo - comida, combustível e finanças - ameaçam não só derrubar as pessoas pobres, mas mantê-las no chão", disse Zoellick. Aos países mais pobres e sujeitos a dificuldades maiores, o Fundo já oferece ajuda financeira e assistência técnica, por meio de um programa especial, lembrou Strauss-Kahn, e continuará a oferecer enquanto se prolongarem os efeitos da crise.
Esses países foram atingidos principalmente pelo aumento dos preços de produtos básicos e sua situação ainda é grave, mesmo com o recuo das cotações dos produtos agrícolas e do petróleo. E os pobres, lembrou Strauss-Khan, são os primeiros a ser afetados pela inflação.
A ação mais urgente, segundo ele, é restabelecer a confiança nos mercados financeiros e a medida mais importante para isso deve ser a recapitalização dos bancos. "Não sairemos desta situação sem recapitalizar suficientemente as instituições financeiras", insistiu. (Ler abaixo artigo especial de Strauss-Khan.)
A cooperação, disse o diretor-gerente do FMI, tem de ir muito além do entendimento entre os membros do Grupo dos Sete (G-7), formado pelas maiores potências capitalistas (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá). É preciso, segundo ele, incluir no grupo mais quatro, cinco importantes atores da economia mundial. Mesmo assim, as soluções terão de valer para todos os países, "pois agora a crise envolve todo o mundo".
A ampliação do G-7 (G-8, quando a Rússia participa) é uma reivindicação do Brasil e de outros grandes países emergentes, mas o Strauss-Kahn não entrou nesses detalhes.
Ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais das sete principais potências devem reunir-se hoje no Departamento do Tesouro americano. Essa reunião ocorre tradicionalmente como evento paralelo às assembléias do FMI. Os comunicados desses encontros são, em geral, previsíveis, mas, desta vez, o assunto é a maior crise desde os anos 30.
Já houve nesta semana uma grande ação coordenada, na quarta-feira, quando bancos centrais das economias mais desenvolvidas cortaram 0,5 ponto porcentual dos juros básicos. A iniciativa, embora considerada positiva, foi insuficiente para mudar o humor nos mercados. As bolsas continuaram a fechar em queda nos últimos dois dias. Ontem, o Índice Dow Jones da Bolsa de Nova York despencou 7,3%, levando o Ibovespa novamente para baixo.
A discussão no G-7 deverá envolver propostas de ações mais ambiciosas, como os amplos programas de auxílio a instituições financeiras já aprovados nos Estados Unidos e no Reino Unido. O diretor-gerente do FMI, normalmente convidado para esses encontros do G-7, deverá insistir nas idéias de recapitalização, recolhimento de ativos podres (já autorizado pelo Congresso americano) e garantias para os depositantes.
Haverá pressão, provavelmente, sobre a maioria dos membros da União Européia e sobre o Japão. Dentre os europeus, só o governo do Reino Unido tem acompanhado mais ou menos de perto a ação mais ampla desenvolvida pelas autoridades americanas.
Ontem, Strauss-Kahn cobrou cooperação principalmente dos governos da Europa, insistindo num ponto já tocado por outros dirigentes do FMI. Mas ele demonstra ambicionar um papel mais amplo para o FMI. Esta crise, insistiu, não será resolvida só com os instrumentos monetários e fiscais. Os governos terão de usar também instrumentos financeiros. O Fundo, segundo ele, é a única instituição internacional capaz de trabalhar com os vínculos entre os setores financeiro e real.
No sábado, o espetáculo será mais amplo, com a reunião extraordinária, marcada para as 18 horas, do Grupo dos 20 (G-20), formado por grandes economias desenvolvidas e emergentes. A convocação do encontro foi sugerida pelo secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, presidente do grupo neste ano.
Além dos membros do G-7, o G-20 inclui Brasil, África do Sul, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, China, Índia, Indonésia, México, Rússia, Coréia do Sul e Turquia. A União Européia também é representada como bloco.
Os ministros do Brasil e de outros emergentes poderão reclamar da crise causada pelas instituições financeiras do mundo rico e cobrar ações corretivas, mas a turbulência internacional afeta seus países de forma diferenciada. Apresentam graus diferentes de vulnerabilidade nas contas externas e diferentes níveis de inflação e de solidez nas contas públicas.
Para o Brasil, comentou Strauss-Kahn, a crise terá como principal conseqüência a redução do crescimento, de 5,2% em 2008 para 3,5% em 2009, segundo a estimativa contida no Panorama Econômico Mundial divulgado no dia anterior.
Nenhum país está imune à crise, repetiu o diretor-gerente do FMI, "mas o Brasil tem fundamentos fortes, a política econômica foi administrada corretamente nos últimos anos, um monte de reservas foi acumulado e a economia do País está em boa forma".
Bem mais complicada que a dos emergentes é a situação dos países pobres, em geral importadores de alimentos e, em muitos casos, também de petróleo. É a "outra crise", segundo a expressão de Strauss-Kahn.
O presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, tratou principalmente da situação desses países, na entrevista concedida também ontem na sede do FMI. Em julho, numa reunião do G-8, lembrou Zoellick, ele mencionou o duplo impacto sofrido pelos países em desenvolvimento - a alta de preços do petróleo e da comida.
"Agora, o golpe é triplo - comida, combustível e finanças - ameaçam não só derrubar as pessoas pobres, mas mantê-las no chão", disse Zoellick. Aos países mais pobres e sujeitos a dificuldades maiores, o Fundo já oferece ajuda financeira e assistência técnica, por meio de um programa especial, lembrou Strauss-Kahn, e continuará a oferecer enquanto se prolongarem os efeitos da crise.
Esses países foram atingidos principalmente pelo aumento dos preços de produtos básicos e sua situação ainda é grave, mesmo com o recuo das cotações dos produtos agrícolas e do petróleo. E os pobres, lembrou Strauss-Khan, são os primeiros a ser afetados pela inflação.
Roubini fala em depressão e crise sistêmica global
O economista Nouriel Roubini, o bola de cristal de ouro do mundo, que previu tudo isso que está aí, mandou para seus clientes uma análise demolidora sobre os próximos riscos.
O que pode acontecer de pior a um sistema financeiro? O risco sistêmico. Pior que isso só um risco sistêmico global. É o que ele acha que pode acontecer agora.
O que de pior pode acontecer à economia real? Uma depressão. Pois esta palavra está na análise dele.
O pior de Roubini é que quando ele previu a recessão, a crise financeira e a quebra de instituições até como a gigante Fannie Mae e Freddy Mac ele foi ridicularizado pelos economistas do mundo inteiro. Riram dele. Isso foi em 2006. Em 2007, ninguém mais achava muita graça, mas a frase mais comum sobre que ouvi de alguns bons economistas brasileiros é: até relógio está certo duas vezes por dia. O pior de Roubini é que ele tem estado certo o tempo todo. E agora dobra a aposta. "O mundo está em um severo risco de um derretimento financeira global sistêmico e uma severa depressão global".
Ele acha que por isso é necessário uma ação urgente global. Como o G-7 está reunido neste fim de semana, quem sabe eles são tomados pelo sentido de urgência.
Quando ele fala global, ele está falando principalmente de "Estados Unidos e economias desenvolvidas". Ufa! nunca gostei tanto de não estar na lista dos países mais ricos. O problema é que os Estados Unidos, Europa, Japão, Canadá, Austrália, Nova Zelândia representam, ele lembrou, 55% do PIB mundial e por isso afetarão todos os outros países se entrarem todos em recessão.
-Por isso, mesmo países com bom desempenho como os Brics - Brasil, Russia, India e China, estão sob ameaça de um "hard landing" ( uma queda forte e rápida do nível de atividade).
A tese dele desde o começo é que existia um sistema bancário na sombra. São os fundos, bancos de investimento, brokers dealers, não bancos emissores de hipotecas, firmas de private equities, tudo aquilo que estava fora do radar das autoridades. Ele disse que agora está se vendo um desmonte desse sistema das sombras e isso é que está por trás da queda livre das ações e da paralisação do sistema bancário com as taxas de riscos subindo muito e os negócios parando.
Previsões pessimistas têm uma vantagem: alertam as autoridades para o tamanho do risco e por isso ajudam a prevenir o pior. Essa é a grande vantagem de Roubini, que tem sido o mais pessimista dos economistas do mundo e tem acertado com uma precisão de relógio, infelizmente. Em parte porque quem deveria levá-lo a sério ainda não levou. Acham que ele é um exagerado.
O que pode acontecer de pior a um sistema financeiro? O risco sistêmico. Pior que isso só um risco sistêmico global. É o que ele acha que pode acontecer agora.
O que de pior pode acontecer à economia real? Uma depressão. Pois esta palavra está na análise dele.
O pior de Roubini é que quando ele previu a recessão, a crise financeira e a quebra de instituições até como a gigante Fannie Mae e Freddy Mac ele foi ridicularizado pelos economistas do mundo inteiro. Riram dele. Isso foi em 2006. Em 2007, ninguém mais achava muita graça, mas a frase mais comum sobre que ouvi de alguns bons economistas brasileiros é: até relógio está certo duas vezes por dia. O pior de Roubini é que ele tem estado certo o tempo todo. E agora dobra a aposta. "O mundo está em um severo risco de um derretimento financeira global sistêmico e uma severa depressão global".
Ele acha que por isso é necessário uma ação urgente global. Como o G-7 está reunido neste fim de semana, quem sabe eles são tomados pelo sentido de urgência.
Quando ele fala global, ele está falando principalmente de "Estados Unidos e economias desenvolvidas". Ufa! nunca gostei tanto de não estar na lista dos países mais ricos. O problema é que os Estados Unidos, Europa, Japão, Canadá, Austrália, Nova Zelândia representam, ele lembrou, 55% do PIB mundial e por isso afetarão todos os outros países se entrarem todos em recessão.
-Por isso, mesmo países com bom desempenho como os Brics - Brasil, Russia, India e China, estão sob ameaça de um "hard landing" ( uma queda forte e rápida do nível de atividade).
A tese dele desde o começo é que existia um sistema bancário na sombra. São os fundos, bancos de investimento, brokers dealers, não bancos emissores de hipotecas, firmas de private equities, tudo aquilo que estava fora do radar das autoridades. Ele disse que agora está se vendo um desmonte desse sistema das sombras e isso é que está por trás da queda livre das ações e da paralisação do sistema bancário com as taxas de riscos subindo muito e os negócios parando.
Previsões pessimistas têm uma vantagem: alertam as autoridades para o tamanho do risco e por isso ajudam a prevenir o pior. Essa é a grande vantagem de Roubini, que tem sido o mais pessimista dos economistas do mundo e tem acertado com uma precisão de relógio, infelizmente. Em parte porque quem deveria levá-lo a sério ainda não levou. Acham que ele é um exagerado.
US$ 4 trilhões desapareceram das Bolsas esta semana
A gente se animava com algumas horas de alívio, mas durou pouco. Está virando desespero novamente. O alívio durou pouco porque toda hora aparece um novo fantasma voando. Por exemplo, muitos investidores que compraram papéis do Lehman Brothers tinham se garantido e comprado também um seguro contra esse papel. Quem vendeu o seguro agora vai ter que pagar. Portanto, o Lehman Brothers quebrou há quase um mês, no dia 15 de setembro, mas ainda está provocando medo e prejuízo.
A Islândia, que é um país muito pequeno, possui depósitos nos bancos que são dez vezes o seu PIB. E na quinta-feira, o governo avisou que os bancos estão quebrados e que ele só vai garantir depósito dos islandeses. Com isso, há muito dinheiro inglês que agora está congelado na terra do gelo. Em resposta, a Inglaterra reagiu usando uma lei antiterror dizendo que também está congelando dinheiro islandês no país.
Só nesta semana, US$ 4 trilhões desapareceram das Bolsas de Valores. São quase R$ 9 trilhões. Três Brasis desapareceram. Este dinheiro, na verdade, é um dinheiro um pouco virtual, porque as pessoas só o teriam na mão se vendessem as ações. O prejuízo só vira realidade se você vende ação, tornando-o real.
O novo plano do secretário de Tesouro americano, Henry Paulson, de ser sócio dos bancos e ter ações dos bancos representa o fim do capitalismo. Nos Estados Unidos, o Tesouro vai ser banqueiro, dono dos bancos, significa também que aquele plano de US$ 700 bilhões tão falado, tão comentado e tão discutido, fracassou, porque já estão passando para um plano B, que é virar donos dos bancos.
As perdas milionárias não se resumem às Bolsas. A crise fez novas vítimas no setor produtivo. No Brasil, a queda das ações tem outra razão, que é só nossa: os prejuízos das empresas brasileiras com o dólar alto.
Sadia e Aracruz já anunciaram seus prejuízos. A Votorantim, uma das maiores empresas brasileiras, disse que perdeu dinheiro também. Não anunciou quanto, mas tranqüilizou o mercado: já encerrou todos os negócios no futuro de dólar, aquelas apostas de que o dólar não subiria e que estão prejudicando as empresas, provocando prejuízos.
Na quinta-feira, foi a Cosan, empresa de açúcar e álcool, a anunciar que o dólar alto vai aumentar suas receitas, mas também a sua dívida. Empresas imobiliárias também estão caindo na Bolsa por medo de que o setor tenha que adiar planos e investimentos.
O Banco Central está se preparando para dias piores. A regulamentação dessa última medida provisória mostrou que ele pode ir muito além da ação tradicional do BC.
O que é normal? Emprestar pelo redesconto, esta espécie de “cheque especial” para os bancos, por prazo curto. Nesses casos, o Banco Central recebe como garantia título público. Isso sempre foi feito. Agora, o BC poderá aceitar como garantia empréstimo consignado, crédito para compra de veículo, financiamento imobiliário – o que os bancos tiverem em carteira.
O BC pode emprestar por um ano para os bancos, mas interfere na administração: limita os salários dos executivos e os dividendos dos acionistas. Isto é uma cópia do que foi feito nos Estados Unidos.
Mas o Brasil não tem uma situação como a dos americanos, sempre é bom frisar isso. O Banco Central está apenas querendo ter agilidade caso essa crise de crédito externo traga algum problema para bancos brasileiros. A venda de reservas melhorou o clima no mercado de câmbio, mas talvez ele tenha que fazer novas vendas de reserva. Tem gente que critica, mas as reservas eram para enfrentar dias chuvosos e está chovendo um bocado.
A Islândia, que é um país muito pequeno, possui depósitos nos bancos que são dez vezes o seu PIB. E na quinta-feira, o governo avisou que os bancos estão quebrados e que ele só vai garantir depósito dos islandeses. Com isso, há muito dinheiro inglês que agora está congelado na terra do gelo. Em resposta, a Inglaterra reagiu usando uma lei antiterror dizendo que também está congelando dinheiro islandês no país.
Só nesta semana, US$ 4 trilhões desapareceram das Bolsas de Valores. São quase R$ 9 trilhões. Três Brasis desapareceram. Este dinheiro, na verdade, é um dinheiro um pouco virtual, porque as pessoas só o teriam na mão se vendessem as ações. O prejuízo só vira realidade se você vende ação, tornando-o real.
O novo plano do secretário de Tesouro americano, Henry Paulson, de ser sócio dos bancos e ter ações dos bancos representa o fim do capitalismo. Nos Estados Unidos, o Tesouro vai ser banqueiro, dono dos bancos, significa também que aquele plano de US$ 700 bilhões tão falado, tão comentado e tão discutido, fracassou, porque já estão passando para um plano B, que é virar donos dos bancos.
As perdas milionárias não se resumem às Bolsas. A crise fez novas vítimas no setor produtivo. No Brasil, a queda das ações tem outra razão, que é só nossa: os prejuízos das empresas brasileiras com o dólar alto.
Sadia e Aracruz já anunciaram seus prejuízos. A Votorantim, uma das maiores empresas brasileiras, disse que perdeu dinheiro também. Não anunciou quanto, mas tranqüilizou o mercado: já encerrou todos os negócios no futuro de dólar, aquelas apostas de que o dólar não subiria e que estão prejudicando as empresas, provocando prejuízos.
Na quinta-feira, foi a Cosan, empresa de açúcar e álcool, a anunciar que o dólar alto vai aumentar suas receitas, mas também a sua dívida. Empresas imobiliárias também estão caindo na Bolsa por medo de que o setor tenha que adiar planos e investimentos.
O Banco Central está se preparando para dias piores. A regulamentação dessa última medida provisória mostrou que ele pode ir muito além da ação tradicional do BC.
O que é normal? Emprestar pelo redesconto, esta espécie de “cheque especial” para os bancos, por prazo curto. Nesses casos, o Banco Central recebe como garantia título público. Isso sempre foi feito. Agora, o BC poderá aceitar como garantia empréstimo consignado, crédito para compra de veículo, financiamento imobiliário – o que os bancos tiverem em carteira.
O BC pode emprestar por um ano para os bancos, mas interfere na administração: limita os salários dos executivos e os dividendos dos acionistas. Isto é uma cópia do que foi feito nos Estados Unidos.
Mas o Brasil não tem uma situação como a dos americanos, sempre é bom frisar isso. O Banco Central está apenas querendo ter agilidade caso essa crise de crédito externo traga algum problema para bancos brasileiros. A venda de reservas melhorou o clima no mercado de câmbio, mas talvez ele tenha que fazer novas vendas de reserva. Tem gente que critica, mas as reservas eram para enfrentar dias chuvosos e está chovendo um bocado.
terça-feira, 7 de outubro de 2008
Brigitte Bardot chama Sarah Palin de "irresponsável"
A ex-atriz francesa Brigitte Bardot enviou nesta terça-feira uma carta aberta a Sarah Palin, governadora do Alasca republicana que concorre para vice-presidente dos Estados Unidos, acusando-a de "total irresponsabilidade" com o ambiente. "Em nome do respeito e da preservação da natureza, desejo que você perca essas eleições, já que o mundo sairá ganhando."
Bardot é presidente da fundação de defesa dos animais que leva seu nome.
AP
Sarah Palin tem o hobby de caçar no Alasca; ativista, a ex-atriz francesa Brigitte Bardot criticou a candidata a vice republicana
Sarah Palin tem o hobby de caçar no Alasca; ativista, a ex-atriz francesa Brigitte Bardot criticou a candidata a vice republicana
"Senhora, ao negar a responsabilidade dos seres humanos no aquecimento global, ao militar em favor do porte de armas e do direito de dispará-las no que quer que seja [Palin tem como hobby caçar], e com falas de uma desconcertante estupidez, você envergonha as mulheres e representa uma terrível ameaça, uma verdadeira catástrofe ecológica", escreveu a ex-atriz.
Bardot ressaltou que Palin defende a exploração de petróleo na Reserva Nacional de Vida Selvagem e é contra a proteção de ursos polares, ameaçados pelo aquecimento global, "o que é testemunho da sua total irresponsabilidade, da sua incapacidade de proteger ou de, simplesmente, respeitar a vida animal".
Recentemente, Palin recuou da afirmação de que o aquecimento global não é fruto dos atos humanos para se alinhar ao companheiro de chapa, John McCain. Ela afirmou que, de fato, "os cientistas provaram" que as ações humanas "certamente podem estar contribuindo para a questão do aquecimento global".
No debate contra o candidato a vice democrata, Joe Biden, na última quinta-feira (2), Palin disse que quer "fazer algo" contra o aquecimento global. "Não vou culpar só as atividades humanas pela mudança climática pois o clima do mundo tem fases cíclicas, e na história temos visto mudanças".
Fonte: Folha online
A crise já é global e não pára - Miriam Leitao
A crise é global e não só dos EUA, deu o recado o presidente americano, George W. Bush. Algumas das medidas que já aconteceram em vários países pelo mundo:
- EUA: recessão, bancos quebrados e pacote de socorro de US$ 700 bilhões; país de nascimento do famoso “sub-prime”. Bush que agora fala diariamente sobre o assunto admitiu que a crise americana virou uma crise global.
- Inglaterra: recessão e socorro a bancos Northern Rock, e Bradford & Bingley.
- União Européia: países em recessão, estatização de banco na Alemanha, reuniões constantes de líderes, elevação de garantias para depósitos.
- Islândia: estatização de todos os bancos do país e um pedido de empréstimo à Rússia.
- Irlanda: governo se comprometeu e é obrigado a garantir depósitos bancários para evitar corrida e saques.
- Rússia: Injeção de quase US$ 40 bi em bancos estatais. Bolsas paralisam por quedas no pregão várias vezes.
- Brasil: dois circuit breaks em um dia, pela primeira vez desde 1999, pacote do governo injetar liquidez no mercado.
- Austrália: corte de juros em 1 ponto percentual.
- Israel: corte de juros em 0,50 ponto percentual.
- Bélgica: elevou a garantia bancária até US$100 mil.
- Espanha: criou um fundo de 30 bilhões de euros e elevou garantias para depósitos.
- Dinamarca: subiu juros para 5% para proteger a moeda.
E com certeza teve mais. Quem lembrar, pode comentar.
- EUA: recessão, bancos quebrados e pacote de socorro de US$ 700 bilhões; país de nascimento do famoso “sub-prime”. Bush que agora fala diariamente sobre o assunto admitiu que a crise americana virou uma crise global.
- Inglaterra: recessão e socorro a bancos Northern Rock, e Bradford & Bingley.
- União Européia: países em recessão, estatização de banco na Alemanha, reuniões constantes de líderes, elevação de garantias para depósitos.
- Islândia: estatização de todos os bancos do país e um pedido de empréstimo à Rússia.
- Irlanda: governo se comprometeu e é obrigado a garantir depósitos bancários para evitar corrida e saques.
- Rússia: Injeção de quase US$ 40 bi em bancos estatais. Bolsas paralisam por quedas no pregão várias vezes.
- Brasil: dois circuit breaks em um dia, pela primeira vez desde 1999, pacote do governo injetar liquidez no mercado.
- Austrália: corte de juros em 1 ponto percentual.
- Israel: corte de juros em 0,50 ponto percentual.
- Bélgica: elevou a garantia bancária até US$100 mil.
- Espanha: criou um fundo de 30 bilhões de euros e elevou garantias para depósitos.
- Dinamarca: subiu juros para 5% para proteger a moeda.
E com certeza teve mais. Quem lembrar, pode comentar.
''The giant sucking sound'' Ilan Goldfajn
As conseqüências da crise chegaram definitivamente ao Brasil. Ao fundo, escuta-se um som gigante. É o crédito sendo sugado e desaparecendo em todos os cantos do mundo. Quem precisa de crédito para terminar um projeto ou simplesmente financiar seu negócio está com dificuldades: o crédito doméstico tem ficado mais escasso e caro, como resultado da busca de alternativas ao financiamento externo. O Brasil está (estava?) no auge do ciclo de investimentos. Como será o fim desta crise? Como o Brasil deve reagir?
Nos EUA, o "giant sucking sound" (som de sucção gigante) costuma se referir à perda de empregos para o resto do mundo. Ross Perot, candidato à eleição presidencial americana de 1992, cunhou a expressão na sua investida contra o tratado de livre comércio dos EUA com o México (e Canadá). Depois, outros políticos a usaram temendo perdas de emprego para a Europa Oriental e, finalmente, para a China. Não ocorreram as temidas perdas de emprego nos EUA. Agora, essa expressão pode ser usada no sentido contrário. Quem estaria sugando o resto do mundo é o sistema financeiro nos EUA (e na Europa). Sugando capital e crédito, não empregos. E o resto do mundo está sentindo essa pressão.
Há pelo menos dois canais de transmissão da crise externa para o Brasil. O primeiro é o canal financeiro. A crise financeira internacional caracteriza-se por uma necessidade aguda de capital por parte das instituições financeiras que vendem ativos e restringem o crédito. A redução do crédito atinge clientes no mundo todo, sejam americanos, chineses ou brasileiros. A falta de crédito espalha-se pelo mundo. Por exemplo, no momento em que clientes brasileiros ficam sem crédito lá fora, recorrem aos bancos no Brasil, o que aumenta sobremaneira a necessidade de recursos e pressiona o mercado aqui dentro. O crédito doméstico fica escasso e consideravelmente mais caro. A falta de crédito também se espalha pelo receio de dias piores pela frente, questiona-se o grau de inadimplência adiante.
O leitor deve estar-se perguntando: para onde está indo todo esse dinheiro que se está retraindo? O que significa fazer caixa, recompor capital?
No limite, significa aplicar os recursos em ativos considerados seguros (baixíssimo risco de calote) e de alta liquidez (disponíveis imediatamente sem custo). Os investidores têm desconfiado cada vez mais dos bancos e de outras instituições financeiras. Resta investir nos governos, comprando seus títulos, que estão cada vez mais demandados e, conseqüentemente, mais caros (pagando juros cada vez menores). Paradoxal, para alguns (já que os EUA são o centro da crise), os títulos do governo americano têm sido considerados os mais seguros e o dólar se tem valorizando em relação às outras moedas do mundo.
Na medida em que o fluxo de recursos está indo em direção aos governos, estes têm tentado reciclá-los de volta ao sistema, na medida do possível. Os bancos centrais das economias desenvolvidas têm oferecido linhas de financiamento e empréstimos aos bancos. Os governos também têm resgatado instituições (como a seguradora AIG, nos EUA, e o Banco Fortis, na Europa) e aprovado pacotes de ajuda (como os U$ 700 bilhões dos EUA). Mas o aperto continua.
O segundo canal de transmissão da crise é via queda dos preços e volumes das exportações brasileiras. Nos últimos anos, com o bom momento da economia mundial, tanto o volume quanto os preços das nossas exportações subiram consideravelmente (os preços subiram 120% de janeiro de 2003 a julho 2008), gerando superávits comerciais, assim como as importações, permitindo um crescimento maior da economia, sem aumento da inflação. Agora, os preços das exportações (bem como os volumes) estão recuando, invertendo a direção dos efeitos acima.
Qual a conseqüência desta crise? O PIB mundial deve desacelerar significativamente, assim como o do Brasil. Economistas estimam - na medida do possível, dada a incerteza elevada, hoje - um crescimento médio em torno de 3%-3,5% para o ano que vem. Essa taxa poderia ser considerada moderada, mas não muito. Se o Brasil parar de crescer a partir de janeiro, a média do produto interno bruto (PIB) de 2009 ainda vai ser maior que a média de 2008 em 1,4% (o chamado "carry" do crescimento). Um crescimento de 3% em 2009 significa um crescimento marginal nesse ano em torno de apenas (ou será ainda?) 1,6%.
Qual deveria ser a reação de política econômica no Brasil? Deveríamos ter uma política anticíclica tentando substituir a falta de crédito externo pelo interno?
Na minha visão, nem tanto ao mar, que afunde todo mundo, nem tanto à terra, de forma a ignorar a necessidade do ajuste aos novos tempos. Por um lado, é fundamental assegurar o funcionamento dos mercados no Brasil, provendo liquidez quando há paralisia, evitando que haja uma parada brusca de crédito no País, que pode ter conseqüências mais acentuadas sobre a economia brasileira. Nesse sentido, o Banco Central tem lançado medidas como a redução de compulsórios, em casos específicos, e o leilão de linhas de financiamento em dólares. Por outro lado, uma intervenção maciça do governo, por meio dos bancos públicos, para tentar manter o crescimento nos níveis atuais (5,5%-6%), poderia ser ineficaz, apenas inflacionária (por exemplo, essa política pressionaria a conta corrente, num ambiente sem financiamento internacional adequado, e levaria à depreciação do câmbio).
Em suma, há um som de sucção no ar, o crédito está-se retraindo no mundo. O período de bonança na economia mundial rapidamente se esvaiu, assim como o período de opções fáceis. Decisões adequadas neste momento podem significar uma melhor travessia da crise e uma saída em posição internacional favorável no futuro.
Ilan Goldfajn, sócio da Ciano Investimentos, diretor do Iepe da Casa das Garças, é professor da PUC-Rio. E-mail: igoldfajn@cianoinvest.com.br
Nos EUA, o "giant sucking sound" (som de sucção gigante) costuma se referir à perda de empregos para o resto do mundo. Ross Perot, candidato à eleição presidencial americana de 1992, cunhou a expressão na sua investida contra o tratado de livre comércio dos EUA com o México (e Canadá). Depois, outros políticos a usaram temendo perdas de emprego para a Europa Oriental e, finalmente, para a China. Não ocorreram as temidas perdas de emprego nos EUA. Agora, essa expressão pode ser usada no sentido contrário. Quem estaria sugando o resto do mundo é o sistema financeiro nos EUA (e na Europa). Sugando capital e crédito, não empregos. E o resto do mundo está sentindo essa pressão.
Há pelo menos dois canais de transmissão da crise externa para o Brasil. O primeiro é o canal financeiro. A crise financeira internacional caracteriza-se por uma necessidade aguda de capital por parte das instituições financeiras que vendem ativos e restringem o crédito. A redução do crédito atinge clientes no mundo todo, sejam americanos, chineses ou brasileiros. A falta de crédito espalha-se pelo mundo. Por exemplo, no momento em que clientes brasileiros ficam sem crédito lá fora, recorrem aos bancos no Brasil, o que aumenta sobremaneira a necessidade de recursos e pressiona o mercado aqui dentro. O crédito doméstico fica escasso e consideravelmente mais caro. A falta de crédito também se espalha pelo receio de dias piores pela frente, questiona-se o grau de inadimplência adiante.
O leitor deve estar-se perguntando: para onde está indo todo esse dinheiro que se está retraindo? O que significa fazer caixa, recompor capital?
No limite, significa aplicar os recursos em ativos considerados seguros (baixíssimo risco de calote) e de alta liquidez (disponíveis imediatamente sem custo). Os investidores têm desconfiado cada vez mais dos bancos e de outras instituições financeiras. Resta investir nos governos, comprando seus títulos, que estão cada vez mais demandados e, conseqüentemente, mais caros (pagando juros cada vez menores). Paradoxal, para alguns (já que os EUA são o centro da crise), os títulos do governo americano têm sido considerados os mais seguros e o dólar se tem valorizando em relação às outras moedas do mundo.
Na medida em que o fluxo de recursos está indo em direção aos governos, estes têm tentado reciclá-los de volta ao sistema, na medida do possível. Os bancos centrais das economias desenvolvidas têm oferecido linhas de financiamento e empréstimos aos bancos. Os governos também têm resgatado instituições (como a seguradora AIG, nos EUA, e o Banco Fortis, na Europa) e aprovado pacotes de ajuda (como os U$ 700 bilhões dos EUA). Mas o aperto continua.
O segundo canal de transmissão da crise é via queda dos preços e volumes das exportações brasileiras. Nos últimos anos, com o bom momento da economia mundial, tanto o volume quanto os preços das nossas exportações subiram consideravelmente (os preços subiram 120% de janeiro de 2003 a julho 2008), gerando superávits comerciais, assim como as importações, permitindo um crescimento maior da economia, sem aumento da inflação. Agora, os preços das exportações (bem como os volumes) estão recuando, invertendo a direção dos efeitos acima.
Qual a conseqüência desta crise? O PIB mundial deve desacelerar significativamente, assim como o do Brasil. Economistas estimam - na medida do possível, dada a incerteza elevada, hoje - um crescimento médio em torno de 3%-3,5% para o ano que vem. Essa taxa poderia ser considerada moderada, mas não muito. Se o Brasil parar de crescer a partir de janeiro, a média do produto interno bruto (PIB) de 2009 ainda vai ser maior que a média de 2008 em 1,4% (o chamado "carry" do crescimento). Um crescimento de 3% em 2009 significa um crescimento marginal nesse ano em torno de apenas (ou será ainda?) 1,6%.
Qual deveria ser a reação de política econômica no Brasil? Deveríamos ter uma política anticíclica tentando substituir a falta de crédito externo pelo interno?
Na minha visão, nem tanto ao mar, que afunde todo mundo, nem tanto à terra, de forma a ignorar a necessidade do ajuste aos novos tempos. Por um lado, é fundamental assegurar o funcionamento dos mercados no Brasil, provendo liquidez quando há paralisia, evitando que haja uma parada brusca de crédito no País, que pode ter conseqüências mais acentuadas sobre a economia brasileira. Nesse sentido, o Banco Central tem lançado medidas como a redução de compulsórios, em casos específicos, e o leilão de linhas de financiamento em dólares. Por outro lado, uma intervenção maciça do governo, por meio dos bancos públicos, para tentar manter o crescimento nos níveis atuais (5,5%-6%), poderia ser ineficaz, apenas inflacionária (por exemplo, essa política pressionaria a conta corrente, num ambiente sem financiamento internacional adequado, e levaria à depreciação do câmbio).
Em suma, há um som de sucção no ar, o crédito está-se retraindo no mundo. O período de bonança na economia mundial rapidamente se esvaiu, assim como o período de opções fáceis. Decisões adequadas neste momento podem significar uma melhor travessia da crise e uma saída em posição internacional favorável no futuro.
Ilan Goldfajn, sócio da Ciano Investimentos, diretor do Iepe da Casa das Garças, é professor da PUC-Rio. E-mail: igoldfajn@cianoinvest.com.br
CRISE CHEGOU AO BRASIL POR VARIOS CANAIS - MIRIAM LEITAO
Crise chegou ao Brasil por vários canais
A crise chegou ao Brasil por vários canais. Em alguns deles, o Banco Central começou a agir. Ela chegou fechando o mercado de crédito que trazia empréstimos externos para financiar exportadores. Para isso, o Banco Central avisou que emprestará dólares das reservas a bancos para que eles reemprestem para essas empresas exportadoras.
O problema é que não é um buraco pequeno. As empresas recebiam os dólares adiantados, meses antes de embarcar. Com esse dinheiro, aplicavam aqui dentro e ganhavam muito dinheiro com os juros. Só que as exportadoras adiantaram tanto que mercadoria que vai ser exportada daqui a quatro meses, por exemplo, já está paga e o dólar não vai entrar.
Outro problema que assusta o mercado é que muitas empresas fizeram operações financeiras no mercado futuro de câmbio. Elas se comprometeram a entregar o dólar a um preço definido. Por exemplo, a R$ 1,70. Apostavam que o dólar não subiria e agora terão um enorme prejuízo quando forem cumprir os contratos.
Essas empresas terão que comprar caro para entregar a um preço mais baixo. Quanto a isso, segundo me informou uma fonte do governo, não há muito o que o Banco Central possa fazer. Essas empresas não terão ajuda.
A falta de crédito provocada pelo fim das linhas externas fez com que os bancos grandes parassem de emprestar aos pequenos. Na semana passada, o governo liberou dinheiro para os bancos grandes ajudarem os pequenos. Ainda não funcionou e, por isso, a medida provisória de ontem cria as condições para que o Banco Central ajude os pequenos bancos e evite um problema mais grave.
Na economia real, eu falei com várias empresas sobre planos de investimentos. Elas não estão ainda anunciando suspensão, mas várias admitiram que estão pondo seus planos em banho-maria, esperando melhores tempos.
Parece que as pessoas não confiam mais nos bancos lá fora. A crise se espalha pelo mundo de forma rápida e contamina a economia real. Há esses dois motivos de preocupação: de um lado, bancos e instituições financeiras do mundo inteiro que vão sendo atingidos, porque outros foram atingidas. É o contágio. É a intensidade das relações financeiras entre bancos de vários países. Por outro lado, os sinais de recessão se espalham.
No Brasil, sempre se achou que a China seguraria o crescimento mundial, mas lá na China eles estão preocupados. O comércio da China com os Estados Unidos é de US$ 300 bilhões. O primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, deu uma entrevista nos Estados Unidos admitindo que há muita ligação entre o mercado financeiro americano e o chinês. Ele, que tem US$ 1 trilhão de reservas e taxa de poupança de 40% do PIB, disse que está preocupado com a crise. Até a China.
A crise chegou ao Brasil por vários canais. Em alguns deles, o Banco Central começou a agir. Ela chegou fechando o mercado de crédito que trazia empréstimos externos para financiar exportadores. Para isso, o Banco Central avisou que emprestará dólares das reservas a bancos para que eles reemprestem para essas empresas exportadoras.
O problema é que não é um buraco pequeno. As empresas recebiam os dólares adiantados, meses antes de embarcar. Com esse dinheiro, aplicavam aqui dentro e ganhavam muito dinheiro com os juros. Só que as exportadoras adiantaram tanto que mercadoria que vai ser exportada daqui a quatro meses, por exemplo, já está paga e o dólar não vai entrar.
Outro problema que assusta o mercado é que muitas empresas fizeram operações financeiras no mercado futuro de câmbio. Elas se comprometeram a entregar o dólar a um preço definido. Por exemplo, a R$ 1,70. Apostavam que o dólar não subiria e agora terão um enorme prejuízo quando forem cumprir os contratos.
Essas empresas terão que comprar caro para entregar a um preço mais baixo. Quanto a isso, segundo me informou uma fonte do governo, não há muito o que o Banco Central possa fazer. Essas empresas não terão ajuda.
A falta de crédito provocada pelo fim das linhas externas fez com que os bancos grandes parassem de emprestar aos pequenos. Na semana passada, o governo liberou dinheiro para os bancos grandes ajudarem os pequenos. Ainda não funcionou e, por isso, a medida provisória de ontem cria as condições para que o Banco Central ajude os pequenos bancos e evite um problema mais grave.
Na economia real, eu falei com várias empresas sobre planos de investimentos. Elas não estão ainda anunciando suspensão, mas várias admitiram que estão pondo seus planos em banho-maria, esperando melhores tempos.
Parece que as pessoas não confiam mais nos bancos lá fora. A crise se espalha pelo mundo de forma rápida e contamina a economia real. Há esses dois motivos de preocupação: de um lado, bancos e instituições financeiras do mundo inteiro que vão sendo atingidos, porque outros foram atingidas. É o contágio. É a intensidade das relações financeiras entre bancos de vários países. Por outro lado, os sinais de recessão se espalham.
No Brasil, sempre se achou que a China seguraria o crescimento mundial, mas lá na China eles estão preocupados. O comércio da China com os Estados Unidos é de US$ 300 bilhões. O primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, deu uma entrevista nos Estados Unidos admitindo que há muita ligação entre o mercado financeiro americano e o chinês. Ele, que tem US$ 1 trilhão de reservas e taxa de poupança de 40% do PIB, disse que está preocupado com a crise. Até a China.
domingo, 5 de outubro de 2008
A ARQUITETURA FINANCEIRA - FHC
Os mecanismos de formação de crises financeiras e o modo de sua propagação são conhecidos. A situação atual repete o enredo: abundância de financiamentos, voracidade dos consumidores, relaxamento dos mecanismos de avaliação de risco, falta de fiscalização das entidades emprestadoras e confiança "inabalável" em que haverá sempre quem empreste e quem pague.
Iniciada no setor imobiliário, houve um complicador de "engenharia financeira" na presente crise. Os preços das casas nos EUA e na Europa estavam subindo há muito tempo. Havia empréstimos fáceis e abundantes para a compra. Os consumidores poderiam pagá-los a perder de vista e revender os imóveis, para comprar outros maiores ou realizar o lucro. Os bancos e instituições de crédito imobiliário revendiam os empréstimos sob a forma de títulos hipotecários. Havia investidores ávidos por comprá-los, assim como intermediários para realizar as operações de venda ao público em escala global: os bancos de investimento e os bancos comerciais, com seus "veículos de investimentos estruturados", criados com esse propósito. Sobrava-lhes capacidade e criatividade para gerar novos produtos financeiros com base nesses créditos. Eles sabem como fatiá-los, misturá-los entre si e juntá-los a créditos representativos de outros ativos. Essa alquimia, diziam, dilui o risco e multiplica os canais de financiamento por toda a economia, fazendo o dinheiro fluir das mãos de quem tem e quer aplicar para as mãos de quem quer tomar emprestado para comprar (imóveis, mas não apenas). A economia cresce, as empresas lucram, os ativos se valorizam e todo mundo ganha. Até que... a bolha furou.
A economia globalizada funciona em vasos comunicantes. O que um agente financeiro faz outro imita, e não só no país originário: umas financeiras vendem às outras em toda parte do mundo. O sistema financeiro funcionou fora dos controles dos bancos centrais e mesmo com a indulgência deles. Sem transparência nas operações, tornou-se difícil avaliar os riscos e garantir a confiança. De uma crise de liquidez de quem não tinha como honrar os compromissos se passou a uma crise de confiança: ninguém confia em ninguém para emprestar dinheiro, nem mesmo os bancos para emprestarem uns aos outros. O crédito seca. Só depois da crise propagada os bancos centrais injetaram os trilhões de dólares. Pior: deixaram margem para a suspeita de que, mais do que salvar o sistema, salvavam fortunas pessoais à custa do contribuinte.
Há séculos se sabe que o remédio contra a exacerbação irracional dos mercados é a regulação e a transparência. Mas disso só há recordação depois que a "bolha" estoura. E não adianta saber, como sabíamos, que os fundamentos da economia americana estavam bambos, com o espantoso déficit gêmeo de 5% ou mais do PIB nas contas internas e externas e com um governo gastando em guerras e diminuindo o imposto dos ricos. Quando o frenesi do lucro fácil motiva as pessoas, elas agem como manadas: todas dispostas a comprar. Quando a bolha estoura, todos dispostos a vender. Ao diabo os fundamentos da economia...
O resultado está à vista de todos: quebra generalizada de confiança. Ninguém sabe ao certo a solidez de cada instituição financeira nem de cada empresa, pois elas também podem ter entrado na febre das hipotecas e derivativos. Os investidores, especuladores, clientes em geral, na dúvida, correm para colocar seus haveres num porto seguro. Até há pouco, no dólar e em papéis emitidos pelo banco central americano. Até quando a China e os demais países continuarão a confiar no dólar? Na crise dos anos 1970, quando o governo Nixon quebrou a paridade entre o dólar e o ouro, os americanos fizeram o ajuste de seus desatinos fiscais desvalorizando sua moeda à custa do mundo, com inflação e tudo. Os desatinos da era Bush irão pelo mesmo caminho? Há, contudo, uma diferença: existe o euro. E há outras diferenças mais, a China é forte e há outras economias emergentes. O jogo do empurra-empurra está apenas começando. A verdadeira batalha virá depois: quem pagará, de fato, os custos do ajuste que terá de ser feito?
Certamente, de modo direto ou indireto, o mundo todo pagará. Inclusive o Brasil: as linhas de crédito estão secas para o comércio exterior, haverá dificuldades para financiar novos investimentos, as bolsas e o real ziguezagueiam, o "risco país" aumenta, a taxa de crescimento será reduzida, haverá diminuição da demanda global. Cobrarão seu preço, agora, os seis anos perdidos em dúvidas e batalhas ideológicas sobre o modelo de investimento para os setores de infra-estrutura. Com o capital até há pouco abundante poderíamos ter completado o salto iniciado nos anos 90. Temos, porque foram preservados, os instrumentos para uma boa gestão da economia: a política de metas de inflação, a Lei de Responsabilidade Fiscal e um câmbio flutuante respaldado por reservas internacionais robustas, além de um sistema financeiro saudável, graças ao saneamento feito via Proer e Proes. Assim, se deixarmos de lado o escapismo de pensar que não temos nada com a crise "americana", temos chances de sobreviver e retomar o crescimento sustentável.
É hora de retornar à questão da reforma da "arquitetura financeira global", como dizia o presidente Clinton. Enquanto estive na Presidência, insisti por cartas aos chefes de Estado e governo do G-8 que a regulação financeira mundial era precária; o FMI, impotente ou enviesado; o Banco Mundial, apequenado pelo vulto dos investimentos privados. Os esforços regulatórios do BIS (o banco de Basiléia que emite normas para todos os bancos centrais) não eram obedecidos por todos, como não são ainda. Basta dizer que, enquanto os bancos brasileiros não emprestam mais do que 12 vezes seu capital e suas reservas, nos EUA instituições financeiras "alavancadas" emprestam até 50 vezes!
O Brasil, a China, os demais países de economias emergentes e a própria Europa devem voltar ao tema da regulação global. Quem sabe, convocando um novo Bretton Woods, para criar um mecanismo regulador que utilize como reserva uma cesta de moedas composta não só por dólares, mas que inclua o euro, o iene, o renminbi e, no futuro, talvez até o real, depois de ele se tornar conversível?
Não custa, no meio do pesadelo, sonhar um pouco
Iniciada no setor imobiliário, houve um complicador de "engenharia financeira" na presente crise. Os preços das casas nos EUA e na Europa estavam subindo há muito tempo. Havia empréstimos fáceis e abundantes para a compra. Os consumidores poderiam pagá-los a perder de vista e revender os imóveis, para comprar outros maiores ou realizar o lucro. Os bancos e instituições de crédito imobiliário revendiam os empréstimos sob a forma de títulos hipotecários. Havia investidores ávidos por comprá-los, assim como intermediários para realizar as operações de venda ao público em escala global: os bancos de investimento e os bancos comerciais, com seus "veículos de investimentos estruturados", criados com esse propósito. Sobrava-lhes capacidade e criatividade para gerar novos produtos financeiros com base nesses créditos. Eles sabem como fatiá-los, misturá-los entre si e juntá-los a créditos representativos de outros ativos. Essa alquimia, diziam, dilui o risco e multiplica os canais de financiamento por toda a economia, fazendo o dinheiro fluir das mãos de quem tem e quer aplicar para as mãos de quem quer tomar emprestado para comprar (imóveis, mas não apenas). A economia cresce, as empresas lucram, os ativos se valorizam e todo mundo ganha. Até que... a bolha furou.
A economia globalizada funciona em vasos comunicantes. O que um agente financeiro faz outro imita, e não só no país originário: umas financeiras vendem às outras em toda parte do mundo. O sistema financeiro funcionou fora dos controles dos bancos centrais e mesmo com a indulgência deles. Sem transparência nas operações, tornou-se difícil avaliar os riscos e garantir a confiança. De uma crise de liquidez de quem não tinha como honrar os compromissos se passou a uma crise de confiança: ninguém confia em ninguém para emprestar dinheiro, nem mesmo os bancos para emprestarem uns aos outros. O crédito seca. Só depois da crise propagada os bancos centrais injetaram os trilhões de dólares. Pior: deixaram margem para a suspeita de que, mais do que salvar o sistema, salvavam fortunas pessoais à custa do contribuinte.
Há séculos se sabe que o remédio contra a exacerbação irracional dos mercados é a regulação e a transparência. Mas disso só há recordação depois que a "bolha" estoura. E não adianta saber, como sabíamos, que os fundamentos da economia americana estavam bambos, com o espantoso déficit gêmeo de 5% ou mais do PIB nas contas internas e externas e com um governo gastando em guerras e diminuindo o imposto dos ricos. Quando o frenesi do lucro fácil motiva as pessoas, elas agem como manadas: todas dispostas a comprar. Quando a bolha estoura, todos dispostos a vender. Ao diabo os fundamentos da economia...
O resultado está à vista de todos: quebra generalizada de confiança. Ninguém sabe ao certo a solidez de cada instituição financeira nem de cada empresa, pois elas também podem ter entrado na febre das hipotecas e derivativos. Os investidores, especuladores, clientes em geral, na dúvida, correm para colocar seus haveres num porto seguro. Até há pouco, no dólar e em papéis emitidos pelo banco central americano. Até quando a China e os demais países continuarão a confiar no dólar? Na crise dos anos 1970, quando o governo Nixon quebrou a paridade entre o dólar e o ouro, os americanos fizeram o ajuste de seus desatinos fiscais desvalorizando sua moeda à custa do mundo, com inflação e tudo. Os desatinos da era Bush irão pelo mesmo caminho? Há, contudo, uma diferença: existe o euro. E há outras diferenças mais, a China é forte e há outras economias emergentes. O jogo do empurra-empurra está apenas começando. A verdadeira batalha virá depois: quem pagará, de fato, os custos do ajuste que terá de ser feito?
Certamente, de modo direto ou indireto, o mundo todo pagará. Inclusive o Brasil: as linhas de crédito estão secas para o comércio exterior, haverá dificuldades para financiar novos investimentos, as bolsas e o real ziguezagueiam, o "risco país" aumenta, a taxa de crescimento será reduzida, haverá diminuição da demanda global. Cobrarão seu preço, agora, os seis anos perdidos em dúvidas e batalhas ideológicas sobre o modelo de investimento para os setores de infra-estrutura. Com o capital até há pouco abundante poderíamos ter completado o salto iniciado nos anos 90. Temos, porque foram preservados, os instrumentos para uma boa gestão da economia: a política de metas de inflação, a Lei de Responsabilidade Fiscal e um câmbio flutuante respaldado por reservas internacionais robustas, além de um sistema financeiro saudável, graças ao saneamento feito via Proer e Proes. Assim, se deixarmos de lado o escapismo de pensar que não temos nada com a crise "americana", temos chances de sobreviver e retomar o crescimento sustentável.
É hora de retornar à questão da reforma da "arquitetura financeira global", como dizia o presidente Clinton. Enquanto estive na Presidência, insisti por cartas aos chefes de Estado e governo do G-8 que a regulação financeira mundial era precária; o FMI, impotente ou enviesado; o Banco Mundial, apequenado pelo vulto dos investimentos privados. Os esforços regulatórios do BIS (o banco de Basiléia que emite normas para todos os bancos centrais) não eram obedecidos por todos, como não são ainda. Basta dizer que, enquanto os bancos brasileiros não emprestam mais do que 12 vezes seu capital e suas reservas, nos EUA instituições financeiras "alavancadas" emprestam até 50 vezes!
O Brasil, a China, os demais países de economias emergentes e a própria Europa devem voltar ao tema da regulação global. Quem sabe, convocando um novo Bretton Woods, para criar um mecanismo regulador que utilize como reserva uma cesta de moedas composta não só por dólares, mas que inclua o euro, o iene, o renminbi e, no futuro, talvez até o real, depois de ele se tornar conversível?
Não custa, no meio do pesadelo, sonhar um pouco
sábado, 4 de outubro de 2008
MISSAO IMPOSSIVEL - MERVAL PEREIRA
NOVA YORK. Para se ter uma idéia de quanto é difícil a tarefa de John McCain de derrotar Barack Obama nas eleições de novembro, basta relembrar uma passagem do debate de quinta-feira entre os candidatos a vice. Sarah Palin acusou o programa de corte de impostos de Obama, que estava sendo defendido por Joe Biden, de ser um “exterminador de empregos”, pois penalizaria os pequenos negócios. Ontem, já de manhã, saiu o número oficial de desemprego no país, que aumentou em 159 mil pessoas em setembro último, mais do dobro do que em agosto e julho. Foi a maior perda mensal de emprego desde 2003.
Foi o bastante para que Obama batesse na tecla de que continuar com a mesma política econômica de Bush mais quatro anos seria desastroso. Previamente derrotada pelo pressentimento generalizado de que não resistiria à experiência e ao conhecimento de política externa do democrata Joe Biden, a candidata republicana Sarah Palin saiuse surpreendentemente bem, o que não quer dizer que esteja preparada para assumir o poder em caso de necessidade.
Palin mostrou-se uma simpática dona-de-casa de classe média, e esteve tão à vontade que foi irônica em diversas ocasiões, mesmo enfrentando um dos ícones do Senado americano. Estava tão senhora de si que acusou a proposta Obama-Biden para o Iraque de ser “uma bandeira branca de rendição”.
E foi sarcástica ao com e n t a r q u e “ v o c ê s d e Washington são engraçados”, ao se referir aos votos de Biden a favor de intervenções militares dos Estados Unidos, inclusive no Iraque, e sua defesa agora do fim da guerra.
Esse apelo ao patriotismo, e a defesa de valores morais mais conservadores, juntamente com sua juventude, foi o que a tornou um sucesso de público desde que escolhida, e poderia contrabalançar a força natural que os democratas sempre tiveram nesta corrida presidencial.
Mas a crise econômica tornou praticamente impossível a tática da campanha de McCain de distanciálo da gestão Bush, marcandoo, e depois a própria Palin, como políticos independentes dentro do Partido Republicano, longe das cúpulas que fazem politicagem em Washington.
Além do fato de que o “maverick” McCain votou s e m p re c o m o g o v e r n o Bush, como salientou muito bem Joe Biden durante o debate dos vices, é forçar muito a barra marcar sua candidatura como distante da cúpula partidária, quando há montes de cenas filmadas dele ora com o velho George Bush pai, ora com Kissinger, de quem se orgulha de ser amigo há 35 anos.
Nesse item, a própria Palin veste melhor esse figurino, mas ela estava distante da cúpula partidária não por opção, mas por questões geográficas e políticas.
O Alasca não é um estado importante que mereça a atenção no jogo político, e ela só entrou na luta principal por ser uma desconhecida, mas com jeito de miss.
Quando o foco da discussão pública, porém, passa a ser a economia, com os efeitos da crise chegando ao cidadão comum, é constrangedor o candidato do partido oficial prometer medidas e atitudes que não foram tomadas nos últimos oito anos, e nem foram exigidas por ele.
O fato concreto é que Bush chega ao final de seu mandato com uma popularidade em torno de 20%, a mais baixa de toda a história republicana, ao contrário do que aconteceu logo depois dos ataques de 2001.
Naquele período, ele recebeu a maior consagração popular registrada na história recente americana, tendo atingido índices nas pesquisas de opinião maiores ainda que os de seu pai, também na Guerra do Golfo.
Naquela altura, o sucesso do governo era tanto que o líder da maioria na Câmara, Tom DeLay, previa que a hegemonia dos republicanos poderia durar décadas.
Como seu pai, por causa sobretudo da economia, George Bush termina o governo pessimamente avaliado, uma gestão que é responsabilizada pela “morte da marca republicana”, que a escolha de Sarah Palin reavivou por alguns momentos.
Mesmo essa tentativa de ressurreição foi artificial, jogando a candidatura de McCain para a direita, que o rejeitava por ser considerado muito “liberal”.
As dificuldades começam por aí: o último exemplo de sucesso dos republicanos na Casa Branca possível para McCain e Sarah Palin lembrarem é Ronald Reagan, há 20 anos, enquanto os democratas têm na figura de Bill Clinton uma referência mais recente de sucesso, e justamente resolvendo os problemas econômicos deixados pelo velho Bush.
A crise econômica ainda trouxe uma dificuldade adicional aos republicanos, ampliando as contradições em que se debatem. A formidável intervenção governamental representada pelo pacote de resgate dos bancos, afinal aprovado ontem pela Câmara, encontrou uma base parlamentar bastante dividida entre os conceitos tradicionais do livre mercado e não-intervenção estatal e a necessidade de uma providência urgente para não deixar a economia entrar em colapso definitivo.
O pacote recebeu 91 votos republicanos a favor e 108 contrários, mostrando como o partido está rachado. Todas as circunstâncias estão contrárias ao Partido Republicano, e a crise econômica só fez explicitar uma situação que era pressentida desde o início da campanha presidencial: o vencedor da disputa interna do Partido Democrata seria naturalmente o eleito presidente dos Estados Unidos.
O fato de ter sido Barack Obama, e não a senadora Hillary Clinton, criou uma divisão interna no partido que está sendo superada com o tempo. Também o fato de Obama ser o primeiro negro com chances reais de chegar à Casa Branca colocou em xeque boa parte do eleitorado americano, que somente agora, com a crise mordendo seus calcanhares, começa a se decidir pela alternativa natural de mudança dos oito anos de gestão republicana.
Foi o bastante para que Obama batesse na tecla de que continuar com a mesma política econômica de Bush mais quatro anos seria desastroso. Previamente derrotada pelo pressentimento generalizado de que não resistiria à experiência e ao conhecimento de política externa do democrata Joe Biden, a candidata republicana Sarah Palin saiuse surpreendentemente bem, o que não quer dizer que esteja preparada para assumir o poder em caso de necessidade.
Palin mostrou-se uma simpática dona-de-casa de classe média, e esteve tão à vontade que foi irônica em diversas ocasiões, mesmo enfrentando um dos ícones do Senado americano. Estava tão senhora de si que acusou a proposta Obama-Biden para o Iraque de ser “uma bandeira branca de rendição”.
E foi sarcástica ao com e n t a r q u e “ v o c ê s d e Washington são engraçados”, ao se referir aos votos de Biden a favor de intervenções militares dos Estados Unidos, inclusive no Iraque, e sua defesa agora do fim da guerra.
Esse apelo ao patriotismo, e a defesa de valores morais mais conservadores, juntamente com sua juventude, foi o que a tornou um sucesso de público desde que escolhida, e poderia contrabalançar a força natural que os democratas sempre tiveram nesta corrida presidencial.
Mas a crise econômica tornou praticamente impossível a tática da campanha de McCain de distanciálo da gestão Bush, marcandoo, e depois a própria Palin, como políticos independentes dentro do Partido Republicano, longe das cúpulas que fazem politicagem em Washington.
Além do fato de que o “maverick” McCain votou s e m p re c o m o g o v e r n o Bush, como salientou muito bem Joe Biden durante o debate dos vices, é forçar muito a barra marcar sua candidatura como distante da cúpula partidária, quando há montes de cenas filmadas dele ora com o velho George Bush pai, ora com Kissinger, de quem se orgulha de ser amigo há 35 anos.
Nesse item, a própria Palin veste melhor esse figurino, mas ela estava distante da cúpula partidária não por opção, mas por questões geográficas e políticas.
O Alasca não é um estado importante que mereça a atenção no jogo político, e ela só entrou na luta principal por ser uma desconhecida, mas com jeito de miss.
Quando o foco da discussão pública, porém, passa a ser a economia, com os efeitos da crise chegando ao cidadão comum, é constrangedor o candidato do partido oficial prometer medidas e atitudes que não foram tomadas nos últimos oito anos, e nem foram exigidas por ele.
O fato concreto é que Bush chega ao final de seu mandato com uma popularidade em torno de 20%, a mais baixa de toda a história republicana, ao contrário do que aconteceu logo depois dos ataques de 2001.
Naquele período, ele recebeu a maior consagração popular registrada na história recente americana, tendo atingido índices nas pesquisas de opinião maiores ainda que os de seu pai, também na Guerra do Golfo.
Naquela altura, o sucesso do governo era tanto que o líder da maioria na Câmara, Tom DeLay, previa que a hegemonia dos republicanos poderia durar décadas.
Como seu pai, por causa sobretudo da economia, George Bush termina o governo pessimamente avaliado, uma gestão que é responsabilizada pela “morte da marca republicana”, que a escolha de Sarah Palin reavivou por alguns momentos.
Mesmo essa tentativa de ressurreição foi artificial, jogando a candidatura de McCain para a direita, que o rejeitava por ser considerado muito “liberal”.
As dificuldades começam por aí: o último exemplo de sucesso dos republicanos na Casa Branca possível para McCain e Sarah Palin lembrarem é Ronald Reagan, há 20 anos, enquanto os democratas têm na figura de Bill Clinton uma referência mais recente de sucesso, e justamente resolvendo os problemas econômicos deixados pelo velho Bush.
A crise econômica ainda trouxe uma dificuldade adicional aos republicanos, ampliando as contradições em que se debatem. A formidável intervenção governamental representada pelo pacote de resgate dos bancos, afinal aprovado ontem pela Câmara, encontrou uma base parlamentar bastante dividida entre os conceitos tradicionais do livre mercado e não-intervenção estatal e a necessidade de uma providência urgente para não deixar a economia entrar em colapso definitivo.
O pacote recebeu 91 votos republicanos a favor e 108 contrários, mostrando como o partido está rachado. Todas as circunstâncias estão contrárias ao Partido Republicano, e a crise econômica só fez explicitar uma situação que era pressentida desde o início da campanha presidencial: o vencedor da disputa interna do Partido Democrata seria naturalmente o eleito presidente dos Estados Unidos.
O fato de ter sido Barack Obama, e não a senadora Hillary Clinton, criou uma divisão interna no partido que está sendo superada com o tempo. Também o fato de Obama ser o primeiro negro com chances reais de chegar à Casa Branca colocou em xeque boa parte do eleitorado americano, que somente agora, com a crise mordendo seus calcanhares, começa a se decidir pela alternativa natural de mudança dos oito anos de gestão republicana.
OS ROSTOS DA CRISE - REVISTA VEJA
Na cadeia alimentar da crise
Quando se conversa com os personagens da crise,
percebe-se que havia uma farra em que todo mundo
– do americano sem renda nem emprego aos nababos
de Wall Street – sabia mas fingia não ver que alguma
coisa estava erradana cadeia alimentar da crise
André Petry, de Nova York
LORANCE, na foto à esquerda, começou a preparar sua aposentadoria e passou a comprar imóveis em Albuquerque, no Novo México. Gbadamassi (à dir.), nascido no Congo e morador dos EUA há onze anos, queria ser dono de todo o quarteirão onde mora. Cada um a seu modo tentava tirar vantagem da bolha imobiliária. Lorance não tem dinheiro para se aposentar. Gbadamassi já perdeu uma casa
"A minha idéia era ser dono do quarteirão inteiro."
O plano de Hamidou Gbadamassi é uma mostra das ambições desconcertantes que o mercado imobiliário americano liberou antes de explodir. Gbadamassi nasceu no Congo e, há onze anos, resolveu imigrar para os Estados Unidos. No seu primeiro trabalho, foi lavador de carros. Ganhava 3 dólares por hora. Depois, foi faxineiro de avião, até chegar a supervisor numa empresa aérea. Em 2002, Gbadamassi morava de aluguel, sua vida estava estabilizada e ele então resolveu apostar na casa própria. Em Newark, cidade próxima de Nova York, comprou um imóvel de 229.000 dólares com financiamento para pagar em trinta anos. Foi como um passe de mágica. Não teve de desembolsar um único centavo de entrada. Não teve de apresentar nem comprovante de renda. Em 2004, o mercado imobiliário seguia bombando, as casas eram bonitas e o dinheiro era fácil. Gbadamassi fez novo financiamento de trinta anos e comprou outra casa, de 485.000 dólares. No ano seguinte, fez um terceiro empréstimo e arrematou sua terceira casa, de 575.000 dólares. De casa em casa, o congolês estava erguendo seu pequeno império imobiliário. Nesse ritmo, em quinze anos, seria um barão do ramo imobiliário. Por que não?
Há um ano, o alicerce estremeceu. Os juros dos empréstimos começaram a subir e o mercado esfriou. Ninguém se interessou em comprar uma de suas casas. O único locatário que tinha decidiu se mudar. Gbadamassi, com as casas vazias e sem comprador à vista, ficou sem dinheiro para bancar os três empréstimos, cujas prestações somavam 14.000 dólares mensais. Ele é dono de uma loja de conveniência em Newark e faz bicos comprando e vendendo automóveis, mas nem de longe consegue arcar com seus compromissos. Deixou de pagar a terceira casa, que está em via de ser leiloada. "Estou 100% preocupado", diz, com semblante contraído. "O que vai acontecer em dois anos?" Quando se volta para Wall Street, o coração financeiro de Nova York e do mundo, as notícias que Gbadamassi recebe não são animadoras. "A crise está ficando cada dia pior", alarma-se. Dos 700 bilhões de dólares que o governo vai injetar em Wall Street, Gbadamassi não receberá um tostão. Ele sabe disso. E eis uma das razões pelas quais os americanos médios andam com ganas de Wall Street. Na crise, eles perdem a casa. Os nababos do mundo financeiro recebem ajuda oficial. Até quando perde Wall Street ganha.
Enquanto durou, foi farra para todo mundo. Megan Martyn é divorciada, tem 40 anos e três filhos. Recebe pensão de 750 dólares. De vez em quando, dá aula de dança do ventre e descola uns trocados ajudando na faxina de uma casa. Ela tem um perfil muito parecido com o que os americanos chamam de "ninja" (sigla para "no income, no job, no assets", ou "sem renda, sem emprego e sem bens"). Em 2002, Megan estava endividada, mas tinha uma casa centenária, de 1905, onde mora há mais de uma década. Seguiu o conselho de uma amiga e hipotecou o imóvel. Pediu 65 000 dólares. "Eles fizeram um arranjo criativo por lá", conta ela. "Na verdade, eles nem deviam ter me dado empréstimo. Eu não tenho renda, só pensão." Mas deram, e ela não se preocupou em ler o contrato direito. Queria que a prestação não passasse de 500 dólares e pensou que os juros fossem fixos. Tudo errado. Depois de dois anos, a taxa de juros começou a oscilar, já chegou perto dos 10% ao ano, e a prestação arranha a casa dos 800 dólares. Megan não paga a hipoteca desde janeiro, deve quase 10.000 dólares e teme ser despejada. Na frente da casa, uma modesta placa informa: "Vende-se". Ela quer 225.000 dólares. Em dois meses, apareceu só um casal de São Francisco. Visitou a casa e nunca mais voltou.
CASSANO chefiou em Londres uma filial da AIG, a gigante dos seguros, onde fez chover dinheiro. Era tanto dinheiro que os empregados da unidade, menos de 400, receberam 3,5 bilhões de dólares em bônus em sete anos. O paraíso de Cassano, erguido à base de operações altamente heterodoxas, começou a ruir, incinerou 25 bilhões de dólares e quase levou a AIG às portas da falência
A bolha era assim: havia uma impressão generalizada de que alguma coisa estava errada. Megan Martyn sabia que não podia pegar o empréstimo, mas pegou. Todo mundo, do americano que vive de bico ao magnata de Wall Street, aproveitou o que pôde. Alan Fishman, que construiu boa fama no mercado financeiro, entrou no capítulo final da farra – e deu-se bem. Na noite de 25 de setembro passado, Fishman estava sentado numa poltrona no vôo de Nova York para Seattle. Três semanas antes, ganhara um novo emprego. Fora contratado para dirigir o Washington Mutual, um dos mamutes do setor bancário americano. Sua missão era salvar o banco. Assinou um contrato polpudo. Entre salário, bônus, ações e gratificações diversas, receberia quase 20 milhões de dólares mesmo que sua missão fracassasse. Não teve tempo nem de falhar. Fishman só soube que o banco fora à falência e sua carcaça fora vendida por 1,9 bilhão de dólares para o JP Morgan quando desembarcou no aeroporto de Seattle, onde fica a sede da instituição. Estava sem emprego, mas 20 milhões de dólares mais rico. Pegou a bagagem na esteira do aeroporto e foi embora.
Outros foram fundo na farra, arriscando impérios de verdade. Joseph J. Cassano, 53 anos, sorrateiramente empurrou à beira da falência a AIG, a maior seguradora do mundo, com mais de 100 000 empregados em 130 países. Cassano, como chefe de uma modesta unidade da empresa em Londres, fez chover dinheiro. Ganhou tanto, mas tanto, que em sete anos sua unidade, com menos de 400 empregados, distribuiu 3,5 bilhões de dólares em gratificações. Quando o mundo começou a desabar, incinerou 25 bilhões de dólares. A diferença é que, hoje, ele mora numa bela casa de três andares na capital inglesa, pertinho da famosa loja Harrods. Ginger Lorance, 64, também apostou na farra. Faltando pouco tempo para se aposentar, fez um plano para a velhice. Com sua experiência de catorze anos como corretora de imóveis em Albuquerque, no Novo México, ela sabia que havia facilidades no mercado. Comprou um apartamento. Depois, outro. E mais um. E construiu uma casa. E depois outra. Fez empréstimos com juros fixos, mas não contou com um mercado desaquecido. Hoje os aluguéis rendem pouco, as vendas pararam. Em vez de fazer o pé-de-meia para aposentar-se, Lorance está sacando da aposentadoria para viver. "Sempre trabalhei duro, sempre tive dinheiro e fui responsável. É bizarro que eu esteja vivendo isso." Ela não faz idéia de quando poderá se aposentar.
Nas bolhas, todo mundo quer tirar sua casquinha. Alguns conseguem. Em Jersey City, a quinze minutos de metrô do sul de Manhattan, um casal de brasileiros não tem o que reclamar da crise. "Não dá nem vontade de sair daqui", diz a estudante de museologia Roberta Crelier, encantada com a parede roxa no fundo da sala, seu canto preferido no imóvel que ela e o marido, Felipe Lara, acabaram de comprar. Trocaram um aluguel de 1 200 dólares por uma prestação de 1 530, por trinta anos, com juros fixos. Empréstimo naquela base: só 10% de entrada e nem foi preciso apresentar comprovante de renda. "É como se você fosse comprar um computador na loja", diz Lara, que faz doutorado em composição na Universidade de Nova York. Outra brasileira, Ana Lúcia Barreto de Carvalho, 39 anos, formada em hotelaria no Rio de Janeiro, também está feliz da vida. Chegou aos Estados Unidos em 2000 e logo ficou atraída pelo mercado imobiliário. No ano seguinte, já tinha uma casa. Comprou por 68 000 dólares e vendeu por 135 000. Depois comprou outra casa por 335 000 reais e vendeu por 455 000. Chegou a adquirir três casas entre abril e outubro de 2006. Hoje é dona de dois imóveis e acha que o mercado frio é a hora de faturar. "Estou procurando outra casa, outra galinha-morta", diz ela.
SCHWARTZ deixou o Bear Stearns falido, mas nos seus catorze anos no banco embolsou mais de 160 milhões de dólares, saiu com uma indenização polpuda e seu nome ainda é disputado no mercado. O americano médio não compreende compensações tão generosas para o fracasso. Por isso, o pacote de 700 bilhões só foi aprovado com limites nos bônus pagos aos executivos de empresas que pegarem a ajuda oficial
Galinha-morta é o que James Dimon tem colecionado no mercado. Ele é o principal executivo do JP Morgan, que acaba de levar o que sobrou do Washington Mutual por menos de 2 bilhões de dólares. Antes, Dimon fez um negócio ainda mais luminoso: abocanhou a primeira grande vítima da crise, o Bear Stearns, um dos cinco maiores bancos de investimento que foram à lona em março passado, atulhado de créditos pobres. Numa sexta-feira, a ação do Bear Stearns valia perto de 30 dólares. Dois dias depois, em pleno domingo, Dimon levou o banco por 2 dólares a ação. O executivo do Bear Stearns, Alan Schwartz, fez um péssimo trabalho? No mercado financeiro, há movimentos heterodoxos. Só no período de 1993 a 2007, Schwartz embolsou mais de 160 milhões de dólares em bonificações no banco, e deixou a casa falida. Eis outro dado de estranhamento entre os príncipes de Wall Street e os ninjas da América: os bônus milionários. Num país construído na base da meritocracia, é duro engolir compensações robustas para quem foi à lona. Por isso, o socorro de 700 bilhões para Wall Street só foi aprovado depois que se criaram limites nas compensações pagas aos executivos de empresas que recorram à ajuda oficial. "A restrição às compensações financeiras não é saudável, mas é uma medida política para aplacar a ira pública", disse a VEJA Charles Elson, expert em governança corporativa da Universidade de Delaware. Pois é. Em casa onde falta pão, todos brigam e ninguém tem razão.
Quando se conversa com os personagens da crise,
percebe-se que havia uma farra em que todo mundo
– do americano sem renda nem emprego aos nababos
de Wall Street – sabia mas fingia não ver que alguma
coisa estava erradana cadeia alimentar da crise
André Petry, de Nova York
LORANCE, na foto à esquerda, começou a preparar sua aposentadoria e passou a comprar imóveis em Albuquerque, no Novo México. Gbadamassi (à dir.), nascido no Congo e morador dos EUA há onze anos, queria ser dono de todo o quarteirão onde mora. Cada um a seu modo tentava tirar vantagem da bolha imobiliária. Lorance não tem dinheiro para se aposentar. Gbadamassi já perdeu uma casa
"A minha idéia era ser dono do quarteirão inteiro."
O plano de Hamidou Gbadamassi é uma mostra das ambições desconcertantes que o mercado imobiliário americano liberou antes de explodir. Gbadamassi nasceu no Congo e, há onze anos, resolveu imigrar para os Estados Unidos. No seu primeiro trabalho, foi lavador de carros. Ganhava 3 dólares por hora. Depois, foi faxineiro de avião, até chegar a supervisor numa empresa aérea. Em 2002, Gbadamassi morava de aluguel, sua vida estava estabilizada e ele então resolveu apostar na casa própria. Em Newark, cidade próxima de Nova York, comprou um imóvel de 229.000 dólares com financiamento para pagar em trinta anos. Foi como um passe de mágica. Não teve de desembolsar um único centavo de entrada. Não teve de apresentar nem comprovante de renda. Em 2004, o mercado imobiliário seguia bombando, as casas eram bonitas e o dinheiro era fácil. Gbadamassi fez novo financiamento de trinta anos e comprou outra casa, de 485.000 dólares. No ano seguinte, fez um terceiro empréstimo e arrematou sua terceira casa, de 575.000 dólares. De casa em casa, o congolês estava erguendo seu pequeno império imobiliário. Nesse ritmo, em quinze anos, seria um barão do ramo imobiliário. Por que não?
Há um ano, o alicerce estremeceu. Os juros dos empréstimos começaram a subir e o mercado esfriou. Ninguém se interessou em comprar uma de suas casas. O único locatário que tinha decidiu se mudar. Gbadamassi, com as casas vazias e sem comprador à vista, ficou sem dinheiro para bancar os três empréstimos, cujas prestações somavam 14.000 dólares mensais. Ele é dono de uma loja de conveniência em Newark e faz bicos comprando e vendendo automóveis, mas nem de longe consegue arcar com seus compromissos. Deixou de pagar a terceira casa, que está em via de ser leiloada. "Estou 100% preocupado", diz, com semblante contraído. "O que vai acontecer em dois anos?" Quando se volta para Wall Street, o coração financeiro de Nova York e do mundo, as notícias que Gbadamassi recebe não são animadoras. "A crise está ficando cada dia pior", alarma-se. Dos 700 bilhões de dólares que o governo vai injetar em Wall Street, Gbadamassi não receberá um tostão. Ele sabe disso. E eis uma das razões pelas quais os americanos médios andam com ganas de Wall Street. Na crise, eles perdem a casa. Os nababos do mundo financeiro recebem ajuda oficial. Até quando perde Wall Street ganha.
Enquanto durou, foi farra para todo mundo. Megan Martyn é divorciada, tem 40 anos e três filhos. Recebe pensão de 750 dólares. De vez em quando, dá aula de dança do ventre e descola uns trocados ajudando na faxina de uma casa. Ela tem um perfil muito parecido com o que os americanos chamam de "ninja" (sigla para "no income, no job, no assets", ou "sem renda, sem emprego e sem bens"). Em 2002, Megan estava endividada, mas tinha uma casa centenária, de 1905, onde mora há mais de uma década. Seguiu o conselho de uma amiga e hipotecou o imóvel. Pediu 65 000 dólares. "Eles fizeram um arranjo criativo por lá", conta ela. "Na verdade, eles nem deviam ter me dado empréstimo. Eu não tenho renda, só pensão." Mas deram, e ela não se preocupou em ler o contrato direito. Queria que a prestação não passasse de 500 dólares e pensou que os juros fossem fixos. Tudo errado. Depois de dois anos, a taxa de juros começou a oscilar, já chegou perto dos 10% ao ano, e a prestação arranha a casa dos 800 dólares. Megan não paga a hipoteca desde janeiro, deve quase 10.000 dólares e teme ser despejada. Na frente da casa, uma modesta placa informa: "Vende-se". Ela quer 225.000 dólares. Em dois meses, apareceu só um casal de São Francisco. Visitou a casa e nunca mais voltou.
CASSANO chefiou em Londres uma filial da AIG, a gigante dos seguros, onde fez chover dinheiro. Era tanto dinheiro que os empregados da unidade, menos de 400, receberam 3,5 bilhões de dólares em bônus em sete anos. O paraíso de Cassano, erguido à base de operações altamente heterodoxas, começou a ruir, incinerou 25 bilhões de dólares e quase levou a AIG às portas da falência
A bolha era assim: havia uma impressão generalizada de que alguma coisa estava errada. Megan Martyn sabia que não podia pegar o empréstimo, mas pegou. Todo mundo, do americano que vive de bico ao magnata de Wall Street, aproveitou o que pôde. Alan Fishman, que construiu boa fama no mercado financeiro, entrou no capítulo final da farra – e deu-se bem. Na noite de 25 de setembro passado, Fishman estava sentado numa poltrona no vôo de Nova York para Seattle. Três semanas antes, ganhara um novo emprego. Fora contratado para dirigir o Washington Mutual, um dos mamutes do setor bancário americano. Sua missão era salvar o banco. Assinou um contrato polpudo. Entre salário, bônus, ações e gratificações diversas, receberia quase 20 milhões de dólares mesmo que sua missão fracassasse. Não teve tempo nem de falhar. Fishman só soube que o banco fora à falência e sua carcaça fora vendida por 1,9 bilhão de dólares para o JP Morgan quando desembarcou no aeroporto de Seattle, onde fica a sede da instituição. Estava sem emprego, mas 20 milhões de dólares mais rico. Pegou a bagagem na esteira do aeroporto e foi embora.
Outros foram fundo na farra, arriscando impérios de verdade. Joseph J. Cassano, 53 anos, sorrateiramente empurrou à beira da falência a AIG, a maior seguradora do mundo, com mais de 100 000 empregados em 130 países. Cassano, como chefe de uma modesta unidade da empresa em Londres, fez chover dinheiro. Ganhou tanto, mas tanto, que em sete anos sua unidade, com menos de 400 empregados, distribuiu 3,5 bilhões de dólares em gratificações. Quando o mundo começou a desabar, incinerou 25 bilhões de dólares. A diferença é que, hoje, ele mora numa bela casa de três andares na capital inglesa, pertinho da famosa loja Harrods. Ginger Lorance, 64, também apostou na farra. Faltando pouco tempo para se aposentar, fez um plano para a velhice. Com sua experiência de catorze anos como corretora de imóveis em Albuquerque, no Novo México, ela sabia que havia facilidades no mercado. Comprou um apartamento. Depois, outro. E mais um. E construiu uma casa. E depois outra. Fez empréstimos com juros fixos, mas não contou com um mercado desaquecido. Hoje os aluguéis rendem pouco, as vendas pararam. Em vez de fazer o pé-de-meia para aposentar-se, Lorance está sacando da aposentadoria para viver. "Sempre trabalhei duro, sempre tive dinheiro e fui responsável. É bizarro que eu esteja vivendo isso." Ela não faz idéia de quando poderá se aposentar.
Nas bolhas, todo mundo quer tirar sua casquinha. Alguns conseguem. Em Jersey City, a quinze minutos de metrô do sul de Manhattan, um casal de brasileiros não tem o que reclamar da crise. "Não dá nem vontade de sair daqui", diz a estudante de museologia Roberta Crelier, encantada com a parede roxa no fundo da sala, seu canto preferido no imóvel que ela e o marido, Felipe Lara, acabaram de comprar. Trocaram um aluguel de 1 200 dólares por uma prestação de 1 530, por trinta anos, com juros fixos. Empréstimo naquela base: só 10% de entrada e nem foi preciso apresentar comprovante de renda. "É como se você fosse comprar um computador na loja", diz Lara, que faz doutorado em composição na Universidade de Nova York. Outra brasileira, Ana Lúcia Barreto de Carvalho, 39 anos, formada em hotelaria no Rio de Janeiro, também está feliz da vida. Chegou aos Estados Unidos em 2000 e logo ficou atraída pelo mercado imobiliário. No ano seguinte, já tinha uma casa. Comprou por 68 000 dólares e vendeu por 135 000. Depois comprou outra casa por 335 000 reais e vendeu por 455 000. Chegou a adquirir três casas entre abril e outubro de 2006. Hoje é dona de dois imóveis e acha que o mercado frio é a hora de faturar. "Estou procurando outra casa, outra galinha-morta", diz ela.
SCHWARTZ deixou o Bear Stearns falido, mas nos seus catorze anos no banco embolsou mais de 160 milhões de dólares, saiu com uma indenização polpuda e seu nome ainda é disputado no mercado. O americano médio não compreende compensações tão generosas para o fracasso. Por isso, o pacote de 700 bilhões só foi aprovado com limites nos bônus pagos aos executivos de empresas que pegarem a ajuda oficial
Galinha-morta é o que James Dimon tem colecionado no mercado. Ele é o principal executivo do JP Morgan, que acaba de levar o que sobrou do Washington Mutual por menos de 2 bilhões de dólares. Antes, Dimon fez um negócio ainda mais luminoso: abocanhou a primeira grande vítima da crise, o Bear Stearns, um dos cinco maiores bancos de investimento que foram à lona em março passado, atulhado de créditos pobres. Numa sexta-feira, a ação do Bear Stearns valia perto de 30 dólares. Dois dias depois, em pleno domingo, Dimon levou o banco por 2 dólares a ação. O executivo do Bear Stearns, Alan Schwartz, fez um péssimo trabalho? No mercado financeiro, há movimentos heterodoxos. Só no período de 1993 a 2007, Schwartz embolsou mais de 160 milhões de dólares em bonificações no banco, e deixou a casa falida. Eis outro dado de estranhamento entre os príncipes de Wall Street e os ninjas da América: os bônus milionários. Num país construído na base da meritocracia, é duro engolir compensações robustas para quem foi à lona. Por isso, o socorro de 700 bilhões para Wall Street só foi aprovado depois que se criaram limites nas compensações pagas aos executivos de empresas que recorram à ajuda oficial. "A restrição às compensações financeiras não é saudável, mas é uma medida política para aplacar a ira pública", disse a VEJA Charles Elson, expert em governança corporativa da Universidade de Delaware. Pois é. Em casa onde falta pão, todos brigam e ninguém tem razão.
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