sexta-feira, 3 de outubro de 2008

EXCELENTE ARTIGO

José Paulo Kupfer - Crônicas da economia brasileira
26/09/2008

Até aqui, tudo bem…

Acho que estou tendo um surto de otimismo. Logo eu, que sei muito bem que o pessimista é o otimista bem informado…Pode ser que eu esteja como o otimista da anedota que, ao cair do vigésimo andar do edifício, comentou, ao passar pelo décimo andar: até aqui tudo, bem… Mas, quem sabe até não estou mais perto da verdade?

Assim como achava que John McCain acabaria indo ao debate, depois que o (pobre) golpe eleitoral de seus marqueteiros deu errado, acho também que a grana do “Plano Paulson” vai acabar saindo. A tempo, apesar do atraso.

Até Bush sacou um argumento óbvio que sustenta essa impressão. “Há divergências em torno de aspectos do plano, mas não há divergências quanto ao fato de que algo substancial tem de ser feito”, disse ele, como parte de um movimento que levou à retomada das negociações no Congresso americano, nesta sexta-feira.

Meu surto de otimismo continua na medida em que eu acho que, depois de todo o jogo político em volta do plano de resgate do mercado financeiro, ele vai sair mais arrumado e redondo do que o desenhado pelo secretário do Tesouro americano. Aquilo era simplesmente jogar dinheiro de helicóptero nos prédios dos bancos, sem qualquer contrapartida ou restrição.

Funcionaria para o objetivo básico – arrumar um pouco a bagunça e cortar alguns fios desencapados da desregulamentação –, mas o custo, sobretudo o político, aparecia como claramente excessivo. Por ironia, a bronca veio principalmente dos republicanos mais ortodoxos. Lá, como aqui e qualquer outro lugar, os períodos eleitorais são férteis em oportunismos que acabam virando as coisas de cabeça para baixo.

O mais provável, apesar de todas as idas e vindas que ainda podem ir e vir daqui até a conclusão de um acordo no Congresso, é que saia alguma coisa mais controlada – e com um tanto de dor para os que fizeram a lambança. O tamanho da dor é o está em discussão.

Esse meu otimismo, talvez algo exagerado, meu velho pessimismo obriga reconhecer, não termina por aqui, com um acordo praticamente inevitável para dar milho aos porcos nos Estados Unidos. Também não consigo enxergar a demolição da economia real que andam anunciando por aí. Aliás, em mais uma ironia, são, em grande parte, os que louvavam os “velhos tempos” desregulados os que posam, agora, de profetas mais veementes de um apocalipse logo ali na esquina.

É óbvio que reconheço haver problemas na economia americana e mundial – e haverá mais um monte deles, quando o furacão passar, inclusive a partir do déficit público nos EUA, além do monumental, que emergirá dos escombros da crise financeira. Mas também entendo que muitas das análises catastrofistas, lá e cá, estão mais para intrigas da Oposição.

Observando o mapa-múndi econômico, não consigo ver tanta tragédia em formação. É possível, por exemplo, que eu esteja pouco informado sobre a situação atual das economias asiáticas. Mas, tirando as bolsas de lá, que se encontram, como as demais, na gangorra dos pregões, não se ouve nada digno de nota sobre empresas com problemas e economias em transe. Ao contrário, o que vem do outro lado do mundo é que aprenderam com a grande crise dos anos 90 e estão relativamente firmes no meio do mar revolto. É verdade que sinais de redução no ritmo de crescimento chinês têm sido anunciados. A queda seria de 10% ou 9% ao ano para… 7% ou 8%.

Na Europa e no Japão, a novidade de uma possível recessão não é novidade. Mesmo antes da crise financeira americana, esse já era o cenário mais provável para eles. E ninguém achava que, só com isso, o mundo ia se acabar.

No Brasil, onde não era preciso ser pessimista para saber que não seria possível passar incólume aos solavancos do mercado financeiro, há até mais razões para otimismo agora do que no começo do remelexo. Se já era pouco provável que a cratera das turbulências financeiras nos tragasse tão avassaladoramente como nas vezes anteriores, a pronta ação do governo, tendo na linha de frente um Banco Central atento, ágil e surpreendentemente despido do seu característico ranço ortodoxo, colabora ainda mais para reduzir minhas angústias. Enfim, como já disseram, o melhor já passou para a economia brasileira. Mas o pior não está na linha do horizonte.

Meu resumo da conversa: lá fora, não está nada resolvido, mas antes estava menos do que agora. Aqui dentro também não está nada resolvido. Mas não está menos do que já não estava antes da crise eclodir.

A meteorologia prevê chuvas, mas não muito fortes, e temperatura amena, em todo o País. Com algum cuidado e planejamento, dá para aproveitar. Bom fim de semana.

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