quarta-feira, 15 de outubro de 2008

As ameaças que pairam sobre as empresas - Miriam Leitao

Está faltando dinheiro para muita gente e crédito, que é o oxigênio da economia. As empresas brasileiras estão enfrentando vários problemas: prejuízos na operação com o dólar no mercado futuro; falta de capacidade de financiar suas exportações; cancelamento de investimentos; suspensão de negócios; e até brigas comerciais pela redução de preços já registrados em contrato.

A loja de varejo Renner anunciou oficialmente que não vai mais comprar a Leader Magazine. A Duratex disse que adiou por seis meses os investimentos. A Inbev adiou o lançamento de ações que ela faria para comprar uma cervejaria nos Estados Unidos.

A Arcelor Mittal, que tem várias siderúrgicas no Brasil, avisou que está revendo os investimentos. A Arcelor é a maior cliente da Vale e está querendo reduzir o preço do minério estabelecido no contrato.

O presidente da Única, que reúne as usinas de cana-de-açúcar, acha que pode haver cancelamento de projetos. A empresa de Eike Batista cancelou o investimento num porto. A Votorantim também está engavetando a idéia de disputar um terminal no Rio de Janeiro. As construtoras cancelaram projetos. Dentro da cadeia produtiva, as decisões estão sendo tomadas diariamente. Isso porque a crise chegou aqui de forma abrupta, por meio do câmbio.

As grandes empresas financiavam seu capital de giro com as operações de venda antecipada de exportação. Era assim: o exportador ia ao banco com o contrato do que iria daqui a três ou seis meses, recebia os dólares antes e vendia. Com este dinheiro, ele se financiava e aplicava no mercado tendo grandes lucros. Agora, o banco não consegue mais a linha de crédito lá fora e, por isso, não faz a operação de antecipação do câmbio com a empresa.

O fluxo secou de uma hora para outra. Essas linhas de crédito caíram 80%. Além disso, as empresas têm medo da desaceleração da economia. As ações do governo não têm conseguido mudar essa situação.

Dinheirama não evita medo da recessão

Restaurar a confiança é mais difícil que injetar bilhões de dólares na economia. O problema é que injetam o dinheiro por meio dos bancos, e os bancos não passam adiante.

O presidente George Bush deveria desistir de fazer pronunciamentos dizendo que a crise vai ser vencida. A cada vez que ele fala, a Bolsa cai. Ontem Dow Jones estava subindo e caiu.

Quando o secretário do Tesouro, Henry Paulson, falou, foi para anunciar que está distribuindo bilhões aos bancos. Citibank, Bank of America, JP Morgan Chase e Wells Fargo vão receber US$ 25 bilhões cada um. Goldman Sachs, onde trabalhava Paulson, e Morgan Stanley receberão US$ 10 bilhões cada um.

Os cheques menores estão sendo distribuídos pelos bancos em compra de ações preferenciais, que não têm direito a voto. Assim, o governo americano finge que não é exatamente uma estatização.

Na Europa, o governo terá diretores dentro dos bancos. É difícil saber o que é pior: o governo entrando só com o dinheiro do contribuinte e não mandando nada ou o governo administrando bancos.

Essa dinheirama é para evitar o pânico, mas não evita o segundo maior medo: o da recessão. Ontem, várias empresas anunciaram prejuízos ou cancelamento de projetos nos Estados Unidos.

O economista que previu esta crise, Nouriel Roubini, disse que a recessão americana será a maior em 40 anos e vai durar de 18 a 24 meses. O desemprego subirá para 9%.

A origem da crise, a queda dos preços dos imóveis, vai continuar. Os preços vão cair mais 15%, calcula o economista. Nouriel Roubini acha também que o rombo no mercado financeiro terá um custo de US$ 3 trilhões.

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