sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Mundo está à beira da recessão, diz o FMI

O mundo está à beira de uma recessão e não há solução nacional para uma crise como esta, disse ontem o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn. "Cooperação e coordenação nas ações são o preço do êxito", acrescentou.

A ação mais urgente, segundo ele, é restabelecer a confiança nos mercados financeiros e a medida mais importante para isso deve ser a recapitalização dos bancos. "Não sairemos desta situação sem recapitalizar suficientemente as instituições financeiras", insistiu. (Ler abaixo artigo especial de Strauss-Khan.)

A cooperação, disse o diretor-gerente do FMI, tem de ir muito além do entendimento entre os membros do Grupo dos Sete (G-7), formado pelas maiores potências capitalistas (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá). É preciso, segundo ele, incluir no grupo mais quatro, cinco importantes atores da economia mundial. Mesmo assim, as soluções terão de valer para todos os países, "pois agora a crise envolve todo o mundo".

A ampliação do G-7 (G-8, quando a Rússia participa) é uma reivindicação do Brasil e de outros grandes países emergentes, mas o Strauss-Kahn não entrou nesses detalhes.

Ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais das sete principais potências devem reunir-se hoje no Departamento do Tesouro americano. Essa reunião ocorre tradicionalmente como evento paralelo às assembléias do FMI. Os comunicados desses encontros são, em geral, previsíveis, mas, desta vez, o assunto é a maior crise desde os anos 30.

Já houve nesta semana uma grande ação coordenada, na quarta-feira, quando bancos centrais das economias mais desenvolvidas cortaram 0,5 ponto porcentual dos juros básicos. A iniciativa, embora considerada positiva, foi insuficiente para mudar o humor nos mercados. As bolsas continuaram a fechar em queda nos últimos dois dias. Ontem, o Índice Dow Jones da Bolsa de Nova York despencou 7,3%, levando o Ibovespa novamente para baixo.

A discussão no G-7 deverá envolver propostas de ações mais ambiciosas, como os amplos programas de auxílio a instituições financeiras já aprovados nos Estados Unidos e no Reino Unido. O diretor-gerente do FMI, normalmente convidado para esses encontros do G-7, deverá insistir nas idéias de recapitalização, recolhimento de ativos podres (já autorizado pelo Congresso americano) e garantias para os depositantes.

Haverá pressão, provavelmente, sobre a maioria dos membros da União Européia e sobre o Japão. Dentre os europeus, só o governo do Reino Unido tem acompanhado mais ou menos de perto a ação mais ampla desenvolvida pelas autoridades americanas.

Ontem, Strauss-Kahn cobrou cooperação principalmente dos governos da Europa, insistindo num ponto já tocado por outros dirigentes do FMI. Mas ele demonstra ambicionar um papel mais amplo para o FMI. Esta crise, insistiu, não será resolvida só com os instrumentos monetários e fiscais. Os governos terão de usar também instrumentos financeiros. O Fundo, segundo ele, é a única instituição internacional capaz de trabalhar com os vínculos entre os setores financeiro e real.

No sábado, o espetáculo será mais amplo, com a reunião extraordinária, marcada para as 18 horas, do Grupo dos 20 (G-20), formado por grandes economias desenvolvidas e emergentes. A convocação do encontro foi sugerida pelo secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, presidente do grupo neste ano.

Além dos membros do G-7, o G-20 inclui Brasil, África do Sul, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, China, Índia, Indonésia, México, Rússia, Coréia do Sul e Turquia. A União Européia também é representada como bloco.

Os ministros do Brasil e de outros emergentes poderão reclamar da crise causada pelas instituições financeiras do mundo rico e cobrar ações corretivas, mas a turbulência internacional afeta seus países de forma diferenciada. Apresentam graus diferentes de vulnerabilidade nas contas externas e diferentes níveis de inflação e de solidez nas contas públicas.

Para o Brasil, comentou Strauss-Kahn, a crise terá como principal conseqüência a redução do crescimento, de 5,2% em 2008 para 3,5% em 2009, segundo a estimativa contida no Panorama Econômico Mundial divulgado no dia anterior.

Nenhum país está imune à crise, repetiu o diretor-gerente do FMI, "mas o Brasil tem fundamentos fortes, a política econômica foi administrada corretamente nos últimos anos, um monte de reservas foi acumulado e a economia do País está em boa forma".

Bem mais complicada que a dos emergentes é a situação dos países pobres, em geral importadores de alimentos e, em muitos casos, também de petróleo. É a "outra crise", segundo a expressão de Strauss-Kahn.

O presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, tratou principalmente da situação desses países, na entrevista concedida também ontem na sede do FMI. Em julho, numa reunião do G-8, lembrou Zoellick, ele mencionou o duplo impacto sofrido pelos países em desenvolvimento - a alta de preços do petróleo e da comida.

"Agora, o golpe é triplo - comida, combustível e finanças - ameaçam não só derrubar as pessoas pobres, mas mantê-las no chão", disse Zoellick. Aos países mais pobres e sujeitos a dificuldades maiores, o Fundo já oferece ajuda financeira e assistência técnica, por meio de um programa especial, lembrou Strauss-Kahn, e continuará a oferecer enquanto se prolongarem os efeitos da crise.

Esses países foram atingidos principalmente pelo aumento dos preços de produtos básicos e sua situação ainda é grave, mesmo com o recuo das cotações dos produtos agrícolas e do petróleo. E os pobres, lembrou Strauss-Khan, são os primeiros a ser afetados pela inflação.

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