sábado, 4 de outubro de 2008

ANDRE PETRY - REVISTA VEJA

Sarah Palin, o erro

" Sarah Palin está preparada para presidir
os EUA? As pesquisas dizem que não. Dá para
entender. Quando abre a boca, Sarah Palin
faz Bush parecer um Sócrates"

Sarah Palin é um fenômeno estrondoso, raro. Quando compareceu à convenção republicana, roubou a cena, hipnotizou a platéia e levantou John McCain nas pesquisas eleitorais. Os comícios republicanos, que sempre tiveram mais espaço que gente, começaram a lotar. Ela é um sucesso na Wikipédia (6 milhões de consultas no seu verbete em um mês) e no YouTube (4,5 milhões de acessos a um vídeo em que é satirizada por uma comediante). Na quinta-feira, Sarah ficou frente a frente com o veterano democrata Joe Biden, no primeiro e último debate entre candidatos a vice. Sua presença fez a audiência disparar. Nunca um debate entre vices chamara tanta atenção. Sarah Palin é um fenômeno estrondoso, raro.

E sua escolha pode ter sido o erro fatal de McCain.

Primeiro, porque o que interessava aos republicanos era transformar a campanha num plebiscito sobre o democrata Barack Obama. Era o que estava acontecendo. Quando Sarah entrou em cena, com seu carisma e exuberância, mudou a dinâmica da disputa. Obama deixou de ser a novidade, o jovem, o negro. Também havia, do outro lado, uma novidade, uma jovem, uma mulher. Parecia bom para os republicanos. O problema é que, ao se colocar no centro do palco, deslocando a atenção plebiscitária de Obama, Sarah jogou luz sobre si mesma. E aí começa o outro aspecto do erro de McCain: quanto mais o eleitor conhece Sarah Palin, menos confia nela.

Depois de sua aparição nacional, 45% achavam-na despreparada para, eventualmente, virar presidente. Na semana passada, eram 60%. Os republicanos esperneiam. Dizem que há uma campanha da imprensa para desqualificá-la (soa familiar?). Numa entrevista, Sarah não soube dizer qual é a importância de governar o estado americano (o Alasca) mais próximo da Rússia. Não soube mencionar uma decisão da Suprema Corte da qual discorde, além da que legalizou o aborto nos anos 70. Com tamanho potencial autodestrutivo, seria preciso orquestrar uma campanha para desqualificá-la? Do debate, Sarah saiu elogiada porque seu desempenho não foi desastroso, e não dizimou a candidatura de McCain, como alguns republicanos temiam. É divertido um candidato ser aplaudido porque não deu vexame.

Sarah Palin entrou na chapa de McCain com dois objetivos. Um era atrair o voto feminino de democratas e independentes insatisfeitas com a derrota de Hillary Clinton – o que ela não conseguiu. O outro objetivo era energizar os republicanos da direita religiosa que torciam o nariz para McCain – o que ela conseguiu. O problema é que o eleitor começou a levá-la a sério. E começou a perguntar: além de tentar cabalar o voto feminino e açular os instintos mais regressivos da direita religiosa, Sarah está preparada para presidir os EUA em caso de morte ou renúncia do titular?

As pesquisas mostram que a resposta majoritária é não. Dá para entender. Quando abre a boca, Sarah Palin faz o presidente George W. Bush parecer um Sócrates.

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